Humberto Correia

Humberto Correia já iniciou a corrida que espera vencer em 2026.

Natural de Moncarapacho, viveu em França e viajou por vários países, até que regressou ao Algarve, onde vive atualmente. Depois de se ter candidatado à Câmara de Faro, decidiu dar um salto de gigante e, aos 62 anos, está a angariar assinaturas para se candidatar à Presidência da República, em 2026. Encontrámo-lo no coração de Faro, no Jardim Manuel Bivar, junto à banca onde expõe os seus quadros e vários exemplares do livro autobiográfico, traduzido em várias línguas, “As Pulgas da Minha Infância”. Foi aí que nos concedeu a pequena entrevista que se segue, entrecortada por abordagens aos transeuntes para angariação de assinaturas.

Humberto Correia (HC): Para conquistar uma assinatura eu tenho de abordar entre 30 a 50 pessoas!

ilovealfama (ila): É a média…

HC. É uma média…

ila: Tanto?

HC: Ah, pois! Mas as assinaturas eu vou conseguir. E com um ano de avanço! Já alcancei os 3/4 [das 7500] mas quero chegar às 10 mil para ter margem suficiente. Tenho de conseguir uma média de 150 assinaturas por mês. Então, no dia 15 de janeiro tenho de chegar às 6000 assinaturas. Hoje eu cheguei às 5850. Tenho que manter o objetivo de angariar 150 assinaturas por mês, no mínimo.

ila: Algumas podem ser anuladas, não é? Podem estar incorretas…

HC: Não é só isso. As pessoas assinam duas folhas que é a declaração de proponente e um pedido de certidão de eleitor e eu depois tenho que fazer de cada proponente um pedido de certidão de eleitor. Tenho que entregar no Tribunal Constitucional 24 mil folhas, 3 de cada pessoa. E então o que é que se passa? Quando é um proponente aqui de Faro, vou ali à Junta entrego o papel e uma semana depois dão-me a certidão. Mas quando é de Bragança, por exemplo? Tenho de mandar pelo correio: só o trabalho de mandar as cartas, comprar os envelopes e os selos, está a ver?

ila: Deveria ser algo que já se pudesse fazer pela internet… Isto parece estar mesmo feito para dificultar a vida a quem está fora do sistema. Bom, algumas perguntas sobre o seu trajeto — o senhor é daqui do Algarve?

HC: Eu nasci na freguesia de Moncarapacho. Atualmente estou a viver em Olhão. Tenho 62 anos e só tenho a 4ª classe. Saí da escola para começar a trabalhar aos 10 anos de idade, declarado. Andei em quatro escolas. No Pereiro, que é um sítio por cima de Moncarapacho, depois andei em Olhão, depois andei em Bias (perto da Fuzeta) e a última foi em Armação de Pêra.

ila: Ah, então terminou a escola já no Barlavento. E depois, imagino, começou a trabalhar.

HC: Exato. Entrei no mercado de trabalho em 1971.

ila: Muito novo…

HC: Era grume, carregava malas num hotel. Está a ver aqui esta fotografia? Sou eu a trabalhar com dez anos. Aqui já tenho 14 anos. E aqui neste cartão, 10 anos, está a ver?

ila: Qual era o hotel?

HC: Hotel Garbe, hoje chama-se Holiday, Hotel Holiday. Trabalhei de 71 a 72 no Hotel Carmo e uma parte ainda de 73, depois saí e fui mais para cima trabalhar no Hotel do Levante, que hoje é uma escola hoteleira. Trabalhei no Hotel do Levante em 73,74 e 75. Em 1976 fui para França. Comecei a trabalhar em França aos 16 anos numa fábrica de tripas: tripa natural e tripa artificial. Tive sorte porque estava na parte de tripa artificial, porque só o cheiro afastava muita gente!

ila: E ficou por França quanto tempo?

HC: 27 anos. Trabalhei em várias fábricas: essa de tripas, depois numa fábrica de armas, numa filial da Manufrance. Depois trabalhei numa extração de cascalho e areia, à beira de um rio; depois trabalhei a cortar perus à corrente, de 5 em 5 segundos fazia a mesma coisa, durante três anos: eles vinham e eu fazia 3 cortes; depois fui para a construção civil. Regressei definitivamente a Portugal em 2003, tinha eu 42 anos.

ila: Em relação à sua vida mais pessoal, casou, tem filhos?

HC: Casei, a minha ex-mulher é portuguesa, sou divorciado, os meus filhos são franceses, mas lusodescendentes. Tive primeiro uma filha e depois um filho. Fui pai aos 19 anos e assumi.

ila: Eles vivem em França?

HC: Sim. E estão bem, felizmente.

ila: E atualmente o que é que o senhor faz?

HC: Desde que regressei definitivamente a Portugal, dediquei-me a pintar na rua. Vivo da minha pintura há 20 anos. Só faço isto.

ila: Mas entretanto escreveu um livro…

HC: Sim, é um livro sobre a minha infância. O título do livro é “As Pulgas da Minha Infância”. Termina com a minha chegada a França.

ila: São o primeiros 16 anos, digamos assim.

HC: Exatamente.

ila: Muito bem. Mudando de assunto: quando é que o senhor teve pela primeira vez a ideia ou sentiu a vontade de se propor a concorrer à Presidência?

HC: Esta ideia já vem porque eu fui candidato à Câmara de Faro, em 2017. E a seguir às eleições fiquei tão desiludido que pensei: “as próximas é a República”. Esperei quatro anos para me preparar. Isso é preciso preparação, não é fácil…

ila: Imagino… O que é que o levou a candidatar-se?

HC: Três coisas. Primeiro, a política: em relação à minha idade, é uma excelente ocupação; segundo, somos governados por pessoas que vivem fora da realidade; e terceiro, a miséria de muita gente: as pessoas, mesmo a trabalhar, não conseguem pagar uma renda de casa. Só vou avançar com uma única proposta. Impor o cumprimento do artigo 65 da Constituição. Atualmente este é de longe o maior problema do povo português.

ila: Para além desse problema, com certeza que existem outros, mas essa, digamos, é a sua principal bandeira, é isso?

HC: Sim, quando eu falo com as pessoas eu vejo que esse é o principal problema nacional. As pessoas não fazem filhos porque não têm habitação; as pessoas emigram por causa da habitação, porque não conseguem viver aqui; os jovens ficam a morar com os pais porque não têm como pagar casa; as mulheres que sofrem violência doméstica não podem sair de casa sem terem habitação. Praticamente tudo está relacionado com a habitação, pelo menos muita coisa.

ila: Qual o seu posicionamento político-ideológico, enquadra-se nalgum pensamento ideológico?

HC: Nunca fiz parte de qualquer partido político. Mas não sou de esquerda nem de extremos.

ila: Então considera-se, talvez, do centro-direita?

HC: Por aí.

ila: Candidata-se para ganhar ou apenas para veicular as suas ideias?

HC: “Veicular” é o que eu já faço há 31 meses. Quando eu jogo é para ganhar.

ila: Há alguém que tenha influenciado o seu pensamento político ou nem por isso?

HC: São múltiplas influências. Desde logo, a comunicação com as pessoas ao longo destes 31 meses. E depois a leitura. Eu tenho lido muito sobre a História de Portugal, começando pelo inicio da nacionalidade, depois os vários períodos dinásticos, e a República. Li a História de Portugal várias vezes. Li muito o Salazar. E vou lendo tudo o que me interessa sobre a História de Portugal e a política portuguesa.

ila: Então, interessa-se sobretudo pela política nacional?

HC: Sim. E sou mais conservador que liberal.

ila: Como é que avalia os mandatos do atual presidente, Marcelo Rebelo de Sousa?

HC: O professor Marcelo vem de uma máquina partidária. E para mim os partidos políticos são farinha do mesmo saco. É por isso que eu defendo o presidencialismo e não o parlamentarismo.

ila: Um regime tipo francês, não?

HC: Exatamente.

ila: Mas você sabe que não vai ter poder para alterar a Constituição…

HC: Eu sei, eu sei.

ila: Vai ter que se cingir às regras atuais e jogar dentro do sistema vigente.

HC: Eu vou cumprir a Constituição, mas digo, desde já, que não concordo com ela. Nesse ponto.

ila: Então defenderia igualmente um sistema com duas câmaras no parlamento, à semelhança do que se passa em França e noutros países com uma câmara “alta” e uma câmara “baixa”?

HC: Isso para mim não é importante. Eu acho que há deputados a mais. A minha proposta seria a de 20 deputados, não mais.

ila: Vinte!?

HC: Vinte deputados, com o direito de destituírem o presidente. Vinte deputados — um por distrito. É com essa proposta que eu vou avançar.

ila: E depois cada deputado deve ter uma série de assessores, ajudantes, não? Para o necessário trabalho legislativo, acha que vinte deputados chegam?

HC: Há deputados a mais, há políticos a mais em Portugal. Isto é a minha opinião.

ila: Portugal já teve vários presidentes, desde a primeira República. Há algum com o qual o senhor mais se identifique?

HC: Há dois.

ila: Quais?

HC: Óscar Carmona e Ramalho Eanes. Foram dois homens que governaram em épocas muito difíceis. E conseguiram manter o país. Dedicaram-se à nação e não aos partidos políticos. Isso faz toda a diferença.

ila: Em Portugal o presidente não governa, como vimos. Mas se fosse candidato a primeiro-ministro e a governar o país, quais as 3 ou 4 medidas mais importantes que incluiria num programa eleitoral? A primeira já vimos que se dirigiria à habitação, e as outras?

HC: A segunda seria a educação. Seguiria o modelo francês. Escola obrigatória para todas as crianças a partir dos 3 anos de idade, gratuita e de qualidade. E a terceira seria plantar 500 mil hectares de floresta nativa. A destruição dos ecossistemas e as alterações climáticas vão ser o maior problema da humanidade. Na minha opinião a melhor forma de combater isso é plantando florestas. Florestas nativas, não eucaliptos e pinheiros. Seriam estas as minhas três prioridades, sendo que a habitação é, sem dúvida, a principal.

ila: Como acha que o problema da habitação poderia ser resolvido?

HC: Só há um caminho: o Estado tem que construir e alugar a preços acessíveis. Seria possível construir em três dimensões: 30m2, 50m2, 80 m2 a 3 euros o metro quadrado, o que faria no caso dos 30 m2, 90 euros mensais; no caso dos 50 m2, 150 euros mensais; e quanto aos 80 m2, 240 euros mensais. É a única solução. De outra forma as pessoas, mesmo a ganhar 1000 euros por mês, não conseguem ter uma vida decente. Aqui em Faro você não encontra uma casa para alugar a menos de 700/800 euros por mês. É por isso que somos o segundo país com a taxa de natalidade mais baixa da Europa e o quinto país mais envelhecido do mundo. Morrem três portugueses, nascem dois, e um destes dois vai emigrar. Isto é gravíssimo. Para modificar isto é preciso resolver o problema da habitação. A habitação é fundamental para o ser humano.

ila: Sente-se preparado para debater com políticos profissionais de peso que eventualmente podem também candidatar-se às próximas eleições presidenciais, como António Costa e André Ventura?

HC: Quanto mais peso melhor. São mesmo esses que eu quero enfrentar. Quanto mais peso eles tiverem melhor para mim. A rota é para cumprir, custe o que custar.

ila: Qual considera que poderá ser a sua melhor arma para combater a experiência desses potenciais candidatos?

HC: A minha experiência de vida. Eu sou parte do povo português, conheço as suas dificuldades, o seu sofrimento, os seus problemas, por isso sinto-me otimista e muito confiante.

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