O salário mínimo no Brasil

inflaçao

Foi anunciado ontem o aumento de 11,7% do salário mínimo, que passará dos atuais 788,00 para 880,00 reais em 2016. Como é hábito no Brasil, trata-se de mais uma medida para agradar a gregos e troianos (leia-se população em geral – sobretudo, potenciais eleitores do PT – e governo). Os primeiros ficam satisfeitos porque acham que o seu poder de compra vai crescer e o segundo porque vê a sua imagem sair um pouco melhor desta conjuntura de final de ano.

Mas o que é mais impressionante não é a imprudência do povo e a medida populista do governo. O que impressiona mesmo é a falta de conhecimento de comentadores e economistas, pessoas (supostamente) instruídas e especializadas em assuntos económicos. É que, realmente, um aumento demasiado substancial do salário mínimo pode não ser vantajoso para ninguém. Parece um contrassenso, mas é fácil de esclarecer. O Brasil é um país com inflação elevada e crónica. Ora, esta medida irá contribuir para o aumento da inflação no país pelos seguintes motivos.

1- Os empresários, para fazerem face ao aumento dos custos vão aumentar os preços dos bens e serviços, repassando o ónus desta medida do Governo para o consumidor. Isto quer dizer que o aumento do salário vai ser “comido” pelo aumento dos preços.

2- Sendo o salário mínimo um valor de referência, outros salários vão aumentar proporcionalmente, ou, o mais provável, mais que proporcionalmente, criando o efeito de “corrida aos armamentos”, através de mais aumentos dos preços, e novos aumentos dos salários, e assim sucessivamente, continuando e reforçando o processo inflacionário.

3- Os reajustes salariais vão contribuir para o aumento dos gastos do Governo, que já está endividado, aumentando igualmente a pressão para que se mantenham os impostos altíssimos e/ou se crie mais moeda. Mais moeda implica duas coisas: desvalorização e inflação.

Estas são as três consequências básicas e previsíveis. Para que este impacte inflacionário não seja desastroso o que podem fazer o Governo e o Banco Central? Por um lado, cortar nas prestações sociais para diminuir a despesa pública e, por outro, manter altíssimas as taxas de juro, prejudicando a economia, mantendo o Brasil com taxas de investimento medíocres. Estas medidas piorarão as condições de vida dos brasileiros em geral, sobretudo dos mais pobres. Como se sabe, a inflação é sobretudo um flagelo para a população mais desfavorecida, pelo que a propaganda do Governo e medidas como o reajuste do salário mínimo são opções de “fim de linha”, agravando um problema que deveria ser evitado a montante. Com a inflação alta, os únicos beneficiários são os ricos, pelo que o dever principal de um Governo dos trabalhadores deveria ser o de controlar a inflação. Isso deveria fazer-se com aumentos progressivamente menores, que dessem um sinal de combate à inflação, e não com aumentos populistas de sinal contrário, os quais mostram que o Governo se preocupa sobretudo com ele próprio e não com as pessoas. Como pano de fundo deste cenário está o protecionismo, ou seja, o fechamento da economia brasileira ao mundo, a tentativa de proteger a sua economia que resulta, por falta de concorrência, numa ineficiência crónica. (Podem ler mais sobre o assunto aqui e aqui).

Infelizmente, o que prevalece no Brasil continua a ser a propaganda generalizada. As regras da economia são negligenciadas e o povo, desconhecendo-as, não tem como se defender, pelo contrário, luta pelo que só agrava a sua própria condição.

Mais um paradoxo num país paradoxal.

——————————

Imagem retirada de forum.antinovaordemmundial.com

——————————