Christopher Nupen

Documentário sobre Daniil Trifonov, um pianista que já ouvimos ao vivo, realizado por Christopher Nupen.

Christopher Nupen é um documentarista sul-africano que se dedicou a realizar (e produzir) filmes sobre músicos. Ele próprio quis ser músico, e teve aulas de guitarra clássica com Andres Segóvia, tal como John Williams (não o compositor americano, mas o guitarrista australiano), o mais famoso aluno do famosíssimo mestre.

Foi através de Williams que Nupen conheceu vários músicos importantes, como Daniel Barenboim, Jacqueline du Pré e Vladimir Ashkenazy, todos ainda muito jovens, pouco conhecidos, mas cheios de talento; tornou-se amigo deles e decidiu começar a gravar a música que tocavam, primeiro para a rádio e depois, convidado por Huw Wheldon, para a BBC Television.

Assim nasceu o seu primeiro filme, Double Concerto, com os pianistas Ashkenazy e Barenboim (gravado com as novas câmaras silenciosas de 16 mm, desenvolvidas nos anos sessenta), que logo venceu dois prémios internacionais (Praga e Monte Carlo). Mais tarde, em Cannes, Chris receberia também o prémio para o melhor DVD do ano (2005), com Jacqueline du Pré in Portrait, troféu que voltaria a conquistar em 2006, com We Want the Light, (título extraído de um poema escrito por uma menina de 12 anos, Eva Pickova, no campo de concentração de Theresienstadt), um documentário que explora a complexa relação entre judeus e música alemã.

Christopher Nupen estabeleceu com a maioria dos músicos uma relação de amizade, e isso permitiu-lhe realizar filmes profundamente biográficos e intimistas, e muito belos. 

Seria fastidioso citar todos os super-talentos retratados por este magnífico realizador. Podemos encontrá-los em DVDs que valem cada cêntimo que possamos gastar. A nonagésima quinta produção é sobre Daniil Trifonov, um jovem russo de 24 anos que Martha Argerich (ela também retratada num documentário de Nupen) considera o melhor pianista de sempre.

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Um concerto ultrarromântico

Desde há muitos anos que ouço o Concerto nº2 para Piano e Orquestra1 de Rachmaninoff2, em disco e ao vivo. Lembro-me bem, a primeira audição foi de uma gravação que tem como pianista Vladimir Ashkenazy3, numa interpretação, aliás, excelente. Depois assisti ao vivo  a interpretações dos pianistas Evgeny Kissin4 (a minha preferida), Mikhail Pletnev5 e Nelson Freire6. Em disco, as audições distribuem-se por dezenas de interpretações diferentes, de grandes maestros, orquestras e pianistas, entre as quais, uma do próprio Sergei Rachmaninoff.

Estamos obviamente perante um grande clássico desse tardio e ultrarromântico compositor. Talvez o concerto mais romântico de sempre. Tanto que serviu de banda sonora a um filme que também é justamente considerado por muitos o mais romântico de todos os tempos – “Brief Encounter”7 (Breve Encontro), do magnífico realizador britânico David Lean8.

Aqui fica um registo dessa peça imortal, com a Filarmonica Teatro Regio Torino, dirigida por Ginandrea Noseda e com a excelente e bela Khatia Buniatishvili, ao piano. Para desfrutar.

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Notas:

1 A palavra “concerto” deriva do termo latino “concertare” que significa “dialogar”. Concerto para piano (ou outro qualquer instrumento) e orquestra não é mais, pois, do que um diálogo entre esse instrumento e a orquestra respetiva.

2 Compositor e maestro russo (1873-1943) que se exilou nos EUA, onde faleceu, tendo vivido também na Suíça.

3 Pianista e maestro russo (1937), que se exilou, no tempo da União Soviética, no Ocidente. É o atual presidente da Sociedade Rachmaninoff.

4 Outro pianista russo. Começou muito jovem a ter contacto com o piano. É considerado um dos maiores pianistas do mundo. Tem hoje 42 anos de idade.

5 Russo, igualmente. E também um dos grandes pianistas mundiais. Nasceu em 1957 (14 de abril).

6 Brasileiro, natural de Boa Esperança, Minas Gerais. Hoje, com 69 anos, é um pianista com excelente reputação mundial.

7 Filme ainda a preto-e-branco, de 1945. Como protagonistas desse encontro breve, Celia Johnson e Trevor Howard.

8 Um dos meus realizadores (diretores) favoritos. Entre outros, dirigiu “Doutor Jivago”, Lawrence da Arábia”, “A Ponte sobre o rio Kwai”, “Passagem para a Índia”, “A Filha de Ryan”. Privilegiava nos seus filmes os grandes cenários naturais. É considerado um mestre da montagem cinematográfica.

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