Os Ricos

Está na moda, de novo, bater nos ricos. Belmiro de Azevedo e Américo Amorim, entre outros, são ricos. Isto é quase tudo o que sei sobre eles. Será o suficiente para os detestar? E, por outro lado, “rico” foi, é ou será sinónimo de “pulha”? Eu diria que “não” a estas duas perguntas, também por duas razões. A primeira, geral, porque pulhas existem e existirão sempre entre pobres, ricos e remediados. A segunda,  mais concreta, porque existem ricos que são nobres, bondosos e altruístas.

Não me darei ao trabalho de citar exemplos, sempre demasiado subjectivos, nesta matéria. Acrescentarei apenas que a nobreza ou vileza de carácter não se mede pelo dinheiro ou bens que se possuem. Uma boa medida para avaliação seria, talvez, a análise da forma como nos relacionamos com o próximo.

“Próximo”, como o termo indica, podem ser os nossos filho, pai, vizinho, amigo, colega ou periquito. Se amarmos o próximo, será mais provável que amemos também a sociedade, o mundo e até o universo. De facto, eu tenho as maiores dúvidas sobre aquele, seja qual for a sua condição social, que tem as mais belas ideias sobre o mundo, mas maltrata seu cão.

À parte a inveja que provoca em alguns seres completamente insuspeitos, a riqueza, em si mesma, não é má. Má, vil e inútil continuará a ser, sempre, a estupidez.

Dado que não é realisticamente possível eliminar quer a riqueza quer a estupidez, a separação entre ambas constitui, na minha perspectiva, um dos pilares de um mundo minimamente decente. A sua junção, essa sim, constituiria – constituirá sempre – o desastre completo.

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Autor: Jorge Costa

Fez percursos académicos nas áreas das Filosofia, Comunicação Social, Economia, Gestão dos Transportes Marítimos e Gestão Portuária, e estuda outras disciplinas científicas. Interessa-se igualmente por Arte, nas suas diversas manifestações, e também por viagens. Gosta de jogar xadrez. O seu autor preferido, desde que se lembra, é Karl Popper. Viveu em locais diversos, sobretudo em Portugal e no Brasil, pelo que se considera um cidadão do mundo. Atualmente vive em Cabanas, no Sotavento algarvio. Gosta de revisitar, sempre que pode, a bela cidade de Lisboa e, nela, o bairro onde nasceu, Alfama, o mais popular da capital, de traça árabe, debruçado sobre o Tejo — esse rio mítico, imortalizado por Camões e Pessoa, poetas maiores da Língua Portuguesa. Não é, porém, um bairrista, característica que deplora, a par dos clubismo, partidarismo e nacionalismo. Ama a Liberdade.