Mahé, Seychelles

Port Victoria, capital das Seychelles, na ilha de Mahé, onde se concentra mais de 3/4 da população.

Se alguém quiser procurar na Terra os lugares mais próximos do Paraíso vai ter que visitar as Seychelles. Constituído por 115 ilhas, este país está dividido em seis grupos (de ilhas) principais: Aldabra, Farquhar, Alphonse, Amirantes, Coral do Sul e Grupo Central. Neste encontram-se as ilhas maiores: Bird, Denis, Praslin, La Digue, North, Silhouette e também a maior de todas, Mahé, onde fica a capital, Victoria, em homenagem a uma rainha inglesa que, tal como a atual, Isabel II, se manteve no trono do Reino Unido por mais de 60 anos.

As Seychelles têm três línguas oficiais – inglês, francês e crioulo – e a maioria da população é católica (76,2%), convivendo pacificamente com anglicanos e membros de outras igrejas protestantes, mas também com muçulmanos, hindus e bahá’is. Ao contrário das Maldivas, que têm o islamismo como religião oficial, as Seychelles são um país muito mais livre, aberto, com uma cultura rica e diversificada. E enquanto as Maldivas são ilhas pequenas e planas, as Seychelles têm um pouco de tudo, incluindo ilhas de dimensão assinalável, com montanhas que atingem os 905 metros de altura. Além disso têm ricas flora e fauna autóctones.

Depois do sol se pôr, na praia de Yarrabee, junto a uma pequena aldeia de pescadores no norte de Mahé.

As Seychelles não têm população indígena. Os portugueses, aquando da segunda viagem de Vasco da Gama à Índia, foram os primeiros europeus a chegar às Seychelles, em 15 de março de 1503, não tendo, porém, permanecido em nenhuma das ilhas. Assim, os primeiros colonos foram fazendeiros franceses, que levaram consigo escravos africanos, e também alguns indianos do sul, que para aqui viajaram por volta de 1770. Após uma longa disputa entre a França e a Grã-Bretanha, as Seychelles ficaram sob o domínio deste país em 1814. A partir daqui desenvolveu-se uma economia baseada na agricultura, cuja mão-de-obra era importada principalmente das colónias europeias na África. A independência chegaria apenas em 1976. Após um golpe de estado em 1977, o país tornou-se num estado socialista de partido único, mas posteriormente adotou uma nova constituição e, em 1993, realizaram-se eleições livres, mantendo-se as Seychelles, até hoje, uma república aberta e democrática, dentro dos padrões ocidentais. É o país com o mais elevado PIB per capita do continente africano e o segundo com maior índice de desenvolvimento humano, depois das Maurícias.

A população moderna das Seychelles é composta por descendentes de colonos franceses e britânicos, por africanos e por comerciantes oriundos da China, da Índia e do Médio Oriente, que se estabeleceram nas três ilhas principais, sobretudo em Mahé, mas também em Praslin e La Digue. É a população mais reduzida entre todos os países africanos (cerca de 96.500 indivíduos), sendo também o país mais pequeno em área terrestre. Muito dependente do turismo, que representa 55% do PIB, o país desenvolve também atividades económicas nas áreas das pescas (sobretudo de atum), das energias renováveis e em pequenas indústrias relacionadas com produtos agrícolas específicos, como o coco, as frutas tropicais e a mandioca. De salientar que 85% do território é constituído por florestas.

Em Beau Vallon, a praia mais badalada das Seychelles.

Uma dessas grandes áreas florestais integra o Parque Nacional de Morne, bem no centro da ilha, onde se ergue uma montanha luxuriante que nós subimos e descemos da costa leste, onde o mar é mais agitado e impróprio para banhos, para a costa oeste, onde o mar é calmo e as praias paradisíacas. Além disso, percorremos de carro todo o perímetro da ilha. No nosso primeiro dia em Mahé visitámos a capital, Victoria, e depois começámos a circundar a costa no sentido contrário ao dos ponteiros do relógio, chegando ao fim da tarde à praia mais conhecida das Seychelles, Beau Vallon, onde pudemos banhar-nos e contemplar o seu famoso pôr do sol. Esta praia é muito badalada e, espalhados pelo extenso areal, encontrámos turistas de inúmeras nacionalidades. Às quartas-feiras, a partir da tarde, ocorre em Beau Vallon uma feira de artesanato e gastronomia, com barraquinhas de produtos locais, “comes e bebes”, música e muita animação. Por sorte, no dia em que estivemos ali era precisamente uma quarta-feira, pelo que pudemos assistir a esta enorme mescla de sons, sabores, cheiros e cores próprios das festas tropicais. Não ficámos na feira até muito tarde porque nas Seychelles conduz-se à inglesa, as estradas são deveras estreitas, os condutores circulam incrivelmente depressa e era a primeira vez que conduzíamos um carro com o volante à direita, pelo que, à noite, teríamos que redobrar os cuidados.

Lá viemos pela mesma estrada, a North Coast Road, agora em sentido contrário, até Victoria. O mais difícil quando não se está habituado a conduzir pela esquerda, sobretudo em estradas muito estreitas, é calcular as distâncias, especialmente as do lado contrário ao do condutor. Para agravar a nossa condição, as estradas das Seychelles não têm bermas pelo que a Fla me alertava constantemente de que o carro circulava demasiado perto do abismo…

Anse Etoile.

No dia seguinte, bem cedo, ainda o sol não tinha nascido, decidimos então cruzar a ilha em direção à costa oeste, tomando a estrada entre Victoria e Saint Sauci-Port Cloud (conhecida por estrada Saint Sauci), subindo e descendo o Morne, parando aqui e ali para contemplar as lindas vistas que se alcançam lá de cima. À medida que se sobe pela montanha, a humidade e a neblina aumentam, e a água escorre pela estrada; a floresta é densa, exuberante, praticamente virgem.

A primeira paragem que fizemos foi no local (Património Mundial pela UNESCO) onde foi construída a Missão de Venn, hoje em ruínas. Este foi o lugar escolhido pela Sociedade Missionária da Igreja para fundar uma escola (1876-1889) destinada a acolher os filhos dos escravos libertados. O último grupo destes escravos desembarcou nas Seychelles em 1875. O assentamento (do qual hoje só restam ruínas) era constituído por dois edifícios principais (os dormitórios de meninos e meninas), várias casas, banheiros, cabanas para trabalhadores, oficina, depósito e uma casa para o mestre-escola e a sua família.

O Parque Nacional Morne Seychellois, fundado em 1979, alberga uma diversidade de animais e plantas que não se encontram em nenhum outro lugar do mundo. Além da variedade de plantas exóticas nativas (incluindo várias espécies de palmeiras) existe também uma importante diversidade de espécies animais únicas. Entre elas a menor rã do mundo (sooglosus), que se relaciona com uma espécie ancestral descoberta recentemente nas montanhas da Índia; e também algumas aves, como a coruja-do-mato das Seychelles (otus insultis), que só se encontram aqui.

No Parque Nacional Morne Seychellois.

Em 1972, a Rainha Isabel II e seu marido, o Duque de Edimburgo, visitaram Venn’s Town e inauguraram um edifício de observação, com vista espetacular sobre uma das encostas do Morne e o mar. Para chegarmos a essas instalações temos de passar, a pé, por um caminho ladeado por árvores da espécie pterocarpus indicus, plantadas por volta de 1880.

Retomando a estrada principal, e já quase no fim da descida para Port Glaud, encontrámos uma fábrica de chá que é simultaneamente um museu – a Tea Factory – fundada em 1962. As vistas sobre a costa oeste da ilha são deslumbrantes. Neste miradouro, fruindo do ar fresco da montanha, podemos degustar um chá e descobrir como o mesmo é produzido, enquanto antevemos um mergulho numa das praias magníficas que daqui se avistam.

No nosso caso, essa inevitabilidade teria de ocorrer num lugar muito especial e esse lugar especial teríamos de o descobrir nós mesmos – foi o que decidimos ali. Mas por enquanto não passava das 7 da manhã. Nesta viagem madrugadora os animais que tínhamos visto pelo caminho eram de várias espécies, mas humanos não víramos nenhum.

Grande Anse.

Enfim chegámos à costa oeste da ilha. O nosso plano era subirmos um pouco pela costa para depois voltarmos para trás e circundarmos toda a ilha, pelo sul, até Victoria, mais uma vez no sentido contrário ao dos ponteiros do relógio, para não perdermos praticamente nenhum ponto da costa, excetuando a zona costeira do Parque Nacional, sem acesso por estrada, tal como acontece na pequena zona costeira do extremo sul da ilha. E assim fizemos. Depois de atingirmos Port Launey, situado numa baía que serve de abrigo a embarcações de recreio, voltámos para trás pela West Coast Road. As praias vão-se sucedendo e nós parámos em muitas: Grande Anse, Anse Boileau, Anse Louis e, finalmente, após uns 3 kms e uma descida final, íngreme e de terra batida, a Anse Soleil. O acesso mais difícil chamou-nos a atenção e, mal a vimos, soubemos que seria ali que nos iríamos banhar. Trata-se de uma praia linda, calma, rodeada de vegetação, com uma água azul-turquesa simplesmente irresistível.

Quando chegámos a praia ainda estava vazia e o pequeno bar de madeira, com um delicioso terraço sobre o mar, ainda estava fechado. Só depois chegaram algumas pessoas. Paz, harmonia e beleza, eis o que se sentimos aqui.

Anse Soleil.

Cerca de duas horas depois, ainda o sol não tinha atingido o seu ponto mais alto, saímos da Anse Soleil. Este é um daqueles locais especiais, difíceis de esquecer. Muito mais que a badalada Beau Vallon, Anse Soleil é a nossa praia preferida de Mahé.

Prosseguimos o nosso trajeto em torno da ilha, passámos por outras praias. Baie Lazare, ainda na costa oeste, Anse Baleine, Anse Royale e Pointe au Sel, já na costa leste, em direção a Victoria. Pouco depois, seguindo a East Coast Road, circulámos paralelamente ao aeroporto, e eis que entrámos finalmente numa estrada larga (que aqui parece uma autoestrada) que segue até à capital. Depois de entregarmos o carro demos uma volta pelo mercado local, comprámos alguns souvenirs, passeámos pelo centro da cidade, preparámo-nos para a despedida. Mahé permanecerá nos nossos corações.

O nosso itinerário em Mahé.

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