Portugal, Costa da Caparica, arte xávega

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A arte xávega consiste numa técnica específica da pesca de arrasto, na qual a rede é puxada de terra, antigamente à força de braços, hoje por meios mecânicos. Da mesma forma, as embarcações que dantes eram puxadas pelos remos dos homens a bordo, hoje são movidas a motor.

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O barco tem de passar a zona de rebentação para se afastar, 1 500, 2 000 e às vezes ainda mais metros, e fazer o “cerco”, regressando à praia com uma das pontas do cabo que, de imediato, começa a ser puxado. Este tipo de pesca pratica-se ao longo de toda a costa portuguesa e o termo “xávega”, que deriva do árabe e quer dizer “rede”, era usado apenas no Sul de Portugal, acabando, por necessidade de unificação, de se estender ao Norte do país, onde o mar é mais alteroso e os barcos, consequentemente diferentes, com a proa muito mais alta, própria para cortar as vagas.

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A maior tranquilidade do mar, a Sul, nem sempre é real, sendo a pesca pela arte xávega uma atividade arriscada onde quer que ocorra, como prova o acidente de há 50 anos na costa alentejana, mais propriamente em Santo André, onde pereceram dezassete homens, que puxavam a rede, em terra, atingidos por uma onda gigante. Devido a essa tragédia não mais se praticou a arte xávega naquela praia. [1]

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Na Costa da Caparica, porém, são muitas as embarcações que todos os dias se fazem ao mar, fazendo várias viagens de ida e volta (lances) na esperança de uma boa pescaria. Claro que um bom lance acontece quando o peixe mais valioso, que é também o mais raro, é aprisionado na rede (robalo, linguado, sargo, etc). As espécies são variadas, sendo as mais comuns a cavala e a sardinha, logicamente, as de menor valor comercial. A sardinha da Costa da Caparica, muito grande, é de qualidade inferior, não sendo a mais indicada para grelhar no carvão – a forma como os portugueses, sobretudo no verão, adoram comê-la. Ao invés, o carapau é de excelente qualidade.

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Dizem que a melhor sardinha – talvez o peixe mais popular, em Portugal, a par do bacalhau – é pescada no Algarve (Sul) e em Matosinhos (Norte). Talvez. Seja como for, assistir ao pôr-do-sol, comprar peixe fresco aos pescadores e assistir à gritaria e ao esvoaçar das gaivotas é um ritual – e um espetáculo! – que repito, várias vezes, ano após ano, nos fins de tarde cálidos, no verão, na Costa da Caparica.

Nota:

[1] http://expresso.sapo.pt/santiago-do-cacem-homenageia-17-pescadores-que-morreram-durante-a-faina-ha-50-anos=f777780