Portugal e o Turismo

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Os Caretos na Rua Augusta, em Lisboa.

Ao deslocarmo-nos há dias pelo Norte de Portugal — em Amarante, no Alto Douro Vinhateiro e no Porto (sétima cidade europeia onde o turismo mais cresceu) — verificámos o mesmo fenómeno a que já assistíramos recentemente em outras partes do país, sobretudo nos arquipélagos dos Açores e da Madeira, em Lisboa, no Alentejo e no Algarve: um fluxo turístico que varre Portugal de Norte a Sul, de Este a Oeste, algo nunca visto até hoje.

Se virmos bem, era apenas uma questão de tempo. Portugal tem condições ímpares para a prática turística: clima excelente, boa gastronomia, gente acolhedora, riquezas naturais e culturais, diversidade, custo de vida baixo, tranquilidade e segurança. A oferta tem vindo a adaptar-se à crescente procura, sobretudo no que toca ao alojamento, com a proliferação de hotéis, albergues, casas de campo, apartamentos particulares, etc. Muita gente ganha a vida trabalhando na área do turismo, cada vez mais.

O turismo representa já uma percentagem muito importante do PIB nacional, e isto quer dizer que, se não fossem as receitas deste setor, estaríamos numa posição muito pior do que aquela em que infelizmente nos encontramos. José Hermano Saraiva referia-se muitas vezes, em seus programas televisivos, à importância do turismo e à vocação de Portugal para essa atividade económica. E tinha toda a razão: Portugal é um país turístico por excelência; poderia e deveria aproveitar muito melhor esse potencial.

O turismo deveria ser, de facto, um setor económico estratégico, visto não termos dimensão, nem reservas naturais, nem localização, para sermos uma grande potência em muitas outras áreas. Claro que deveríamos ser competitivos em outros setores, sobretudo nos produtos transacionáveis, mas se os outros países o forem tanto quanto nós (e geralmente são-o mais), perderemos sempre, pois estamos na periferia da Europa e não temos massa crítica (mercado interno) para crescermos (já para não falarmos da inépcia dos nossos políticos, da corrupção, da nossa tradicional dependência do Estado, etc., etc.). Deveríamos apostar fortemente na Educação e no investimento em Ciência e Tecnologia, mas não o temos feito de forma consistente.

O turismo é, pois, estratégico porque é aquilo em que somos naturalmente bons. Isto é tão óbvio que chega a ser patético assistir ao coro de críticas que ultimamente se tem erguido contra o fluxo turístico. É algo verdadeiramente incompreensível: reclamamos porque não há dinheiro e reclamamos contra quem vem cá deixar o seu dinheiro. Esquecemos, ou ignoramos, que só nos desenvolvemos quando nos abrimos ao mundo. Fecharmo-nos só nos tornará ainda mais estúpidos. E mais pobres também.

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Autor: Jorge Costa

Fez percursos académicos nas áreas das Filosofia, Comunicação Social, Economia, Gestão dos Transportes Marítimos e Gestão Portuária, e estuda outras disciplinas científicas. Interessa-se igualmente por Arte, nas suas diversas manifestações, e também por viagens. Gosta de jogar xadrez. O seu autor preferido, desde que se lembra, é Karl Popper. Viveu em locais diversos, sobretudo em Portugal e no Brasil, pelo que se considera um cidadão do mundo. Atualmente vive em Cabanas, no Sotavento algarvio. Gosta de revisitar, sempre que pode, a bela cidade de Lisboa e, nela, o bairro onde nasceu, Alfama, o mais popular da capital, de traça árabe, debruçado sobre o Tejo — esse rio mítico, imortalizado por Camões e Pessoa, poetas maiores da Língua Portuguesa. Não é, porém, um bairrista, característica que deplora, a par dos clubismo, partidarismo e nacionalismo. Ama a Liberdade.