Einstein Haus

A Kramgasse, em Berna, na Suíça.

Einstein nasceu em Ulm, na Alemanha, em 1879, mas ainda adolescente transferiu-se para a Suíça, fixando-se em Zurique. Em 1896 renunciou à cidadania alemã, ao que dizem, para fugir à tropa e em 1901 conseguiu a nacionalidade suíça. Einstein ambicionava ser professor do Politécnico de Zurique, mas a relação com os professores, o mau desempenho nas aulas laboratoriais e, sobretudo, as faltas às aulas fizeram-no desistir do curso. Para sobreviver, passou a dar aulas em casas particulares e também, pontualmente, em algumas escolas de Winterthur e Schaffhausen.

A situação de Einstein era difícil, mas um amigo, Grossmann, pediu ao pai que recomendasse Einstein ao diretor da Agência Federal de Patentes, em Berna, Friedrich Haller. Einstein mudou-se para Berna em janeiro de 1902 e conseguiu o emprego em junho do mesmo ano. O salário anual que auferia era de 3.500 francos, o que, juntamente com os ganhos das aulas privadas, lhe permitiu finalmente viver sem sobressaltos.

Logo da Einstein Haus à porta do nº 49 da Kramgasse.

Desde a sua chegada a Berna, Einstein mudou seis vezes de casa, acabando por se fixar (por dois anos) com a mulher, Mileva, e posteriormente também com o segundo filho de ambos, Hans Albert1, no 2º andar da Kramgasse, 49. Einstein viveu neste apartamento de 1903 a 1905 – o ano em que surpreendeu a comunidade científica ao publicar, nos Annalen der Physic, quatro importantes artigos.

Os temas dos quatro artigos eram o efeito fotoelétrico2, o movimento browniano, a teoria da relatividade restrita, e a equivalência entre massa e energia. Estes trabalhos pioneiros que se mantêm ainda hoje marcos incontornáveis no que diz respeito à compreensão física da natureza, proporcionaram de imediato a Einstein o reconhecimento dos mais proeminentes físicos do seu tempo.

O segundo andar. À entrada do apartamento.

Ainda hoje se considera espantoso que Einstein tenha produzido tanto em tão pouco tempo, na verdade em cerca de quatro meses, pois os artigos de 1905 foram todos publicados entre março e junho desse Annus Mirabilis.

(Há quem diga que o afastamento da vida académica foi benéfico para Einstein, pois assim ele pôde pensar livremente e dar asas à sua incrível intuição).

Em 14 de setembro de 2015, as Sociedade de Física Europeia e Sociedade de Física Americana, representados pelos respetivos presidentes, reconheceram o local onde Einstein morou na Kramgasse, 49, a Einstein Haus, como o primeiro Sítio Histórico de ambas as sociedades.3 Na cerimónia, que contou também, entre outros dignitários, com a presença do Dr. Hans-Rudolf Ott, presidente da Albert Einstein Society, proprietária do museu, foi afixada, no 3º andar, uma placa comemorativa.

A sala de estar do pequeno apartamento onde Einstein viveu entre 1903 e 1905.

Nós tivemos o privilégio de visitar, em setembro de 2021, esta casa onde Einstein viveu. A Einstein Haus4, renovada em 2005, cem anos depois do Annus Mirabilis, e decorada ao estilo da época, é constituída pelo apartamento do 2º andar, onde Einstein morou, e pelo 3º andar, onde encontramos uma exposição dedicada às vida e obra deste célebre cientista. A entrada custa 5 CHF e a Einstein Haus está aberta ao público todos os dias da semana, entre as 11 e as 16 horas.

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Adenda:

Depois de mais alguns anos em Berna, Einstein regressaria a Zurique e posteriormente à Alemanha, onde ocupou o cargo de Presidente da Sociedade Alemã de Física. Foi neste período que publicou (em 1916), no mesmo periódico de Berlim (Annalen der Physic), a sua teoria da relatividade geral. As descobertas de Einstein, juntamente com a mecânica quântica, constituem hoje a base de toda a Física.

Einstein subverteu para sempre os conceitos, estabelecidos até então, de espaço, tempo, massa e energia, e, graças a ele, a humanidade deu um salto enorme na compreensão do Universo, de que é parte integrante.

Em confronto com o nazismo, Einstein fugiu para os Estados Unidos, onde viveu os seus últimos vinte anos, falecendo na cidade de Princeton em 1955.

Placa conjunta da APS e da EPS no 3º andar da Einstein Haus.

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Notas:

1 Sabe-se que Albert e Mileva tiveram uma filha antes, mas o destino desta permanece obscuro. Ao que parece, Einstein, que não queria que se soubesse que tinha uma filha antes de casar-se, mandou Mileva grávida para a Sérvia. De acordo com Malcolm Otero e Santi Giménez, “apesar de mãe e filha terem estado prestes a morrer, Einstein nunca foi vê-las. O que se passou com a menina é um mistério. Alguns biógrafos dizem que morreu muito pequena, outros que foi dada em adoção e outros que viveu até há pouco, em Novi Sad, sob o nome de Zorka Kaufler.” (Malcolm Otero e Santi Giménez, El Club de Los Execrables, Penguin Random House, Barcelona, 2018, p. 146).

2 Por este artigo, em especial, Einstein ganhou o Prémio Nobel da Física de 1921.

3 https://www.aps.org/publications/apsnews/201511/einstein.cfm.

4 Decidimos manter o nome original, em alemão.

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Chaplin’s World

No “Estúdio”, o espaço dedicado à vida profissional e artística de Charlie Chaplin.

Depois de fugir dos Estados Unidos e do macarthismo, escondido durante horas numa suite do Queen Elisabeth, Charles Chaplin abandonou definitivamente a América, rumo à Europa, no dia 19 de setembro de 1952.

Aconselhado pelo seu meio-irmão Sidney, acabaria por se radicar na Suíça, em Corsier-sur-Vevey, numa mansão que o anterior proprietário denominou Manoir du Ban. Foi aí que viveu os seus últimos 25 anos, falecendo, ao que parece tranquilamente, durante o sono, no dia 25 de dezembro de 1977.

O jardim e a mansão onde Chaplin viveu durante a maior parte dos seus últimos vinte e cinco anos. Aqui cresceram 8 dos seus 11 filhos.

Depois da morte da mulher de Chaplin, Oona, em 1991, os filhos cederam a propriedade à Charlie Chaplin Museum Foundation que, em 2000, iniciou o projeto de construção, no local, do Chaplin’s World, um museu que nasceria apenas em abril de 2016.

Constituído por vários edifícios temáticos, além da mansão, este imenso espaço museológico comporta também um jardim, onde Charlie gostava de passar grande parte do tempo, quando estava em Corsier, um parque de estacionamento para centenas de carros, uma área de restauração e uma loja de souvenirs.

Todo o espaço museológico é interativo e extremamente interessante.

O ingresso custa 27CHF, mas pode ser comprado com antecedência, pela internet, por 19CHF. Quem for de carro terá de desembolsar ainda 5 CHF para o estacionamento. Apesar de não ser barato, vale cada minuto e cada cêntimo.

Quem quiser pode também visitar as campas de Chaplin e Oona, que se encontram, lado-a-lado, no cemitério de Corsier-sur-Vevey.

Desde o dia 12 deste mês (set. de 2021), as pessoas acima dos 12 anos precisam de um certificado de vacinação contra a Covid-19 para acederem ao Chaplin’s World.

Charlie dá-nos as boas-vindas à entrada da mansão, o espaço dedicado à sua vida pessoal e familiar.

Sobre a sua estadia em Corsier-sur-Vevey, escreveu o próprio Chaplin:

For the last twenty years I have known what happiness means. I have the good fortune to be married to a wonderful wife. I wish I could write more about this, but it involves love, and perfect love is the most beautiful of all frustrations because it is more than one can express. As I live with Oona, the depht and beauty of her character are a continual revelation to me. Even as she walks ahead of me along the narrow sidewalks of Vevey with simple dignity, her neat little figure straight, her dark hair smoothed back showing a few silver threads, a sudden wave of love and admiration come over me for all that she is – and a lump comes into my throat.

With such happiness, I sometimes sit out on our terrace at sunset and look over a vast green lawn to the lake in the distance, and beyond the lake to the reassuring mountains, and in this mood think of nothing but enjoy their magnificent serenity.1

Os jornais da época deram grande destaque à vinda da família Chaplin para a Suíça.

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Notas:

1 Obra abaixo citada, p. 477.

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A nossa edição:

Charles Chaplin, My Autobiography, Penguin Books, London, 1964.

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O Grande Capital

O Liechtenstein em primeiro plano e, ao fundo, separada pelo Reno, a Suíça. O homem ordena, em seu benefício, a natureza.

Depois de uma viagem de 5,935 quilómetros pela Europa, regressámos a Portugal. Do Liechtenstein e da Suíça para baixo, a paisagem vai mudando, e com ela a organização, o ordenamento e a própria condição das estradas por onde circulamos. França, Espanha e, finalmente, Portugal, sempre a descer no mapa e na qualidade. Regressámos ao país por Vila Real de Santo António e seguimos pela Nacional 125. Nas bermas da rodovia acumulam-se o mato, o lixo e a desordem.

Mas, para lá da paisagem, algo que constatámos na Suíça e que contrasta flagrantemente com o que se passa em Portugal, é a descentralização. O que se tem passado em Portugal com a apelidada “bazuca” seria impensável na Suíça, um país que é, ele próprio, uma bazuca. António Costa (e Silva), o estratega, amigo de António Costa, o primeiro-ministro, foi encarregado de elaborar um plano para identificar as principais áreas onde aplicar os muitos milhões que a União Europeia vai entregar a Portugal. Isto é realmente o cúmulo do provincianismo — acreditar em indivíduos omniscientes — algo que jamais aconteceria na Suíça, talvez o país mais descentralizado do planeta. Em Portugal, pelo contrário, tudo passa pelos indivíduos providenciais, adstritos aos gabinetes ministeriais em Lisboa. O resto é paisagem, praticamente abandonada.

É a este abandono que se devem os grandes incêndios que deflagram regularmente em Portugal, muito mais do que aos “grandes interesses económicos” tão propalados pelos ideólogos de uma esquerda anacrónica, que tem no nosso país uma representatividade exacerbada, quando comparada com o que se passa na Europa civilizada.

Mas o arqui-inimigo da esquerda marxista é uma entidade abstrata chamada “Grande Capital”, um papão repetidamente agitado pelos discursos de Jerónimo de Sousa, um beato bem-intencionado dessa igreja laica que é o Partido Comunista Português. Já os suíços, pelo contrário, não têm medo nenhum do “Grande Capital”, convivem pacificamente com ele todos os dias. Falar-se do “Grande Capital” num país cronicamente depauperado como Portugal é ridículo, risível, de facto, uma anedota que se contaria com agrado, não fora a vergonha por haver tantos compatriotas que nela acreditam.

Algo que seria igualmente impensável na Suíça é o protagonismo que se dá em Portugal a tantos e tantos comentadores. Somos, de facto, um país de palradores. Um caso paradigmático é o de Raquel Varela, uma ideóloga lunática, supostamente historiadora, com amplo espaço mediático na rádio e televisão públicas, ou seja, paga por todos nós. As ideologias radicais estão confinadas na Suíça (e nos outros países socialmente avançados) à academia, onde alguns excêntricos, de resto, com uma credibilidade muitíssimo superior à de Varela, se dedicam ao seu estudo, não à sua divulgação. Acontece assim porque seria inútil propagandear algo que uma população culta e educada reconhece como anacrónico e irrealista.

Portugal, pelo contrário, mantém-se um país de teóricos e críticos, e não surpreende, portanto, que se mantenha um país crítico.

O endividamento crónico da terceira república portuguesa, fruto de opções marcadamente ideológicas, contrárias à racionalidade económica, hipoteca, de forma trágica, a vida das novas gerações.

Como diria o outro, “é a economia, estúpido!”

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