Hoje no Largo do Chafariz de Dentro topei com um amigo que não via há anos. Apareceu do outro lado da rua caminhando ao meu encontro. Estava diferente, o cabelo em carapinha, bem pretinho, uns bons dois palmos estendidos para o céu, mas com uma faixa prateada, a toda a volta, na base. Seu sorriso era aberto, alvo, feliz, lembrou-me o de Gustavo Dudamel; e a pele do seu rosto era rosada, brilhante, bonita – podia ver cada poro, tão perto estávamos um do outro.
Lembro-me perfeitamente de me ter sentido incomodado com o seu inesperado rejuvenescimento.
Depois, subindo por uma ruela cheia de obstáculos, que eu não sabia se tinha saída, deparei com um animal enorme, assemelhado a cão, na forma, e a lagarto, na pele, mas do tamanho de um cavalo, embora mais magro. Quando o avistei, ele estava no topo da rua distraído com qualquer coisa, mas depois virou-se e correu na minha direção. Enorme como era, não demorou um segundo a alcançar-me. Tinha a pele cor de laranja, com manchas pretas, e uma cabeça semi-humana, uma cabeçorra que ficou a milímetros de mim, com as ventas achatadas e as orelhas curtas e espetadas, em forma de “V”. Só tive tempo de pegar num enorme pau (na verdade era mais uma tábua de soalho) e colocá-lo em riste. Meu coração batia forte. Ao ver isto, a besta bufou, deu meia volta e desapareceu numa viela.
Uff!!! Acordei atordoado, ainda com estas imagens claríssimas no meu cérebro. Se eu soubesse desenhar construiria figuras perfeitas e detalhadas quer do meu amigo, quer deste magnífico animal. Mas fiquei apenas sentado na cama, esfregando os olhos, pensando com os meus botões em como é vasto e rico o mundo dos sonhos. Todos os dias lá vamos pegar peças tão nítidas, reais e fantásticas, que fazem corar de inveja a mais pura imaginação. O curioso é que tanto os sonhos quanto a imaginação recorrem à realidade para montarem as suas narrativas. Só que enquanto a imaginação o faz construindo e reconstruindo essa realidade, os sonhos apresentam-nos um filme instantâneo, a cada momento. Mais ou menos como dividirmos 3557 por 43 utilizando um lápis ou uma máquina de calcular.
E agora fiquei com algo na cabeça – que será feito do meu amigo?
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Foto de Dudamel copiada de http://content.time.com/time/magazine/article/0,9171,1655434,00.html
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Todos os dias sonho…com isto aquilo mas nunca encontro o fim do sonho. Provavelmente até nisso não me encontro ou não encontro sei lá. A busca é constante, corro, corro desesperado na busca daquilo que não encontro….nem os contornos do mesmo consigo descrever, fico feliz por aqueles que até a sonhar conseguem descrever o caminho do sonho ou do seu sonho….