Giorgio Agamben

Agamben (1)
Giorgio Agamben – a sua investigação insere-se no mais puro essencialismo.

Como costumamos dizer, não devemos seguir acriticamente algumas pessoas só porque as achamos muito inteligentes e eruditas. Referimo-nos àquelas que — talvez por considerarem ter uma intuição especial, um dom natural, uma inquebrantável convicção ou um invulgar conhecimento — não têm consciência dos seus limites.

Agamben é uma dessas pessoas. Mostra-o claramente no livro A Potência do Pensamento — uma compilação de conferências e ensaios escritos entre 1979 e 2004 — onde patenteia os seus sólidos conhecimentos linguísticos, desde o grego ao alemão, passando pelo hebraico, e o seu vasto conhecimento das filosofias de autores tão esotéricos quanto ele próprio, como são os casos de Walter Benjamin, Aby Warburg, Friedrich Hölderlin, Max Kommerell e, claro, o grande Hegel, entre muitos outros. O que estes autores têm em comum é pertencerem a uma corrente da Filosofia baseada na especulação, na intuição e no misticismo, em contraste com uma outra, que tem por base a racionalidade, a experiência e o realismo.

Mais de duzentos anos depois de Kant (completamente ignorado neste livro) ter afirmado que só podemos conhecer as coisas como elas se nos apresentam e não como são em si mesmas, os magos da Filosofia fazem tábua rasa da investigação kantiana e empenham-se com afinco em conhecer, precisamente, a essência das coisas. Agamben fá-lo usando a mesma linguagem obscura, densa e esotérica dos seus amigos alemães acima citados. O que lhes interessa são objetivos metafísicos como, por exemplo, conhecer a arquê, o absoluto, a essência, o indefinido, o puro, em última instância, Deus. Como não é possível chegar a tal conhecimento através do raciocínio lógico, Agamben recorre a “uma profunda intuição” filosófica (várias vezes apresentada no livro), evidentemente, ao alcance apenas de alguns predestinados.

Na busca desenfreada de uma metalinguagem, Agamben menoriza e deplora o papel operacional das palavras, como instrumento necessário para as socialização e cultura, idolatrando os signos, transformando-os na razão da existência humana. Qual a origem do verbo? Qual a palavra, o nome do qual derivam todos os outros e todas as línguas? Como regressar à linguagem pura? “O existente puro é o que corresponde à pura existência da linguagem, e contemplar a segunda significa contemplar o primeiro”.

São problemas desta natureza, os que ocupam Agamben. A linguagem é vista como um rio e os seus inúmeros braços são as línguas deste mundo. Mas, antes do leito caudaloso, há um fio,  uma gota inicial. O que originou essa gota? De onde vem? Isso ninguém sabe, mas também não importa. Agamben continua a filosofar como nada se tivesse passado desde o tempo de Aristóteles.

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Foto retirada de http://www.zeit.de.

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A nossa edição:

“A Potência do Pensamento”, Giorgio Agamben, Editora Relógio D’Água, Lisboa, 2013.

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