Cavaco

Perguntavamo-nos algumas vezes por que razão alguém apoiaria uma pessoa que a nós parecia tão notoriamente inadequada para Chefe de Estado. Demorou algum tempo, porém, até percebermos que esta questão está mal colocada. Haverá sempre alguém que goste de pessoas que nos parecem execráveis, e vice-versa. A verdadeira questão não é essa. O importante é saber por que razão a Esquerda (e nós somos de Esquerda e nunca votámos no Sr. Silva) não soube angariar um candidato que galvanizasse as pessoas, que as fizesse não optarem por Cavaco – pois é evidente que, se elas votaram em Cavaco, é porque não tinham alternativa melhor. E a resposta é só uma: a Esquerda, apesar de toda a propaganda, está-se nas tintas para o povo. Esta afirmação pode constituir alguma surpresa, mas só para quem ande muito distraído. Desde o 25 de abril que a Esquerda coloca acima do povo – de quem apregoa ser a principal e, mesmo, única defensora – a ideologia, a estratégia e a rigidez de princípios. Esta falta de flexibilidade é aproveitada, e bem, pela Direita, que se une, no essencial, quando é preciso, como aconteceu nas duas eleições de Cavaco Silva.

Outro grande problema da Esquerda mais conservadora (ou, se preferirem, ortodoxa) traduz-se na incapacidade de autocrítica. Evidentemente, não assume qualquer responsabilidade pelo desastre que Cavaco representa para o país. Essa incapacidade de autocrítica impede a Esquerda de melhorar e afasta-a do povo.

E o povo responde afastando-se dela.

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Foto retirada de: https://www.comunidadeculturaearte.com/cavaco-silva-anda-a-explorar-a-netflix-e-gostou-imenso-da-serie-the-crown/

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Autor: Jorge Costa

Fez percursos académicos nas áreas das Filosofia, Comunicação Social, Economia, Gestão dos Transportes Marítimos e Gestão Portuária, e estuda outras disciplinas científicas. Interessa-se igualmente por Arte, nas suas diversas manifestações, e também por viagens. Gosta de jogar xadrez. O seu autor preferido, desde que se lembra, é Karl Popper. Viveu em locais diversos, sobretudo em Portugal e no Brasil, pelo que se considera um cidadão do mundo. Atualmente vive em Cabanas, no Sotavento algarvio. Gosta de revisitar, sempre que pode, a bela cidade de Lisboa e, nela, o bairro onde nasceu, Alfama, o mais popular da capital, de traça árabe, debruçado sobre o Tejo — esse rio mítico, imortalizado por Camões e Pessoa, poetas maiores da Língua Portuguesa. Não é, porém, um bairrista, característica que deplora, a par dos clubismo, partidarismo e nacionalismo. Ama a Liberdade.