Eduardo Lourenço

Eduardo Lourenço foi um brilhante pensador. Mas nem todos os pensadores, ainda que brilhantes, são filósofos.

A Filosofia pode ser encarada de duas formas. Por um lado, desde que reflitamos sobre o mundo, o comportamento e a existência, todos nós somos filósofos. Por outro lado, existem pessoas que dedicam a vida a estudar essas e outras questões filosóficas e os problemas que levantam (mesmo que, como Wittgenstein, não acreditem em genuínos problemas filosóficos), procurando resolvê-los e ligá-los numa linha de pensamento coerente, isto é, numa doutrina, numa filosofia. Voluntária ou involuntariamente, profissionais ou amadores, estes são os verdadeiros filósofos.

Kant resumiu o objeto da Filosofia em quatro perguntas.

  • O que posso saber? (Epistemologia ou Filosofia do Conhecimento);
  • O que devo fazer? (Ética);
  • O que me é permitido esperar? (Metafísica);
  • O que é o Homem? (Antropologia Filosófica).

Respondeu ou procurou responder Eduardo Lourenço, através da sua obra, a uma ou mais que uma destas perguntas? Não, Eduardo Lourenço, na linha de muitos outros pensadores portugueses – como Teixeira de Pascoaes, António Sérgio, Fernando Pessoa, Agostinho da Silva ou Teotónio Almeida, só para citar alguns – pensou sobre Portugal, os portugueses e o nosso papel na Europa e no Mundo. Para isso, Lourenço inspirou-se na literatura e nos poetas e não em qualquer filósofo português que, de resto, nunca existiu; de acordo com o próprio, por cá sempre imperou um “irrealismo prodigioso”.

Estamos de acordo com Eduardo Lourenço: a nossa tradição é literária, poética e mística; não existe em Portugal tradição filosófica. Talvez esta seja, sim, uma característica fundamental de Portugal.

Eduardo Lourenço foi, pois, um ilustre professor e ensaísta. Mas, ao contrário do que muitos dizem e escrevem nestes dias após a sua morte, não foi um filósofo. Isto não diminui em nada o brilhantismo deste intelectual português, antes é uma manifestação de apreço e respeito pela sua memória.

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Foto retirada de: http://www.eduardolourenco.com/

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Autor: Jorge Costa

Fez percursos académicos nas áreas das Filosofia, Comunicação Social, Economia, Gestão dos Transportes Marítimos e Gestão Portuária, e estuda outras disciplinas científicas. Interessa-se igualmente por Arte, nas suas diversas manifestações, e também por viagens. Gosta de jogar xadrez. O seu autor preferido, desde que se lembra, é Karl Popper. Viveu em locais diversos, sobretudo em Portugal e no Brasil, pelo que se considera um cidadão do mundo. Atualmente vive em Cabanas, no Sotavento algarvio. Gosta de revisitar, sempre que pode, a bela cidade de Lisboa e, nela, o bairro onde nasceu, Alfama, o mais popular da capital, de traça árabe, debruçado sobre o Tejo — esse rio mítico, imortalizado por Camões e Pessoa, poetas maiores da Língua Portuguesa. Não é, porém, um bairrista, característica que deplora, a par dos clubismo, partidarismo e nacionalismo. Ama a Liberdade.