Alfamenses ilustres

Foto de Judah Benoliel (1890-1968).

Nenhuma História da Alfama dos últimos 50 anos ficará completa sem uma referência aos personagens mais conhecidos do bairro, cidadãos ilustres, míticos, mais ainda porque nenhum deles teve consciência do seu estatuto de alfamense imortal.

Entre todos, o maior era o Mata-Gatos. Bom rapaz, mas… que não se metessem com ele! A malta cumprimentava “bom dia Zé”, “boa tarde Zé” – e o Zé sempre sorria e cumprimentava também. E se havia alguém que, escondido num beco ou dissimulado num grupo, gritava “ó Mata-Gatos!”, aí era certinho, voavam os pombos sem asas que o Zé levava nos bolsos do casaco! Às vezes acontecia quebrar uma cabeça ou o vidro de um carro, mas o mal do Zé era batatas…

Grande Mata-Gatos! Era uma figura – daquelas que não se fazem mais!

Outro personagem – o único que pode ainda estar vivo – é o Vítor Beatas, que continuava a apanhar restos de cigarros (“beatas” ou “grilas”) do chão, há cerca de um ano, a última vez que o vimos, em Alfama. Nunca comprou tabaco. E durou, pelo menos, até os 85 anos, sempre a fumar beatas. Espero que esteja ainda vivo, e revê-lo a apanhar beatas, como sempre, desde há cinquenta anos, quando voltar em breve a Alfama.

Os demais ilustres – sobretudo na Alfama de Cima, onde mais convivemos – eram o Teófilo Borda d’Água, o Augusto Galinha (também conhecido por Augusto É Bom), o Magala, o Esticó Braço, o Rei do Sebo e o Doutor Maluco.

Curvo-me perante a memória de cada um deles.

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Foto retirada de:https://www.timeout.pt/lisboa/pt/coisas-para-fazer/santos-populares-la-vai-lisboa-de-outros-tempos

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Autor: Jorge Costa

Fez percursos académicos nas áreas das Filosofia, Comunicação Social, Economia, Gestão dos Transportes Marítimos e Gestão Portuária, e estuda outras disciplinas científicas. Interessa-se igualmente por Arte, nas suas diversas manifestações, e também por viagens. Gosta de jogar xadrez. O seu autor preferido, desde que se lembra, é Karl Popper. Viveu em locais diversos, sobretudo em Portugal e no Brasil, pelo que se considera um cidadão do mundo. Atualmente vive em Cabanas, no Sotavento algarvio. Gosta de revisitar, sempre que pode, a bela cidade de Lisboa e, nela, o bairro onde nasceu, Alfama, o mais popular da capital, de traça árabe, debruçado sobre o Tejo — esse rio mítico, imortalizado por Camões e Pessoa, poetas maiores da Língua Portuguesa. Não é, porém, um bairrista, característica que deplora, a par dos clubismo, partidarismo e nacionalismo. Ama a Liberdade.