Passou apenas um ano desde que diagnosticaram o primeiro caso de covid-19 em Portugal mas parece que já passaram cinco. As pessoas estão cansadas desta vida tão estranha. E, o pior de tudo, estão desesperadas por não saberem quando podem regressar à sua vida normal.
A incerteza e a impossibilidade de planeamento afetam-nos profundamente, habituados que estamos a viver em sociedades altamente organizadas.
Por outro lado, as notícias e as declarações contraditórias também não diminuem a incerteza. As pessoas temem pelo futuro, sobretudo aquelas que trabalhavam em serviços ligados à restauração, ao turismo, em estabelecimentos comerciais, em geral; e todas as que estão ameaçadas pelo desemprego, pelas insolvências, pelas perdas de rendimentos e de património, enfim, pela ruína. A questão que todos colocam é a seguinte. Quando poderemos voltar em pleno às nossas atividades?
A resposta, infelizmente, ninguém sabe, pois depende de vários fatores.
O mais importante deles prende-se com a possibilidade de variantes mais graves do corona vírus surgirem, sobretudo alguma variante que as atuais vacinas não consigam cobrir em termos de eficácia. É uma possibilidade terrível, mas está no horizonte. Já se provou que a chamada “variante brasileira”, por exemplo, é mais contagiosa e mais agressiva. E há quem fale, cada vez mais, no fechamento efetivo das fronteiras, pois já não conseguiremos controlar a pandemia apenas com confinamentos seletivos.
Entretanto, os especialistas de bancada multiplicam-se. Sabemos pouco (ou, pelo menos, não o suficiente) sobre o vírus, mas talvez por isso mesmo, ninguém se coíbe de dar palpites.
Isto conduz-nos a algo interessante. O cientista estuda, testa, reflete e, mesmo quando tem a convicção de um determinado resultado, fica na dúvida, pois sabe que pode ter-se esquecido de algum pormenor importante. O que ele mais deseja é publicar os resultados que obteve junto dos seus pares, para aferir se são credíveis ou não. Já o leigo não precisa de nada disso. Basta-lhe ter um palpite, e como sempre tem um para qualquer coisa, por vezes acerta. É assim que muitos se julgam tão ou mais inteligentes que os cientistas, chegando mesmo a negar a ciência.
No entanto, é a ciência que salva vidas; é a ciência que permite esta civilização, apesar de tudo, fantástica que temos; e é à ciência que devemos este feito espantoso de termos milhões de vacinas disponíveis menos de um ano depois do aparecimento dos primeiros casos de covid-19.
A ciência não é infalível e o seu campo de ação está sempre a aumentar, pelo que os problemas científicos nunca diminuirão, antes crescerão sempre. Mas a ciência é o conhecimento mais verdadeiro que existe e o seu método de tentativa e erro é também o mais racional. Os cientistas sabem que erram, mas é por estarem conscientes disso que podemos confiar no seu trabalho.
Se aparecerem novas estirpes, imunes às atuais vacinas, resta-nos a esperança de que os cientistas consigam adaptar as vacinas já existentes a essas novas variantes do vírus antes que produzam demasiado estrago. Caso contrário, o desespero que já se apoderou de alguns de nós irá, por um período que nos parecerá sempre demasiado longo, prevalecer.
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