Sardenha

Baunei, a nossa base na Sardenha.

A Sardenha é uma ilha espetacular, multifacetada, com praias magníficas, montanhas, rica gastronomia, bom vinho e uma cultura ancestral. Apesar de fazer parte da Itália, a Sardenha tem uma identidade própria, com uma história e uma língua singulares. Uma língua – o sardo – que se divide em dois dialetos principais: o logudorês, no centro-norte, e o campidanês, a sul, sendo que o primeiro tem ainda três variantes. Mas quanto a dialetos, pelo menos, existem mais três: na cidade de Alghero, no noroeste, fala-se catalão; em Carloforte e Calasseta, no extremo sudoeste, um dialeto originário da Ligúria; no norte, em La Madallena, Gallura, Sassari e na zona costeira de Anglona, fala-se gallura e sassarese, por influências italiana e toscana. Finalmente, claro, fala-se italiano, a língua oficial.

Esta diversidade linguística pressupõe, como seria de esperar, uma grande diversidade cultural. De facto, desde os tempos do Paleolítico que a Sardenha é visitada por humanos e desde o Neolítico antigo, há cerca de 6000 anos, que é permanentemente ocupada. Os primeiros homens que se fixaram em Gallura e na parte mais setentrional da ilha provinham provavelmente da península italiana, particularmente, da Etrúria; os que povoaram a parte central da Sardenha, em torno das lagoas de Cabras e Santa Justa, procediam da Península Ibérica, através das ilhas Baleares; e os que se instalaram na zona do Golfo de Cagliari eram oriundos de África. Mais tarde chegariam outros grupos, vindos da Anatólia e do Mar Egeu.

Assim, é justo dizer que a Sardenha nunca foi composta por um único povo, mas sim por muitos.

Recanto em Santa Maria Navarrese.

Estes povos mantiveram-se politicamente divididos, umas vezes confederados, outras vezes em guerra uns contra os outros. Ao princípio as tribos viviam em aldeias constituídas por casas circulares, de pedra com tetos de palha, e a partir de 1500 a. C. começaram a construir as aldeias junto a fortalezas posicionadas estrategicamente em zonas elevadas para melhor avistarem os inimigos. Estas fortalezas, de forma cónica, reforçadas e ampliadas com torres de vigia, chamavam-se nuraghes. Ainda se encontram hoje, na Sardenha, cerca de 7000.

Por volta do ano 1000 a. C., os fenícios começaram a visitar cada vez mais frequentemente as costas da Sardenha para se abrigarem durante a noite ou em ocasiões de mau tempo. Em 509 a. C., a expansão dos fenícios para o interior da ilha era já demasiado ameaçadora e profunda, provocando uma reação violenta dos sardos, que atacaram as cidades costeiras onde os fenícios se haviam instalado, obrigando-os a pedir ajuda a Cartago.

Punta Predalonga.

Foi então que os cartagineses ou púnicos, em distintas campanhas militares, venceram os sardos e conquistaram toda a Sardenha, exceto a parte montanhosa, mais tarde chamada de Barbaria ou Barbagia. Durante 271 anos, a esplêndida civilização cartaginesa confrontou-se com a fascinante civilização nurágica indígena. Porém, em 238 a. C., os cartagineses, derrotados pelos romanos na Primeira Guerra Púnica, foram obrigados a ceder a Sardenha, que se tornou uma província de Roma. A ocupação romana durou 694 anos e, apesar das lutas que frequentemente os sardos travavam, atingiu a própria Barbagia, acabando com a civilização nurágica. Os romanos impuseram assim, apesar da resistência, a língua e civilização latinas.

Em 456, quando o império romano se encontrava já em plena decadência, os vândalos de África ocuparam Caralis (Cagliari) e as demais cidades costeiras da Sardenha, mas em 534 os vândalos foram foram derrotados, perto de Cartago, pelas tropas do imperador Justiniano, e a Sardenha passou a ser bizantina. A ilha foi dividida em distritos e o cristianismo difundiu-se, exceto na Barbagia onde, em finais do ano 500, se formara um novo e efémero estado independente, com tradições religiosas e laicas sardo-pagãs, do qual Ospitone foi um dos soberanos. Os quatro distritos, chamados merèie, eram governados por um judex residente em Caralis.

Francisco passeando por Tortolì.

Desde 640 até 732 os árabes ocuparam o Norte de África, Espanha, Portugal e parte de França, e em 827 empreenderam a conquista da Sicília. A Sardenha permaneceu isolada e teve de defender-se por si mesma. Os ataques dos árabes começaram em 703 e tornaram-se mais ferozes com o decorrer do tempo. O judex provinciae, para melhor defender a ilha, delegou os seus próprios poderes civis e militares aos seus quatro lugar-tenentes das merèie de Cálari, Torres, Gallura e Arborea que, em 900, conseguiram a sua independência, tornando-se eles próprios judices (em sardo judikes, ou seja, reis) desses territórios.

Cada reino tinha fronteiras, parlamento, leis (Cartas de Logu), línguas nacionais, emblemas e símbolos estatais próprios; e cada um destes quatro estados – comummente chamados giudicati – era um reino não apenas soberano mas igualmente democrático, porque todas as importantes decisões nacionais não cabiam ao rei, mas aos representantes do povo reunidos num parlamento chamado Corona de Logu.

Cala Goloritzè.

Em 1297, o papa Bonifácio VIII, para resolver diplomaticamente a Guerra das Vésperas, que havia estalado em 1282 entre angevinos (reino de Nápoles) e aragoneses pela posse da Sicília, instituiu por motu proprio um “regnum Sardiniae et Corsicae” outorgando-o, como feudo, ao catalão Jaime II, “o Justo”, rei da coroa de Aragão (uma união real formada pelos reinos de Aragão e Valência, mais o Principado da Catalunha), prometendo-lhe o seu apoio, se este quisesse conquistar a Sardenha, em troca da Sicília.

Em 1323, Jaime II de Aragão aliou-se aos reis de Arborea e, ao cabo de uma campanha militar que durou cerca de um ano, conquistou os territórios da Cagliari e de Gallura bem como a cidade de Sassari formando um estado com o título e nome de reino de “Sardenha e Córsega”, incorporado posteriormente à coroa de Aragão, sob o governo de um lugar-tenente do rei, primeiro, governador-geral e depois vice-rei. As cidades de Cagliari, Iglesias e Sassari pagavam os seus tributos diretamente ao rei e, por essa razão, tinham o título de reais; por seu lado, as aldeias estavam sob o regime de feudo e portanto pagavam tributo aos barões locais.

Descansando um pouco em pleno Parque Nacional do Golfo de Orosei e do Gennargentu.

Em 1353 estalou a guerra entre o reino de Arborea, que pretendia reunir a ilha sob o seu domínio, e o reino de “Sardenha e Córsega”. Em 1354 os aragoneses apoderaram-se de Alghero, que se converteu numa cidade plenamente catalã e que mantém, ainda hoje as suas tradições ibéricas. Em 1355, Pedro IV de Aragão permitiu a criação no reino de “Sardenha e Córsega” de um parlamento com poder legislativo e de um Real Conselho de Justiça com poder judicial

Em 1409, Martinho I, o Jovem, rei da Sicília e herdeiro de Aragão, derrotou os sardos giudicali en Sanluri e conquistou definitivamente toda a Sardenha, morrendo pouco depois de malária, em Cagliari, sem deixar descendentes, tendo a sucessão da coroa de Aragão sido determinada pelo Compromisso de Caspe de 1412, passando assim para as mãos dos castelhanos. Em 1479 nasceu a coroa de Espanha, através da união pessoal entre Fernando II de Aragão e Isabel de Castela (chamados de “Reis Católicos”), que se haviam casado dez anos antes. E o reino da Sardenha (agora separado da Córsega, pois esta ilha nunca fora conquistada) tornou-se espanhol, com o símbolo statuale dos Quatro Mouros.

Conquistando a Barbagia, o coração da Sardenha.

Depois de fracassadas as expedições militares contra os muçulmanos em Tunes (1535) e Argel (1541), Carlos V fortaleceu as costas da Sardenha com uma série de torres-vigia para defender os seus territórios mediterrânicos das incursões corsárias dos berberes africanos. O reino da Sardenha permaneceu ibérico durante quase 400 anos, desde 1324 até 1720, absorvendo muitas tradições, costumes, expressões linguísticas e modos de viver espanhóis que se podem observar ainda hoje nos desfiles folclóricos de Santo Efísio, em Cagliari (1º de maio), da Cavalcata, em Sassari (penúltimo domingo de maio) e do Redentore, em Nuoro (29 de agosto).

Em 1708, devido à Guerra de Sucessão espanhola que opunha Filipe de Bourbon a Carlos da Áustria, o governo do reino da Sardenha passou para as mãos dos austríacos, que haviam desembarcado na ilha. Em 1717, o cardeal Alberoni, ministro de Filipe V de Espanha, voltou a ocupar a Sardenha. Em 1718, através do Tratado de Londres, o reino da Sardenha foi entregue aos duques de Saboia, príncipes do Piamonte que o juntaram, sob a forma federativa, aos seus estados continentais. O reino italianizou-se.

Um jantar memorável.

Em 1799, devido às guerras de Napoleão em Itália, os Saboia abandonaram Torino refugiando-se, durante uns 15 anos, em Cagliari, capital do reino. Em 1847, os sardos renunciaram espontaneamente à sua própria personalidade de Estado e fundiram-se com o Piamonte para terem, assim, um único parlamento, uma única magistratura e um único governo em Torino.

Em 1848 começaram as guerras independentistas para alcançar a unidade política da península italiana dirigidas pelos reis da Sardenha durante 13 anos. Em 17 de março de 1861 o Reino de Sardenha mudou o seu nome para Reino de Itália. Finalmente, em 1946, através de um referendo popular, o Estado italiano constituiu-se como República e, em 1948, a Sardenha garantiu uma autonomia especial, com as suas quatro províncias de Sassari (norte), Oristano (oeste), Nuoro (leste) e Cagliari (sul), as quais remarcam com alguma aproximação os quatro antigos e gloriosos estados giudicali.

Esta introdução histórica, talvez demasiado longa, tem como fonte o livro de Francesco Cesare Casula indicado no fim deste artigo.

Cale dei Gabbiani.

Tal como a história da Sardenha, também a nossa visita à ilha foi bastante atribulada. O nosso voo tinha uma escala em Barcelona, mas uma tempestade nesta cidade, nesse preciso dia, provocou atrasos em inúmeros voos, incluindo o nosso, fazendo com que milhares de pessoas perdessem os voos de ligação programados. Para complicar ainda mais as coisas, três das malas que transportávamos desapareceram, ficando três, dos cinco que viajávamos, sem muda de roupa. Finalmente, face ao elevado número de pessoas em situação idêntica à nossa, os hotéis em Barcelona estavam esgotados, pelo que nos levaram num autocarro para um hotel a uns 100 quilómetros de distância, já muito perto da fronteira com a França, aonde chegámos de madrugada, cansados e desiludidos. Passadas três horas tivemos de acordar (os que conseguiram dormir alguma coisa) para regressarmos ao aeroporto, desta vez num táxi que, dada a confusão gerada (as pessoas que foram no mesmo autocarro para o hotel tinham voos diversificados) tivemos de lutar para apanhar, pois havia outro grupo pretendente (os taxistas só sabiam o número de pessoas que vinham buscar, e a que hora, não tinham nenhuma indicação sobre a identidade dos passageiros). A nossa sorte foi que, em desespero – um de nós era uma criança de ano e meio que um dia antes de viajar tinha ficado doente – nos atirámos para dentro do táxi e nos recusámos a sair… E lá fomos para o aeroporto, sem dormir, sem roupa e sem a certeza de que apanharíamos o avião para Cagliari, pois a distância era longa e teríamos de atravessar a região de Barcelona para chegarmos ao aeroporto, e estava um trânsito monumental. Mas lá conseguimos. As três malas é que teimavam em não aparecer…

Francisco com os seus novos amigos – o cão de salvamento “Arturo” e Gianni Scanu – na Cale dei Gabbiani.

Chegámos assim à Sardenha um dia depois do previsto. O carro que tínhamos previamente alugado já não estava disponível. Tivemos que alugar outro carro, pagando o dobro e perdendo o valor total do aluguer do anterior veículo, que já tínhamos pago. Enfim, lá fomos no nosso carro novo em direção a Baunei, onde alugáramos alojamento, mas antes parámos em Cagliari para comprar alguma roupa, pois três de nós só tínhamos a que trazíamos vestida há muitas horas. Apesar de tudo, quando nos fizemos à estrada íamos animados, com a sensação de que o pior já teria passado. E tínhamos razão. Instalados na nossa casa de Baunei fizemos um spaguetti com carne para o jantar, acompanhado por um vinho branco da Sardenha, que nos souberam divinalmente.

No dia seguinte acordámos revigorados e fomos dar uma volta pelas redondezas. Descemos a Santa Maria Navarrese, uma pequena e agradável vila com porto de recreio, posto de turismo, praias, restaurantes e outros serviços, e visitámos a Punta Pedralonga, um local onde, como o nome indica, se formou uma enorme rocha, em forma de ponta de lança, apontada ao céu. À tarde deslocámo-nos a Tortolì, uma cidade maior, com muito comércio, onde aproveitámos para, com tempo, comprarmos mais alguma roupa que nos fazia falta. Dois dias após a nossa chega à Sardenha, as três malas continuavam sem aparecer.

São inúmeras as pequenas praias escavadas nas rochas do Golfo de Orosei.

Baunei, a pequena vila onde nos instalámos, fica no topo de uma montanha, mesmo ao lado do Parque Nacional do Golfo de Orosei e do Gennargentu, instituído em 30 de março de 1998. Gennargentu é um maciço que inclui vários picos, entre eles o mais alto da ilha – Punta la Marmora, 1834 metros acima do nível do mar. Aos pés desse alto maciço encontram-se algumas das praias mais bonitas da Europa. Estas praias são de difícil acesso, escavadas na rocha, mas isso, apesar de representar algum perigo, só as torna mais exclusivas e tentadoras. Cala Goloritzé é uma delas. Quem quer visitá-la por terra só pode fazê-lo a pé, caminhando por mais de 3 horas (ida e volta). Nós quisemos. E valeu a pena. Trata-se de uma praia pequena mas incrivelmente bonita, rodeada pela montanha escarpada, e por uma água azul-turquesa de agradável temperatura. Depois de descermos e subirmos por caminhos de pedra solta, carregando o Francisco, sentimos que o nosso terceiro dia na Sardenha estava mais que preenchido. Só restava regressar a Baunei, comer e… dormir.

No quarto dia da nossa estadia decidimos ir para Norte. Seguimos a SS 125, atravessámos o maciço, passámos por Urzulei (a zona da antiga Barbagia) e iniciámos a descida para Orosei. Aqui chegados fomos até à praia para darmos um mergulho e nos refrescarmos um pouco. Pouco tempo volvido reparámos num rapaz que, caminhando pela praia, envergava uma camisola do Sporting e, claro, fomos falar com ele. Para nossa surpresa era um irlandês, casado com uma sarda (dito assim tem a sua a sua piada…), e a camisola do Sporting tinha-lhe sido oferecida por um amigo conterrâneo que vivera em Lisboa. É comum acontecerem coincidências agradáveis a quem viaja, somos testemunhas disso, e este irlandês, por solidariedade clubística, que sempre ajuda, aconselhou-nos um restaurante, situado na montanha, para jantarmos.

Regressando da nossa visita por mar ao Golfo de Orosei.

Bom, na verdade não se trata apenas de um restaurante, mas mais de uma quinta de agroturismo que também serve refeições. Para obterem autorização de exercício de atividade, pelo menos 80% do que é servido no restaurante tem que ser produzido na quinta. Escusado será dizer que comemos e bebemos com plena satisfação. Regressámos a Baunei quando a noite já ia adiantada, debatendo sobre o que fazer no dia seguinte. Soubemos que em Santa Maria Navarrese faziam passeios marítimos e decidimos ir lá ver.

No dia seguinte, já no porto de recreio de Santa Maria Navarrese disseram-nos que poderíamos alugar uma embarcação a motor e passearmos pela costa por nossa conta, sem necessidade de guia. Pareceu-nos uma ótima ideia e, depois de comprarmos alguns mantimentos para a viagem, embarcámos em mais esta aventura. Com o embalar da ondulação, o Francisco adormeceu durante uma boa hora, ou mais. Fomos navegando junto à costa, observando as escarpas, as grutas, as pequenas praias, os diferentes tons do mar… Parámos em frente à praia da Cala Goloritzè, arriamos ferro e, um por um, fomos mergulhando no mar magnífico. O Francisco, por seu turno, continuava mergulhado no sono. Quando nos apeteceu, levantámos ferro e seguimos. Até que encontrámos uma praia com acesso pelo mar (o que é proibido na Cale Goloritzè), e decidimos ir até lá. O Diogo manobrou para que pudéssemos sair do barco, com o Francisco, em segurança, foi depois estacioná-lo onde é permitido, e veio a nado ter connosco.

Outro amigo sardo que aceitou posar connosco por troca com o colega que estava a tirar a fotografia.

A praia chama-se Cale dei Gabbiani (em tradução livre: praia das Gaivotas) e é, sem dúvida muito bonita, embora não tenha areia, antes calhaus provenientes das rochas. Depois de comermos travámos conhecimento com um senhor da Proteção Civil da Sardenha – Gianni Scanu – que se fazia acompanhar por um belo cão de salvamento, equipado a rigor, o Arturo. Estes cães, muito bem treinados, são extremamente dóceis, e o Francisco rapidamente fez amizade com o Arturo.

(Soubemos recentemente que uma das raças a que a Guarda Costeira italiana mais recorre é o cão d’água português, dada a extraordinária apetência destes cães para tarefas no mar. O próprio Gianni tem agora um cão d’água chamado Pancho. Estes cães são muito admirados pelos treinadores e instrutores da Escola Italiana de Cães de Salvamento. Um artigo sobre o cão d’água português pode ser lido no nosso blogue em https://ilovealfama.com/2013/10/08/cao-de-agua-portugues/).

Ao fim da tarde regressámos a Santa Maria Navarrese, inteiros, incluindo o barco. Apesar de o tempo não ter ajudado muito, fora um passeio memorável. Aquela zona da costa, junto ao maciço de Gennargentu, é de uma beleza singular. Tivemos o privilégio de visitar as suas praias, por terra e por mar. E por conta própria.

Ir a Itália e não comer pizza é como ir a Roma e não ver o papa. Na praia de Orrì.

A nossa estadia na Sardenha estava a chegar ao fim. No dia seguinte teríamos de rumar a Cagliari para os voos de regresso, desta vez via Madrid. Mas antes de terminarmos, queremos deixar uma palavra ao acolhedor povo de Baunei: o senhor do talho que já nos cumprimentava quando passávamos à sua porta; as moças do minimercado sempre atenciosas e disponíveis; as jovens da gelataria onde comprávamos os sorvetes com leite de cabra; e mesmo as velhinhas vestidas de preto que víamos nas ruas de Baunei. Sempre nos rodearam de simpatia.

Assim, no nosso último dia de viagem, às 11 da manhã, saímos da casa que durante seis dias (deveriam ter sido sete) habitáramos em Baunei. Não percorremos diretamente os 150 quilómetros até Cagliari, fizemos uma paragem em Tortolì para almoçarmos. Quando estávamos a chegar a Tortolì, recebemos uma chamada da dona da casa que alugáramos, dizendo que tinha à porta um funcionário de uma transportadora que nos queria entregar umas malas… As malas! No último dia na Sardenha, quando já nem sequer estávamos na morada indicada, chegaram as três malas perdidas! In extremis. Pedimos então ao senhor da transportadora que nos entregasse as malas em Tortolì. E assim se fez. Metidas todas as malas no carro, lá rumámos à capital da Sardenha para apanharmos o avião de regresso, desta vez sem peripécias de maior.

Cagliari vista do avião na hora da despedida.

A Sardenha é uma ilha fantástica e só conhecemos uma parte muito pequena dela, ainda que uma belíssima parte. Ficou a vontade de voltarmos. Veremos se se concretizará um dia. Até lá ficam as recordações de uma viagem cujo registo aqui realizado tem mais de ano e meio de atraso. A nossa estadia na Sardenha deu-se entre 12 e 17 de junho de 2019, iniciando-se um dia depois do previsto.

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A nossa edição: Historia de Cerdeña, Francesco Cesare Casula, Carlo Delfino Editore, Sassari, 2000.

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