Um Encontro com o Marxismo

Mantive-me socialista durante vários anos, mesmo depois de ter rejeitado o marxismo; e se pudesse haver um socialismo combinado com liberdade individual, ainda seria socialista. Porque nada poderia ser melhor do que viver uma vida modesta, simples e livre numa sociedade igualitária. Passou-se algum tempo até eu reconhecer que isto não era mais que um belo sonho, que a tentativa para alcançar a igualdade põe em perigo a liberdade e que, perdida a liberdade, nem sequer entre os não-livres haverá igualdade.

O encontro com o marxismo foi um dos acontecimentos mais importantes do meu desenvolvimento intelectual. Ensinou-me uma porção de lições que jamais esqueci. Mostrou-me a sabedoria do dito socrático, “Sei que nada sei”. Tornou-me um falibilista e inculcou em mim o valor da humildade intelectual. E tornou-me mais consciente das diferenças entre pensamento dogmático e pensamento crítico.

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A nossa edição:

Karl Popper, Busca Inacabada — Autobiografia Intelectual, Esfera do Caos, Lisboa, 2008, pp. 57-8.

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Popper e o Liberalismo

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Para evitar mal entendidos, quero deixar bem claro que emprego sempre os termos “liberal”, “liberalismo”, etc., no sentido em que ainda são geralmente usados em Inglaterra (embora, talvez, não nos Estados Unidos). Com “liberal” não me refiro a um simpatizante de um qualquer partido político, mas simplesmente a um homem que valoriza a liberdade individual e está desperto para os perigos inerentes a todas as formas de poder e autoridade.

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A nossa edição:

Karl Popper, Conjecturas e Refutações, Almedina, Lisboa, 2003, p.10.

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