O arquipélago Fernando de Noronha – Património da Humanidade – faz parte do estado brasileiro de Pernambuco e dista cerca de 540 quilómetros da capital, Recife, embora a distância mais curta até o continente seja bastante menor, cerca de 300 quilómetros até o Rio Grande do Norte, estado que fica na mesma latitude. São, portanto, menos de 60 minutos de avião, quer do Recife quer de Natal, até se atingir o arquipélago.
As ilhas têm origem vulcânica e, no seu conjunto, uma área de 26 km2, sendo 9 da plataforma marinha e 17 da superfície emersa. O arquipélago é a parte emersa de um enorme edifício vulcânico, cuja base se encontra no fundo do mar, a quatro mil metros de profundidade, com cerca de 70 quilómetros de diâmetro. Faz parte de uma estrutura alinhada de diversos montes vulcânicos submarinos, que se estendem desde a Dorsal Atlântica até a plataforma continental brasileira, próximo do litoral do Ceará.

As sucessivas erupções vulcânicas, que decorreram ao longo de milhões de anos, proporcionaram o aparecimento de montes acima do nível do mar, como são os casos de Fernando de Noronha e do Atol das Rocas. As ilhas não foram, portanto, criadas de uma só vez. No caso de Fernando de Noronha, há pelo menos três formações diferentes: Remédios, Quixaba e Caracas.
Posteriormente, quando o vulcanismo cessou, processos erosivos e a variação do nível do mar atuaram sobre a ilha, conferindo-lhe o aspeto atual. Ao chegar ao arquipélago, quem conseguir viajar do lado esquerdo do avião terá uma vista melhor, dado que o avião tem de descrever uma curva larga para esse lado e enfrentar o vento predominante de sul na aterragem. Já à saída terá uma vista melhor quem viajar do lado direito da aeronave. Vale a pena viajar à janela.

A ilha principal de Fernando de Noronha, a única habitada, é relativamente pequena, com uns 14 quilómetros de ponta a ponta. Além disso, tudo se concentra na metade oriental da ilha, onde fica a Vila dos Remédios, o porto e todos os outros pequenos povoados. É natural que, à chegada, o visitante apanhe um táxi (seja para onde for não deverá pagar mais de 30 reais), dado que não conhece os locais, mas, depois disso, não vale a pena gastar dinheiro em táxi ou aluguer de carro. Muitos dos trajetos podem fazer-se a pé e os mais longos podem fazer-se através de um meio de transporte excelente, disponível na ilha: a bicicleta. Há uma loja na Vila dos Remédios – a Ricaom – onde se podem alugar bicicletas por 60 reais/dia.
Foi o que fizemos no segundo dia na ilha. Percorremos todos os locais mais conhecidos de bicicleta e ainda tivemos tempo de dar uns belos mergulhos na praia do Sancho – a melhor do mundo, dizem. As praias mais próximas da Vila dos Remédios – Cachorro, Meio e Conceição – já tínhamos visitado no dia da chegada, aproveitando a tarde para fazer um primeiro reconhecimento, incluindo a subida do morro onde se encontra o forte dos Remédios, ponto privilegiado de observação para o chamado Mar de Dentro.
É aqui que se encontram as melhores praias, normalmente calmas, mas que podem ter mar agitado entre outubro e março, período em que é mais frequente o “swell”, um tipo de ondulação que pode ser moderado ou severo. É o período preferido dos surfistas, mas menos bom para os banhistas comuns e para quem quer mergulhar – uma das atividades mais apreciadas e indispensáveis de Fernando de Noronha.
Já as praias do Mar de Fora, expostas ao vento sul, são em geral impróprias para banhos e perigosas (sobretudo nas marés altas), devido às fortes correntes que se formam em todas elas, excetuando a abrigada Baía do Sueste. É o caso da bonita praia do Leão, onde as tartarugas desovam entre dezembro e junho.
Além de percorrer a terra firme de Fernando de Noronha, é indispensável fazer um passeio pelo mar. O arquipélago é constituído por dezanove ilhas e dezenas de rochedos isolados. Mas a parte mais bonita de qualquer passeio de barco é, sem dúvida, o trajeto pelo Mar de Dentro, percorrendo as onze praias de areia, com mar verde-esmeralda, e parando na Baía do Sancho para banhos e snorkeling, observando belos peixes coloridos. O snorkeling também pode realizar-se na praia da Atalaia, no mar de Fora, quando ali se forma uma piscina natural, na maré baixa, sendo possível observar lagostas, polvos, inúmeras espécies de peixes e até mesmo pequenos tubarões. Durante os passeios de barco que se realizam de manhã há maior probabilidade de observar os golfinhos rotadores, dentro da Baía dos Golfinhos.
Por sua vez, o mergulho é feito em outros pontos do arquipélago (de acordo com o estado do tempo), e é praticamente obrigatório, uma vez que Fernando de Noronha está entre os melhores lugares do mundo para essa prática. É possível fazer o batismo de mergulho por cerca de 400 reais. A profundidade pode atingir os nove metros – e convém não esquecer que durante as 24 horas que se seguem ao mergulho, não se deve viajar de avião.
Cinco dias são suficientes para se fazer tudo isto e algo mais. A comida não é o mais caro em Noronha, e há excelentes pratos de peixe, sobretudo a barracuda. Come-se muito bem no Museu dos Tubarões, nos restaurantes Cacimba e Mergulhão, e em vários outros, incluindo o famoso Zé Maria. O que é estupidamente caro é o alojamento. Não dá para entender por que é tão caro. Ficámos numa pousada mais do que básica, com um café da manhã mais do que pobre e pagámos, por noite, 400 reais!
Apesar de tudo, uma visita a Fernando de Noronha é uma excelente opção de viagem. Mas conhecidas essas belas ilhas, não vale a pena repetir. O custo da estadia é absurdo e incompreensível. A alternativa seria morar no arquipélago. Para tal teria de se conseguir trabalho ou casar com um(a) residente. Mas quem quer morar num lugar isolado, caríssimo, sem infraestruturas e, sobretudo, nos dias que correm, sem internet? O “custo-Brasil”, patente em todo o território, atinge, aqui, um nível absurdo.
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