Extrema-direita europeia: avanço ou recuo?

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O fenómeno não é novo, e muitos se recordarão ainda de Jean Marie Le Pen, Jörg Haider ou Christoph Blocher [1], carismáticos líderes populistas, bastante ativos no cenário político europeu, ainda antes de entrarmos no século XXI. Apesar daqueles protagonistas se encontrarem agora fora de cena [2], a popularidade de partidos, movimentos e alas de extrema-direita tem vindo a aumentar nos últimos anos, no Velho Continente, e tem sido, na esmagadora maioria dos casos, legitimada pelo voto popular.

Na Holanda, por exemplo, o Partido pela Liberdade (PVV), liderado por Geert Wilders, obteve, nas eleições de 2010, 24% dos votos. Em França, a Frente Nacional, agora liderada por Marine Le Pen, conseguiu 18% dos votos na primeira volta das últimas eleições. Na Finlândia, o Partido dos Verdadeiros Finlandeses (Perussuomalaiset) arrecadou 19% dos votos nas eleições de 2011. Na Suécia, o Partido Democrata (o nome engana, pois trata-se de um partido de extrema-direita) obteve 5,8% dos votos nas últimas eleições, conseguindo assim entrar no parlamento. Na Hungria, o partido Jobbik conseguiu 43 dos 386 lugares do parlamento húngaro e é a terceira força política do país, explicitamente antissemita, chegando um dos seus deputados, Marton Gyongyosi, a defender, em novembro último, a elaboração de uma lista com os nomes de judeus que possam representar “um risco de segurança nacional”. O Jobbik veio para ficar, tendo em conta a sua popularidade entre os jovens húngaros, especialmente os universitários [3].

As forças de extrema-direita conquistaram já o seu terreno noutros países europeus: na Alemanha (NPD – Partido Nacional Democrata), na Noruega (Partido do Progresso – do qual Behring Breivik fez parte) [4], na Áustria (FPÖ – Partido Austríaco da Liberdade), na Bélgica (Vlaams Belang), na Dinamarca (Partido Popular Dinamarquês, liderado por Pia Kjaersgaard), na Itália (Liga do Norte), na Suiça (Partido do Povo).

Na Inglaterra, para além do British National Party, tem vindo a ganhar espaço o Partido para a Independência do Reino-Unido (UKIP), cujo carismático líder, Nigel Farage, se proclama como “nem de direita nem de esquerda”, e advoga uma política de “senso comum”, colocando o UKIP, nas sondagens, à frente dos liberais-democratas, que estão no Governo em coligação com o Partido Conservador. O UKIP pretende limitar a entrada de cidadãos estrangeiros no Reino-Unido e na Europa, e as suas propostas têm tido acolhimento junto da opinião pública. Uma sondagem recente do “The Independent” mostra que, se em 2009 seis em cada dez britânicos aprovavam o livre trânsito de cidadãos na Europa, hoje são seis em cada dez que pensam o oposto. Nas eleições europeias de 2009 o UKIP conseguira o segundo lugar à frente dos trabalhistas e nas eleições locais de maio último obteve mais votos que os liberais.

Uma das consequências da implantação da extrema-direita nestes países parece ser uma inflexão à direita dos partidos conservadores, receosos de perderem votos. Nisto estão de acordo a maioria dos estudiosos do assunto: jornalistas e historiadores. E isto é corroborado também pelos factos, por exemplo, em medidas mais restritivas relativamente aos imigrantes, tomadas pelos governos europeus, como são os casos da Inglaterra, da Suiça e da Hungria, entre outros.

Face a esta realidade, qual deverá ser a reação dos governos democráticos da Europa? Os factos parecem demonstrar que a complacência dos governos favorece a implantação daqueles partidos. Era o que acontecia na Grécia. A prová-lo está o resultado mais relevante das medidas tomadas agora pelos poderes gregos, prendendo o líder do Alvorada Dourada, Nikolaos Michaloliakos, e outros membros do partido: o Alvorada Dourada, a quem as sondagens atribuíam, antes destes acontecimentos, entre 10 a 15% das intenções de voto, desceu rapidamente para os 6,8%.

Um bom exemplo é também o de Portugal. Em agosto de 2010, o tribunal de Loures condenou o líder dos Hammerskins Portugal e da Frente Nacional, Mário Machado, a sete anos e dois meses de prisão. Portugal, apesar da grave crise económica e social, é um país onde os movimentos ou partidos xenófobos não têm praticamente apoiantes e, muito menos, representatividade parlamentar. Uma sociedade tolerante não pode pactuar com a intolerância.

Parece, pois, claro que os governos e os poderes democráticos (incluindo o judicial) devem atuar energicamente para conter estes movimentos e não esperar que os mesmos se diluam por eles próprios. Numa Europa dominada pela Direita, tudo leva a crer que esta segunda hipótese coincide com a estratégia dos governos conservadores. Afinal, como vimos, os partidos extremistas permitem aos conservadores ganhar votos com inflexões à direita.

E a Esquerda – que respostas tem para apresentar-nos? Até agora, muito poucas. François Hollande, em quem muitos depositavam uma forte esperança, tem sido uma estrondosa desilusão. Não há líderes convincentes na Esquerda. E esta é também uma das razões do avanço da extrema-direita.

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[1] A propósito de Christoph Blocher, o cineasta suiço Jean-Stéphane Bron realizou este ano um filme sobre a sua vida, apresentado, em agosto, em Locarno. O título do filme é “A Experiência Blocher”.

[2] Haider morreu num acidente de viação em 2008.

[3]  http://www.publico.pt/mundo/noticia/primeiroministro-hungaro-condena-antisemitismo-mas-evita-criticas-a-extremadireita-1593482

[4] A 22 de Julho de 2011, Breivik matou 77 pessoas, a maioria jovem, e fez explodir uma bomba no centro de Oslo. Depois de ter sido preso, Breivik declarou a sua intenção de prosseguir o seu combate ideológico contra uma sociedade multi-cultural. Foi condenado a 21 anos de prisão, uma pena que poderá ser prolongada.