Kusadasi e Éfeso, Turquia

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A cidade de Kusadasi preparada para os festejos do Dia Nacional da Turquia.

Os Turcos são um povo diversificado. Oriundos da Ásia Central, misturaram-se com os nativos árabes e mediterrânicos, acabando por se tornarem mais um dos povos do Médio Oriente, com características físicas semelhantes aos demais. O Império Otomano existiu por mais de 600 anos, antes da República Turca, fundada em 1923 por Ataturk, após a Grande Guerra, na qual o Império Otomano participou ao lado dos impérios alemão e austro-húngaro (podem ver artigo sobre este conflito aqui), e o Tratado de Versalhes, cujos termos definiram o que vencedores e vencidos ganharam e perderam.

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Kusadasi ao anoitecer.

Guiados por Ataturk, os turcos tiveram de lutar contra gregos, franceses e britânicos para manterem o atual território. Já tinham perdido toda a Península Arábica,o Egito, a Palestina, a Síria, a Tripolândia, as inúmeras ilhas ao longo da costa mediterrânica da Anatólia, etc., por imposição das potências vencedoras da Grande Guerra. Ataturk conseguiu a união das forças militares turcas, salvou o essencial do território e fundou a República. Mas, mais importante do que tudo isso, separou e Estado da religião e, desta forma, transformou a Turquia num estado moderno.

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O Constellation, navio onde viajámos, acostado em Kusadasi, cidade turca do mar Egeu.

Infelizmente, hoje, a Turquia está dividida, face à atuação de governos de cariz islâmico, que rejeitam o legado de Ataturk e não agradam à metade ocidental da população. Este desvio tem tido graves consequências, e as tentativas violentas de tomada do poder são já uma tradição na Turquia. Uma fação, igualmente religiosa, que apoiava o atual governo, tentou há poucos meses um golpe de estado mas saiu derrotada. A consequência foi uma purga enorme, que levou à prisão mais de treze mil pessoas – militares, advogados, professores, médicos, jornalistas, entre muitos outros.

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O gorila do Constellation observa o magnífico céu turco.

A Turquia tem problemas graves nas suas fronteiras e para além delas, (talvez o mais grave com os curdos), e as políticas prosseguidas têm provocado tensões com vários inimigos tradicionais do país: gregos, russos, arménios, sírios e israelitas, entre outros. Esta pouca habilidade diplomática é em larga medida a principal causa das reações violentas no interior do território, e a Turquia vive um período de grande instabilidade que prejudica fortemente a sua economia, sobretudo aquela que era a sua segunda maior indústria, depois dos têxteis – o turismo. O número anual de turistas estrangeiros decresceu de 40 para 14 milhões, mais ou menos o mesmo que recebe Portugal, um país minúsculo quando comparado com a imensa República da Turquia.

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O Templo de Adriano, em Éfeso.

Este decréscimo verifica-se sobretudo na parte ocidental do país, em Istambul e nas cidades costeiras mais viradas para o turismo, como Izmir, sobretudo, mas também Kusadasi e Éfeso, que visitámos. Evidentemente, muitos povos passaram por aqui antes dos turcos se instalarem. Alexandre, o Grande, anexou este território e os romanos vieram depois. Éfeso foi fundada pelos gregos, mais concretamente por Lisímaco, cerca de 1000 anos antes de Cristo, mas foi durante o período romano que atingiu seu maior esplendor, tendo sido declarada, em 133 a.C., capital da província romana da Ásia e albergando cerca de 400.000 habitantes.

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A biblioteca de Celso.

A cidade foi também muito importante, durante o período cristão e a principal comunidade das Sete Igrejas da Ásia Menor. Dois dos primeiros grandes concílios da Igreja Católica (431 e 449 d.C.) tiveram lugar em Éfeso, sendo que no primeiro deles foi confirmado o dogma da maternidade da Virgem Maria e a dupla natureza de Jesus Cristo, como Deus e como homem. A população era constituída na sua maioria por pessoas ricas e cultas. Esta região, que inclui Éfeso e Mileto, foi a terra natal de muitos filósofos, entre eles os pré-socráticos e ilustres Tales e Heráclito. Nesta época, Éfeso foi talvez “a cidade mais ilustre de toda Ásia” e por aqui passaram Alexandre, o Grande, Cleópatra e a Virgem Maria, bem como os apóstolos São João e São Paulo.

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A coluna que resta do Templo de Artemisa.

A cidade, que nesta época estava localizada junto a um porto fluvial, a cerca de uma dezena de quilómetros do mar, começou a perder a sua importância quando o rio Cayster assoreou. A cidade era bem maior que o espaço que visitámos, apenas um dos quatro pólos que a constituíam, embora este seja, sem dúvida, o melhor preservado. Entre muitas ruínas, encontramos também edificações num excelente estado de preservação, entre eles, o Portão de Adriano, a Biblioteca de Celso e o Grande Teatro, além de ágoras, fontes, banhos e vias revestidas por pedras de mármore ali colocadas há mais de 2.000 anos. O local onde foi erigido o Templo de Artemisa fica por perto, mas apenas existe uma coluna visível do antigo templo, considerado, vá lá saber-se por quê, uma das sete maravilhas do mundo.