Mantive-me socialista durante vários anos, mesmo depois de ter rejeitado o marxismo; e se pudesse haver um socialismo combinado com liberdade individual, ainda seria socialista. Porque nada poderia ser melhor do que viver uma vida modesta, simples e livre numa sociedade igualitária. Passou-se algum tempo até eu reconhecer que isto não era mais que um belo sonho, que a tentativa para alcançar a igualdade põe em perigo a liberdade e que, perdida a liberdade, nem sequer entre os não-livres haverá igualdade.
O encontro com o marxismo foi um dos acontecimentos mais importantes do meu desenvolvimento intelectual. Ensinou-me uma porção de lições que jamais esqueci. Mostrou-me a sabedoria do dito socrático, “sei que nada sei”. Tornou-me um falibilista e inculcou em mim o valor da humildade intelectual. E tornou-me mais consciente das diferenças entre pensamento dogmático e pensamento crítico.
Karl Popper, Busca Interminável.
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