A prova do bilhete

Um bilhete eletrónico da Air France e um bilhete eletrónico da TAP. No primeiro vemos rapidamente o que nos interessa — o código de reserva, as datas de viagem, os horários, a bagagem contratada — no segundo não há qualquer destaque destes elementos básicos, perdidos numa sopa de letras.

**************************************************

Pedro Nuno Santos, o promissor delfim do PS, prepara-se para concorrer à liderança do partido em 2026 “seja contra quem for” (capa do Expresso, última edição). Ambicioso, convencido (tem os tiques, o ar altivo e a plasticidade de José Sócrates) e aparentemente competente, PNS levou os comentadores encartados, a imprensa em peso e os muitos atónitos cidadãos a uma espécie de idolatria com o seu regresso à Assembleia da República.

Este retorno triunfal deve-se quase exclusivamente ao desempenho de PNS perante a CPI à gestão da TAP, que muitos consideram ter reabilitado completamente o antigo ministro. Para lá das conclusões preliminares da CPI — que, na mesma edição do Expresso, o economista Luís Marques considera “um verdadeiro manifesto contra a propriedade pública de empresas, principalmente as que operam em sectores sujeitos à concorrência” — em que PNS é ilibado de qualquer ação suspeita, além do seu aval à polémica indemnização a Alexandra Reis, vejamos que papel teve, de facto, PNS enquanto responsável máximo do ministério que tutela a TAP.

Em primeiro lugar, Pedro Nuno Santos defendeu com unhas e dentes o resgate financeiro da TAP, alegando que a companhia é indispensável ao país, social e economicamente. Mas tal como o deputado Carlos Guimarães Pinto tantas vezes esclareceu, se a TAP falisse, outra companhia ocuparia o seu espaço, certamente com muitas empresas nacionais a prestarem os habituais serviços complementares. Com isso poupar-se-iam milhares de milhões de euros ao erário público (os portugueses já enterraram mais de 3,2 mil milhões de euros na TAP).

Em segundo lugar, Pedro Nuno Santos argumenta que, tal como Portugal, todos os estados apoiaram financeiramente as suas companhias aéreas. Mas esquece-se de referir que o apoio de Portugal é, em percentagem do Orçamento de Estado, mais de quatro vezes superior ao de qualquer outro país, e que várias companhias aéreas internacionais já ressarciram os respetivos estados pelo apoio prestado, o que não se verifica e ninguém acredita que se venha a verificar em breve em Portugal.

Em terceiro lugar, sob a tutela política de PNS, a TAP continuou a prestar um serviço péssimo aos seus clientes.

Vejamos o caso simples, mas sintomático, de um bilhete eletrónico. A TAP, ao contrário das outras companhias aéreas, não consegue apresentar um bilhete eletrónico facilmente legível (ver imagem). O bilhete eletrónico da TAP é um amontoado de caracteres que o cidadão comum tem dificuldade em compreender. Se durante 3 anos PNS não teve a capacidade nem a sensibilidade para alertar os gestores da companhia para algo tão simples e necessário como atualizar um bilhete eletrónico, que capacidade e sensibilidade terá para resolver as coisas mais prementes que atormentam o povo português?

Mas, para lá do bilhete eletrónico, os viajantes portugueses da TAP sabem que, embora a tenham financiado generosamente, continuam a contar com um péssimo serviço: viagens caríssimas, opacidade na relação com o cliente, reclamações sem resposta, indemnizações tardias, greves, atrasos crónicos nos voos de longo curso. E nada disto foi resolvido durante a tutela de PNS.

Pedro Nuno Santos é o ideólogo de uma ala do PS próxima da esquerda mais radical. Manipulador (lembremo-nos que mentiu comprovadamente no “caso Alexandra Reis”) e antiliberal, tem uma conceção estatizante da política e da economia. Extremamente convencido, PNS é um homem de convicções fortes e de grandes causas, mas falta-lhe o sentido prático e a sensibilidade para as coisas concretas que podem melhorar a vida das pessoas.

Dizem-nos que é inteligente, e talvez seja. Mas de que serve ao povo uma grande inteligência, prisioneira de uma ideologia qualquer?

**************************************************