António Victorino d’Almeida

Vitorino d’Almeida percorre o país a dar pequenos espetáculos em dimensão, enormes em conteúdo. Estamos a falar de um génio, felizmente ativo e disponível para nos deslumbrar, ainda, aos 83 anos. Gostávamos de o ver mais vezes, mas os que dirigem os grandes meios de comunicação social deste país não o merecem.

Compositor, maestro, pianista, escritor, realizador, autor e apresentador de programas televisivos e radiofónicos, comunicador fascinante, António Vitorino d’Almeida completa hoje 83 anos.

Quem souber que ele vai estar por perto vá ao seu encontro, e não perderá o seu tempo ao escutá-lo. É daqueles seres que irradia cultura, ou seja, riqueza verdadeira. Seja qual for o lugar ou a ocasião.

O Fado do Campo Grande que aqui deixamos foi composto por Vitorino d’Almeida, tem letra de Ary dos Santos, e foi cantado originalmente por Carlos do Carmo, em casa deste, onde os três se encontravam. Um trio etilista porque, ao que parece, estavam todos bêbados. Depois de criarem o fado saíram e sentaram-se no lancil da Avenida da República, onde um homem os viu, parou o carro e os conduziu, um por um, a casa. Provavelmente nunca mais viram esse senhor e, mesmo que vissem, claro, não o reconheceriam.

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Alfama – uma canção

Amália foi uma cantora de dimensão mundial, ao nível dos melhores intérpretes de todos os géneros musicais.

Muitas músicas foram compostas e interpretadas tendo como referência Alfama – fados, sobretudo. Um deles – “Igreja de Santo Estevão” – interpretado por Fernando Maurício, poderia ser o escolhido por muitos, se tivessem de optar por uma canção para Alfama; os Madredeus lançaram nos anos 90 uma bela canção, precisamente, “Alfama”, digna também de uma representação musical do bairro; “O Barco vai de Saída” (“adeus ó cais d’Alfama”), de Fausto Bordalo Dias, é um tema belíssimo e muito animado que se coaduna com a tradição marítima do bairro, e poderia ser escolhido, também; várias marchas populares poderiam igualmente representar (provavelmente da forma mais bairrista entre todas) a nossa querida Alfama…

Eu, porém, escolhi uma composição, uma letra e uma interpretação que me pareceram as melhores. E um local também. A composição é de Alain Oulman, a letra de Ary dos Santos, a interpretação da grande Amália e o local Tunes, na Tunísia. Não teve influência na minha opção, mas é de realçar o facto de Ary dos Santos ter vivido muitos anos na Rua da Saudade, nos arrabaldes do bairro; e a escolha de um país árabe, como palco desta fabulosa interpretação (como todas) de Amália, é  carregada de simbolismo.

Como não podia deixar de ser, o tema em questão intitula-se “Alfama” – e é arrebatador.

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