
Praia Verde, Algarve, 19:00 horas. A temperatura do ar rondará os 25, 26 graus; a do mar, uns cinco a menos. Nada que impeça um banho revigorante. O Algarve é a região terrestre mais ocidental (se excetuarmos as ilhas) onde vigora o chamado clima mediterrânico. Se partíssemos daqui em direção a Leste, até ao Crescente Fértil, manter-nos-íamos durante toda a viagem sob a influência deste clima. Poderíamos ir por terra (contornando a costa sul da Europa) ou por mar, entrando pelo Estreito de Gibraltar e cruzando o próprio Mediterrâneo, num trajeto oposto ao que fizeram os fenícios, quando há milhares de anos chegaram pela primeira vez ao Algarve. Ao contrário do que muitos supõem, este clima é pouco comum no mundo e contempla apenas outras quatro (mas muito pequenas) zonas do globo: o sudoeste da Austrália, o sul da Califórnia, o sul da África do Sul e uma parte do Chile. Não existe em mais lado nenhum. O clima mediterrânico — genericamente caracterizado por verões muito quentes e secos, e invernos frios e chuvosos — teve uma importância decisiva na história da humanidade. Não foi por acaso que as primeiras civilizações nasceram no Crescente Fértil: devemo-lo à especificidade do clima e às espécies animais e vegetais que a ele se adaptaram, e que não existiam noutros lugares. Sem o clima mediterrânico não seria possível termos o melhor pão, o melhor azeite, o melhor vinho, as melhores e mais variadas frutas, os melhores queijos e, já agora, a luz mais pura (que o digam os pintores). Para se ter uma ideia, só em Portugal existem mais de 250 castas de uvas, um desafio aceite por cada vez mais enólogos oriundos de longínquas paragens para aqui produzirem alguns dos melhores vinhos do mundo. Mas a Natureza brinda-nos de muitas outras formas. As nossas praias estão entre as mais bonitas e aprazíveis do planeta. Nesta época do ano, quando os dias parecem não ter fim, podemos ficar na praia até mais tarde, para vermos o sol pôr-se para lá das 21:00 horas. Por vezes, na mudança de maré, o vento para, o mar para, os sons param, e temos a sensação de que o tempo e os nossos pensamentos param também. Esta experiência é mais extraordinária quando ficamos sozinhos na praia. Na última vez, que foi hoje, um passarinho de poupa ficou parado na linha d’água, olhando o mar, que era um espelho imenso. Naquele momento eu, a minha companheira e o passarinho de poupa, pareceu-me, podíamos perfeitamente trocar identidades. E pareceu-me também que esta ilusão só é possível aqui, nas praias do Sotavento, onde o tempo não corre, escorre.
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