Dois romances excelentes sobre o século da barbárie

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Nos últimos quinze dias embrenhei-me nas (no total, quase mil) páginas destes dois romances históricos, baseados em rigorosas pesquisas, por parte dos seus autores, respetivamente, o britânico Martin Amis e o cubano Leonardo Padura. O primeiro narra-nos a vida de três personagens, em Auschwitz, e, o segundo, as peripécias que envolveram a morte de Trótski, perpretada pelo catalão Ramón Mercader. Como pano de fundo, respetivamente, nazismo e estalinismo, os dois regimes totalitários da história da Humanidade e da história do século XX.

O que há de comum nestes dois regimes? Em primeiro lugar, ambos se baseiam em profecias, em doutrinas que apregoam um destino histórico (aquilo que Popper apelidou de historicismo). Em segundo lugar, ambos apostam na destruição da capacidade dos indivíduos pensarem por si mesmos, na coletivização da sociedade, no seio da qual o indivíduo é apenas uma peça numa engrenagem; um anónimo, sem ambições ou vontade, dentro da massa social.

Sem direito a pensar, cada indivíduo executa cegamente o que dele se espera – inclusive matar ou morrer – e deixa de ter vida pessoal. A despersonalização acaba por acontecer, de facto. E só quando a grande massa da população alcança esse estádio se atinge igualmente aquilo a que podemos chamar de Estado totalitário.

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As nossas edições:

  • “A Zona de Interesse”, Martin Amis, Editora Quetzal, 1ª edição, Lisboa, 2015.
  • “O Homem que Gostava de Cães”, Leonardo Padura, Porto Editora, 1ª edição, Lisboa, 2011.

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