São Miguel das Missões

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O que resta da igreja de São Miguel.

São Miguel das Missões, antigo povoado de São Miguel Arcanjo, integra-se no chamado território missionário, uma vasta zona que inclui parte dos atuais Paraguai, Argentina, Uruguai e Brasil. As aldeias, fundadas pelos jesuítas espanhóis,  chamavam-se Reduções[1] e, das trinta que foram criadas, podemos encontrar sete no Brasil: São Miguel, Santo Ângelo, São Nicolau, São João Batista, São Lourenço, São Luís Gonzaga e São Francisco de Borja – os Sete Povos das Missões, situados na margem oriental do rio Uruguai.

O que ainda resta da Igreja de São Miguel, cuja construção se iniciou em 1735, bem como o Museu das Missões, erguido na área da antiga Redução, em 1940, estão classificados como Património Mundial, pela UNESCO, desde 1983. San Ignacio Miní, na Argentina, e Trinidad, no Paraguai, são outras Missões classificadas como Património Mundial. Todas elas se situavam, no início das construções, na província jesuítica do Paraguay, território pertencente à coroa espanhola. [2]

Apesar do abandono a que foi votada durante muitos anos e aos saques de que foram alvo as Missões no decorrer da Campanha Cisplatina, a Igreja de São Miguel é a única, das três classificadas como património mundial, que mantém a fachada completamente preservada. O projeto da igreja, em estilo barroco tardio, é atribuído ao arquiteto jesuíta Gian Battista Primoli e foi, provavelmente, inspirado na igreja central da Ordem dos Jesuítas, a Igreja de Gesú, em Roma.

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Onça pintada e coruja. Os índios ganham algum dinheiro vendendo artesanato aos poucos turistas que visitam São Miguel das Missões.

No museu podemos encontrar esculturas, a maioria em madeira, reunidas pelo seu primeiro zelador, Hugo Machado, que muitas vezes se apresentou como beato, para as conseguir recolher das mãos de particulares, constituindo, este conjunto, a maior coleção pública missioneira. Há obras de escultores europeus, mas a maior parte foi executada pelos índios guarani, como se pode comprovar pelos traços dos rostos, pelos detalhes dos cabelos, pelas vestes, etc. [3]

Ainda hoje os guarani continuam esculpindo a madeira, como tivemos oportunidade de comprovar, em toda a região. A uma linda menina guarani compramos, em São Miguel da Missões, duas miniaturas – uma de onça pintada e outra de coruja.

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[1] Reduções, precisamente, por reduzirem o espaço de circulação dos índios ao território da Missão.

[2] Só em 1801 os sete Povos das Missões foram conquistados pelos luso-brasileiros e, desde então, fazem parte do Rio Grande do Sul. Os territórios da América do Sul foram sempre muito disputados pelas coroas portuguesa e espanhola e, em 1750, através do Tratado de Madrid, ficaram quase completamente definidas as fronteiras atuais do Brasil, com grande vantagem para os luso-brasileiros, que perdiam Colónia del Sacramento, no atual Uruguai, cidade fundada pelos portugueses, em1680, na margem esquerda do Rio da Prata, mas ganhavam os sete Povos das Missões e, no fundo, todo o Rio Grande do Sul, todo o atual estado se Santa Catarina e ainda a Amazónia e mais alguns territórios que estavam na parte espanhola definida pelo Tratado de Tordesilhas, revogado pelo Tratado de Madrid. O rio Uruguai seria a fronteira entre Brasil e Argentina.Tratado tão desvantajoso não foi bem aceite pelos espanhóis e novos tratados foram firmados. Em 1761, o Tratado de El Pardo, que estipulava o regresso à situação anterior a 1750, e, em 1777, o Tratado de Santo Ildefonso onde foram criados os “campos neutrais”, faixa de terra onde nenhum dos impérios teria jurisdição. Era esta a situação dos sete Povos das Missões, território neutro, em 1801, quando os luso-brasileiros, a pretexto da guerra que a Espanha declarou a Portugal, por pressão dos franceses (invasões napoleónicas da Península Ibérica), decidiram conquistá-los.  José Borges do Canto, filho de pai açoriano e mãe de Colónia del Sacramento, e Gabriel Ribeiro de Almeida, filho de português e índia, que viviam na zona, falavam o idioma guarani e conheciam bem os índios, foram os homens a quem geralmente é atribuída a conquista das Missões, para o que contaram com a colaboração de um pouco número de homens e dos próprios índios guarani. Tratou-se, portanto, de uma conquista local. Sobre estes episódios pode ler-se o excelente texto de Elisa Frühauf Garcia, aqui:

[3] Fonte: Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Brasil).

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Cataratas do Iguaçu/Iguazú (Brasil/Argentina)

O volume de água que cai a cada segundo é assombroso. Chega a atingir 11,3 mil metros cúbicos.

O primeiro europeu a chegar às Cataratas do Iguaçu foi o espanhol Álvar Núñez Cabeza de Vaca, no século XVI. Situadas na zona onde os jesuítas fundaram as missões, um território vasto, onde viviam índios dos atuais Paraguai, Brasil e Argentina, as Cataratas do Iguaçu são constituídas por mais de 250 quedas de água, o que lhes confere o título de “maiores do mundo”.

É possível subir o rio de barco e tomar um banho debaixo de uma das quedas de água.

Foi precisamente aqui que foi rodado grande parte do filme, “A Missão” (1986), com realização do britânico Roland Joffé, interpretações de Jeremy Irons, Liam Neeson e Robert de Niro, e música do grande Ennio Morricone [1].

As cataratas de Iguaçu são o maior conjunto de quedas de água do planeta.

As Cataratas de Iguaçú estão classificadas como Património da Humanidade e são uma das sete maravilhas da natureza. O som da água tombando ouve-se a grande distância e, quando chegamos suficientemente perto,  ficamos encharcados pela água que vem com o vento. Para além dos passeios a pé, vale a pena fazer uma viagem de barco pelo rio Iguaçu e tomar um duche gigante debaixo de uma das quedas de água. Isso é possível fazer, tanto do lado brasileiro quanto do argentino. Os passeios pelo rio são muito idênticos e bastante divertidos. Na moeda europeia, ao câmbio atual, o preço a pagar por pessoa rondará os 25 euros.

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Natureza em estado puro.

Os parques naturais (argentino e brasileiro) estão muito bem organizados e estruturados, proporcionando bons serviços ao visitante. Ali bem perto podemos também visitar uma das maiores barragens do mundo, Itaipu, no rio Paraná, entre o Brasil e o Paraguai, e também o local da união entre aquele rio e o Iguaçu, onde se observam, em cada um dos lados do “T”, os três países: Brasil, Paraguai e Argentina.

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Deste lado a Argentina, em frente o Brasil, à esquerda o Paraguai.

As cidades de Puerto Iguazú (Argentina), Ciudad del Este (Paraguai) e Foz do Iguaçu (Brasil) distam entre si apenas alguns minutos de carro e valem também uma visita, a primeira pela boa carne argentina, a segunda pela possibilidade de fazer compras baratas, e a terceira por ser um polo de acesso a toda a região, com boas pousadas, como seja a Pousada do Alemão, onde nos hospedamos nesta segunda visita às Cataratas.

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[1] Aqui fica o registo de uma interpretação do tema principal da banda sonora de “A Missão”, dirigida pelo próprio Morricone. Belíssima.

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