
Ficam ambas na mesma ilha e são as capitais de dois países diferentes. A primeira é a capital da República da Irlanda e a segunda é a capital da Irlanda do Norte, um país integrante do Reino Unido, liderado pela Inglaterra. A emancipação da Irlanda foi um processo longo que se iniciou com a luta armada, passou pelo tratado anglo-irlandês de 1922, o Estatuto de Westminster de 1931, a nova Constituição de 1937, e culminou com a criação da República da Irlanda, em 1949. Porém, parte da província do Ulster foi separada da República da Irlanda, mantendo-se no Reino Unido: assim nasceu a Irlanda do Norte.

Talvez não faça muito sentido, à primeira vista, a separação da Irlanda. Mas todos sabemos como as vicissitudes políticas se sobrepõem tantas vezes ao que seria expectável. Muitos territórios têm uma história comum durante séculos e, depois, por razões variadas, separam-se. Foi o que aconteceu à Irlanda, um território ocupado pelos celtas, ainda em 1600 antes de Cristo, não admirando por isso que a cultura celta esteja tão arraigada no povo irlandês. Muito mais tarde, já no século IX da nossa era, os vikings, que foram o primeiro povo europeu a navegar para outros continentes, invadiram grande parte da Grã-Bretanha, incluindo a Irlanda, tendo aqui permanecido durante mais de dois séculos.

Em finais do século X e inícios do século XI, Brian Boru, um rei irlandês do sul da ilha, unificou o país e derrotou os vikings na batalha de Clontarf, em 23 de abril de 1014, apesar de ele próprio ter sucumbido na batalha. Nesta altura já muitos vikings se teriam integrado na sociedade irlandesa, alguns deles fazendo parte do exército de Brian, o grande herói irlandês. Seguiu-se o domínio inglês e britânico sobre a Irlanda iniciado no século XII, com as primeiras incursões de mercenários normandos, que se estenderia por mais de sete séculos, nunca conseguindo diluir, apesar da longa ocupação, a identidade irlandesa. Uma das facetas mais conhecidas dessa identidade, que contrasta fortemente com os britânicos, é o catolicismo irlandês, introduzido ainda no século V, ironicamente, por um cristão britânico, São Patrício. As tentativas de introduzir o protestantismo na Irlanda, a partir do século XVI, gorar-se-iam e iriam desembocar numa série de conflitos, alguns dos quais violentos, que se prolongariam até hoje, sobretudo na Irlanda do Norte. Pudemos observar inúmeros sinais desses conflitos em Belfast, durante o nosso passeio pelos bairros católicos, na zona oeste da cidade.

Desde logo, os chamados “muros da paz”, cujos portões estão abertos durante o dia e fechados à noite. Depois, os inúmeros murais, sobretudo católicos, com retratos das figuras emblemáticas da luta levada a cabo contra o domínio inglês. Tal como em Jerusalém, aqui sente-se uma tensão no ar. Isso faz de Belfast uma cidade muito diferente de Dublin. Dublin é festiva, cosmopolita, populosa; Belfast é sorumbática, segregadora, triste. Caminhamos por Belfast e, excetuando o núcleo central da cidade, raramente nos cruzamos com alguém. A zona católica é hoje um local aonde os turistas são levados, em táxis ou carrinhas, para fotografarem os murais e para que os guias turísticos lhes expliquem como as batalhas entre católicos e protestantes se desenrolaram. Percorremos toda esta zona a pé, e sentimos o peso do lugar. Sem dúvida que depois de uma visita a Belfast, embora se possa circular por muitos lugares, esta zona da cidade é aquela que ficará gravada na nossa memória.

Em Dublin é diferente. Podemos deliciar-nos a deambular pela cidade e ver sempre coisas interessantes e novas. O rio Liffey divide a cidade. Subir por uma margem e descer por outra acaba por ser um belo passeio que podemos realizar numa parte do dia. As pontes sobre o Liffey são diversificadas e interessantes e à noite, iluminadas, têm outro charme. Os parques da cidade são também muito bonitos, sendo que o mais famoso é, sem dúvida, o de Santo Estevão, onde já se rodaram cenas de vários filmes. Muito perto, encontra-se o Merrion Square, um pequeno parque que num dos cantos tem uma estátua de um dos mais conhecidos escritores irlandeses, Oscar Wilde. Nessa zona, mesmo ao lado, pudemos visitar dois museus: o Museu Nacional de História Natural da Irlanda e o Museu Nacional de Arqueologia da Irlanda. Algo que também é recomendável visitar nesta zona é, sem dúvida, o Trinity College. A visita é conduzida por um estudante, muitas vezes estrangeiro, que nos dá a conhecer os edifícios e história desta universidade, fundada em 1592, sendo que um dos pontos mais interessantes é a gigantesca biblioteca, uma atração para visitantes de todo o mundo.

Depois, claro, temos os bares, sempre animados, sempre com muita música. Entre eles, o Temple Bar é provavelmente o mais concorrido, repleto de gente, quer no interior, quer mesmo na rua. Esta zona, na margem do sul do Liffey, chama-se precisamente Temple Bar e é muito, mas mesmo muito animada, sobretudo à noite. Abundam os bares, restaurantes, pubs, galerias e centros culturais. É um local que os turistas inevitavelmente visitam e, claro, nós não pudemos fugir à regra. Do outro lado do rio há também muita animação. A larga avenida O’ Connell, perpendicular ao rio, é a mais comercial e diversificada de Dublin, sempre com pessoas a circular para lá e para cá. É aí que ficam alguns interessantes monumentos, entre eles a estátua de James Joyce (na esquina com a Earl Street North). Monumentos são realmente o que não falta em Dublin. Destacamos, ainda na margem norte, a Central de Correios, de 1818, o edifício da Alfândega, de 1791, e o monumento a O’ Connell, de 1882. Estes são os locais que destacamos dos três dias que passámos em Dublin e do dia em que, de comboio, nos deslocámos a Belfast.

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