O paradoxo da bondade

Nem sempre é necessário escrever muitos livros para se reunir uma grande obra, e isto é válido para todos os géneros, quer sejam ficção ou ensaio. Richard Wrangham, um primatologista britânico de 77 anos, escreveu até agora três livros, um primeiro (1997) em parceria com Dale Peterson (Demonic Males), e dois a solo, Catching Fire (2010) e Goodness Paradox (2019). Nós lemos os dois últimos e ambos são fabulosos. Catching Fire foi traduzido para português do Brasil por Pegando Fogo, e a nossa análise sobre essa obra pode ser vista aqui; Goodness Paradox, que lemos no original em inglês, passamos a analisar agora.

A grande questão deste livro é a de saber porque os seres humanos são uma espécie simultaneamente pacífica e violenta, dado que comprovadamente nós somos capazes do melhor e do pior: somos os únicos seres vivos que cometem atos de extremo altruísmo, mas também temos a frieza que nos permite matar por meros prazer ou diversão1. Este é o paradoxo do nosso comportamento, quando comparado com o dos outros primatas: somos relativamente pacíficos no tipo de agressão reativa e incrivelmente violentos no tipo de agressão proativa. É fácil perceber a diferença entre os dois tipos de agressão se considerarmos os conceitos, usados em direito penal, de crime não premeditado (reação espontânea, “a quente”, reativa) e de crime premeditado (ação cometida friamente, com tempo, proativa).

Comecemos pelo relativo pacifismo humano no que toca à agressão reativa. Apesar de todos nós termos conhecimento de crimes reativos, eles ocorrem numa percentagem muito pequena, e os chimpanzés, por exemplo, são muito mais violentos neste tipo de agressividade, caracterizada por respostas a um estímulo inesperado2. A baixa agressão reativa acontece em todos os animais domesticados, que são menos agressivos que os seus ancestrais selvagens. Os cães, por exemplo, são mais dóceis que os lobos, e o mesmo acontece com todos os animais domésticos conhecidos e outros domesticados através de experiências científicas.3

A evidência científica mostra que os animais domesticados apresentam determinadas características, para além da docilidade, relativamente aos seus primos selvagens: maior proximidade nas características físicas de machos e fêmeas, crânios mais pequenos, dentição mais fraca, rosto mais arredondado e, nalgumas espécies, orelhas caídas, caudas enroladas e até manchas brancas na pelagem por cima da cabeça. Além disso, os animais domesticados têm uma tendência maior para a homossexualidade — e esta tendência pode, na verdade, ser um subproduto da domesticação — dado que são expostos a uma dose menor de testosterona quando ainda se encontram no útero materno.

Desde há muito, que vários estudiosos repararam que os seres humanos apresentam algumas destas características físicas e comportamentais, pelo que a ideia de que os humanos são seres domesticados é já antiga, e Wrangham corrobora-a. Mas se existe evidência sobre quem domesticou cães, gatos, porcos e muitos outros animais, quem terá domesticado o próprio homem? A resposta é que os seres humanos são animais autodomesticados. E isso aconteceu porque o desenvolvimento da linguagem veio permitir, entre outras coisas, que elementos dos povos humanos primitivos se associassem para controlar os indivíduos mais agressivos, instituindo, para tal, um implacável instrumento: a pena capital4.

A pena de morte é, pois, a causa principal da nossa autodomesticação e estima-se que a liquidação dos membros mais agressivos das sociedades humanas se tenha iniciado há pelo menos 300 mil anos, dando origem a uma espécie (mais graciosa do que o ancestral homo erectus), da qual somos hoje os únicos descendentes, o homo sapiens. Tendo em conta que qualquer processo de domesticação se completa em cerca de 20 gerações,5 o nosso comportamento agressivo terá sido radicalmente desincentivado há já bastante tempo, até porque os comportamentos que poderiam custar a vida a uma pessoa eram vastos, muitos mais do que hoje, ou seja, os indivíduos tinham um forte incentivo para se comportarem dentro de estritos padrões sociais, respeitando as normas igualitárias dos povos primitivos, sob pena de serem eliminados.6 Esta foi a forma dos nossos antepassados controlarem os indivíduos mais violentos. E o homo sapiens tornou-se, assim, um ser autodomesticado.

Mas as coligações, facilitadas pelo aparecimento da linguagem, que primordialmente se formaram para controlar a violência, acabaram por se transformar — com a concentração humana proporcionada pela agricultura, o crescimento populacional, o desenvolvimento técnico e científico, e a constituição de hierarquias de poder — naquilo que Wrangham chama coligações de agressão proativa, ou seja, um conjunto de pessoas orientadas para atingirem algum tipo de objetivo através da ação violenta. Algumas destas coligações tornaram-se extremamente poderosas, acabando nos dias de hoje por se confundirem com Estados — referimo-nos obviamente aos exércitos cegamente doutrinados e controlados por ditadores modernos que concentram em si todo o poder. As coligações de agressão proativa são, assim, a outra face da moeda da autodomesticação humana provocada pela instauração da pena capital.7

O paradoxo fica assim clarificado: a linguagem humana permitiu que se formassem coligações que impuseram a pena de morte e, com isso, reduziu-se a agressividade reativa tornando os humanos seres autodomesticados, mas, simultaneamente, abriu caminho para que essas coligações se tornassem coligações de agressão proativa, a mais letal entre os seres vivos conhecidos.

O poder avassalador das coligações de agressão proativa expressa-se, na sua forma mais devastadora, nos dias de hoje, através de guerras levadas a cabo por forças armadas com grande poder destrutivo, correspondendo ao grande desenvolvimento científico e tecnológico do mundo contemporâneo. Assim, o paradoxo projeta-se no futuro. Seremos capazes de controlar as coligações de agressão proativa e os seus líderes, impedindo que causem demasiado dano? Não sabemos. Apenas sabemos que a única esperança reside nas instituições democráticas, aquelas que impedem a concentração do poder, permitindo ganhar tempo para a formação democrática — através da educação — das novas gerações.

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A nossa edição:

Richard Wrangham, Goodness Paradox – How Evolution Made Us Both More and Less Violent, Pantheon Books, Croydon, 2020.

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Notas:

1 Há poucos dias veio a lume uma investigação, conduzida pelo jornalista italiano Ezio Gavazzeni, que mostra bem o nível de crueldade que as ações humanas podem atingir. Indivíduos ricos — notários, advogados, empresários — provenientes de vários países (italianos, franceses, suíços, americanos, ingleses), pagaram quantias elevadas às milícias sérvias que cercavam Sarajevo para se posicionarem nas colinas em redor e alvejarem os cidadãos da cidade, participando numa matança a que alguns já chamam, adequadamente, de safari humano. Os preços pagos variavam: por alvejarem uma criança pagavam 100 mil euros, mas a morte de um idoso era gratuita. O cerco a Sarajevo — o mais longo da história moderna — durou de 5 de abril de 1992 a 29 de fevereiro de 1996.

2 Todo o tipo de agressões provocadas por discussões “a quente” podem caracterizar-se por agressividade reativa: um homem que numa discussão no trânsito agride outro, por exemplo, pode considerar-se um caso típico de agressividade reativa.

3 As experiências levadas a cabo pelo geneticista soviético Dmitri Belyaev são consideradas as mais relevantes neste campo. A mais importante delas relacionou-se com raposas. Desde há muitas gerações que agricultores soviéticos criavam raposas prateadas nas suas quintas para negociarem a sua pele. A equipa de Belyaev começou por recolher dessas quintas as raposas mais dóceis. Cerca de uma em dez não rosnava quando os membros da equipa chegavam, e era selecionada. Após apenas quatro gerações as pequenas raposas aproximavam-se dos humanos abanando as caudas como se fossem cães. Na sexta geração as pequenas raposas não só abanavam as caudas como choramingavam para chamar a atenção dos humanos, cheirando-os e lambendo-os. Algumas gerações mais tarde, várias raposas apresentavam uma mancha branca no alto da cabeça, tal como acontece em cavalos, vacas, cães e muitos outros animais domésticos. Com o passar do tempo, alguns exemplares apresentavam as orelhas caídas, caudas e pernas mais curtas, e um crânio mais leve e estreito. Tudo isto provou que a seleção para a docilidade conduziu aos traços típicos da síndrome da domesticação referidos acima. A agressividade reativa baixou incrivelmente (ob. cit., pp. 67-72).

4 Isso acontece ainda hoje entre povos afastados da civilização, onde a pena capital é um instrumento supremo de igualitarismo. A pena de morte deve ter acontecido tantas vezes no passado que a nossa espécie herdou o temperamento calmo e menos agressivo que essa punição extrema impunha.

5 O processo de autodomesticação humana terá começado há pelo menos 300.000 anos e isso corresponde a 12.000 gerações. Isso é bastante tempo, se consideramos que a evolução dos lobos para cães se iniciou há aproximadamente 15.000 anos (ob. cit., p. 161).

6 Wrangham dá exemplos de atos considerados banais nos dias que correm mas que há apenas 300 anos podiam levar um indivíduo à pena de morte. Na América do século XVII um indivíduo podia ser condenado à morte por idolatria, blasfémia, rapto, adultério, bestialidade, sodomia e até masturbação (ob. cit., p. 143). Em sociedades primitivas, alguns motivos pelos quais um indivíduo podia ser condenado à morte eram igualmente fúteis aos olhos de hoje. Por exemplo, era banal ser-se executado por feitiçaria. Bruce Knauft, um investigador que estudou os Gebusi, um grupo de horticultores da Nova Guiné, durante 42 anos, registou 394 casos de pessoas executadas, sendo que 1/4 dos homens e 15,4% das mulheres foram condenados por feitiçaria (ob. cit., p. 161).

7 A pena de morte, que serviu em tempos para a nossa autodomesticação, não parece ter hoje em dia grande utilidade, nem é moralmente defensável. Richard Wrangham considera que ela deveria ser abolida nos Estados Unidos, país onde vive atualmente (ob. cit., pp. 283-4).

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Sociobiologia

A visão sobre a vida, de Richard Dawkins.

Uma das questões mais debatidas da ciência e da filosofia é a questão do Homem. Sobre ela se debruçam biólogos, antropólogos, psicólogos, sociólogos, filósofos e, no fundo, todos os seres pensantes. O homem como sujeito e objeto de si próprio. Talvez a problemática mais atual sobre esta questão seja a de saber-se até que ponto o ser humano é realmente um animal diferente. Por outras palavras: tudo o que é especificamente humano – e podemos, talvez, substituir este “tudo” pela termo “cultura” – é suficiente para nos considerarmos uma espécie à parte, radicalmente diferente das outras, ou, pelo contrário, temos muito mais em comum com as outras espécies do que, à primeira vista, poderíamos suspeitar? No nosso comportamento, o que é “animal” e o que é humano? Os 97 % do genoma que partilhamos com os chimpanzés significam que somos muito parecidos ( e na verdade com os outros animais e mesmo plantas, dado que partilhamos grande parte do genoma com eles também) ou os restantes 3% fazem toda a diferença e significam uma especificidade radical?

Quanto à primeira hipótese, a saber, a de que não diferimos assim tanto dos outros seres vivos, não conheço abordagem mais acutilante do que a dos sociobiólogos. Quanto à segunda hipótese, a defendida pelos que afirmam sermos muito diferentes dos outros animais, talvez seja subscrita sobretudo por alguns filósofos e pelos antropólogos culturais mas também pelo senso comum. Dado que esta posição é a mais familiar para a grande maioria de nós, vou debruçar-me sobre a que é mais incomum – a versão sociobiológica.

Tudo começou quando um biólogo alemão, August Weismann, nos anos 80 do século XIX, reparou que, nas criaturas sexuadas, as células sexuais – óvulos e esperma – permaneciam segregadas do resto do corpo desde o nascimento1, o que contrariava as ideias de Lamarck e do próprio Darwin, os quais pensavam que os filhos herdavam as alterações físicas que os pais haviam sofrido durante a vida. O exemplo clássico é o do filho do ferreiro, que herda os braços musculosos do pai. Ora, isto não acontece, e, apesar de Weismann ter sido ridicularizado por suas ideias, elas revelar-se-iam corretas: com a descoberta do gene, do ADN a partir do qual este é feito e do código em que a mensagem do ADN está escrita, verificou-se que a linha germinativa é mantida efetivamente separada do corpo.

As consequências mais radicais seriam retiradas apenas nos anos 70 do século XX por Richard Dawkins2: uma vez que os corpos não se replicam a eles próprios, apenas crescem, enquanto os genes se replicam, a conclusão que se tira é a de que os corpos são meros veículos evolutivos para o gene, e não vice-versa. Esta corrente desembocou, assim, numa visão peculiar, estranha, mas também extremamente sedutora, que revolucionou a teoria da evolução: pouco importa se somos humanos ou não, porque o que conta não é a espécie ou o indivíduo, o que importa são os genes. De facto, são os genes que se perpetuam no tempo, não os indivíduos e, de acordo com esta teoria, os indivíduos, os organismos, os corpos não passam de “máquinas de sobrevivência” que os genes utilizam para passarem de geração em geração.

Assim, Richard Dawkins, na linha de Williams, afirmou que a unidade de seleção natural – que desde Darwin era o indivíduo – deveria de ser o gene. As características de “longevidade, fecundidade e fidelidade da cópia”3, garantiram-lhe esse estatuto. Em consequência disto, os sociobiólogos começaram a falar em “seleção sexual” em vez de seleção natural: o objetivo de um animal não é apenas sobreviver, mas sobretudo reproduzir-se. Dado que os genes utilizam4 os organismos e os indivíduos para passarem de geração em geração e se perpetuarem no tempo, a principal função destes só pode ser a reprodução. Os indivíduos com sucesso reprodutor passarão os seus genes às gerações seguintes, ao contrário dos genes dos indivíduos que não se reproduzem, que se extinguirão5. A reprodução é, pois, a característica fundamental da evolução: os genes constroem organismos para se perpetuarem e os organismos, – humanos, outros animais ou plantas – agem em prol da reprodução, perpetuando os genes.

A seleção sexual é uma consequência da reprodução. Trata da forma como machos e fêmeas se relacionam para partilhar os genes e os passarem à descendência6. Os interesses de machos e fêmeas, homens e mulheres, são comuns mas também diferentes. Existe conflito e cooperação entre ambos. O macho procura distribuir seus genes pelo maior número de fêmeas possível e estas procuram machos capazes de as ajudar a criar os filhos, pois de nada lhes servirá terem filhos se não forem capazes de criá-los. Esta é a razão das mulheres preferirem homens poderosos e dos homens preferirem mulheres saudáveis e bonitas.

Se a função principal dos seres vivos é reproduzirem-se para que os genes se perpetuem, todas as características dos seres vivos, incluindo as especificamente humanas, devem favorecer a reprodução. De facto, a própria inteligência humana tem como principal finalidade servir de uma forma mais adequada a reprodução7. Tudo, aliás, deve favorecer a reprodução – ou não existiria, pois os genes que não favorecem a reprodução (e que não são reproduzidos) acabam por se extinguir.

Assim, os argumentos sociobiológicos são do tipo circular, “pescadinha de rabo na boca”, e levam-me a pensar que talvez estejamos perante uma daquele género de teorias que Karl Popper considerou como pseudo-científicas, por seus defensores utilizarem sempre argumentos no sentido de confirmar a teoria e não de refutá-la. Popper dava os exemplos clássicos da psicanálise e do marxismo, e acredito que fizesse o mesmo com a sociobiologia, caso tivesse tido tempo de ter escrito sobre ela. Uma das características comuns a todas estas teorias é a sua extrema sedução na forma como se apresentam: definitivas, absolutas, irrefutáveis. Porém, esta sedução, que constitui aparentemente a sua força, constitui também o seu principal ponto fraco – a razão, segundo Popper, para não as considerarmos, precisamente, aquilo que seus adeptos afirmam que elas são: científicas8.

Esta é também a razão pela qual eu próprio duvido delas. Embora a teoria da evolução sociobiológica contenha, sem dúvida, um fundo de verdade, não deverá conter, porém, a verdade toda.

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Notas:

1 Weismann (1889).

2 Curiosamente, Dawkins é hoje um dos mais destacados opositores do “pai” da sociobiologia, Edward O. Wilson. Este, hoje com 83 anos, em entrevista publicada por uma revista brasileira, diz o seguinte:  “Richard Dawkins não é um cientista. É um escritor de divulgação científica. Ele só escreve sobre o que os outros descobrem… ao criticar minha teoria ele mostra seu total desconhecimento da teoria evolutiva”, in “Época”, 11 de março 2013.

3Gene Egoísta”, Richard Dawkins, 1976.

4 Claro que inconscientemente: estão para isso “programados” pela natureza.

5 Logicamente, todos nós somos descendentes de indivíduos que tiveram sucesso reprodutor; e herdámos deles os genes que os levaram a esse sucesso.

6 Os sociobiólogos estudam a forma como várias espécies acasalam, inclusive a humana. Neste caso, existem sociedades monogâmicas e poligâmicas, quase em proporções idênticas (existe apenas uma pequena sociedade poliândrica, na região do Tibete, onde as mulheres têm dois homens, mas apenas por questões económicas). Porém, mesmo nas sociedades monogâmicas, a infidelidade é enorme, sobretudo por parte dos homens. Por outro lado, só recentemente (no Ocidente) os homens poderosos  deixaram de ter muitas mulheres; em todas as civilizações antigas o sexo estava relacionado com o poder masculino e todos os poderosos tinham haréns. Os estudos mostram, ainda, que, em geral, o homem tem mentalidade poligâmica e a mulher, monogâmica. Uma evidência deste facto são as indústrias da pornografia (quase exclusivamente dirigida aos homens) e da literatura “cor de rosa” (quase exclusivamente dirigida a mulheres).

7 “A própria inteligência humana é produto da seleção sexual, e não da seleção natural. A maioria dos antropólogos evolutivos acredita agora que os cérebros grandes contribuíram para o sucesso reprodutor, quer porque permitiram que os homens fossem mais espertos ou enganassem outros homens (e que as mulheres fossem mais espertas ou enganassem outras mulheres), quer porque foram originalmente utilizados para cortejar e seduzir membros do sexo oposto”, in “A Rainha de Copas”, Matt Ridley, Gradiva, Lisboa, 2004.

8 Curiosamente a posição de Popper sobre a evolução tem algumas semelhanças com a da sociobiologia. Para ele, “da amiba a Einstein vai apenas um pequeno passo”, in “Um Mundo de Propensões”, Karl Popper, Editorial Fragmentos, 1989.

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Foto retirada de: https://www.telegraph.co.uk/news/religion/11381529/Richard-Dawkins-wants-to-fight-Islamism-with-erotica.-Celebrity-atheism-has-lost-it.html

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A nossa edição:

Richard Dawkins, O Gene Egoísta, Editora Gradiva, 1ª edição, Lisboa. 1989.

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Gene Egoísta

Dawkins (1)
Richard Dawkins

A sociobiologia é uma ciência com cada vez mais adeptos, embora também com muitos detratores. Foi fundada por Edward Osborne Wilson, mas a sua popularidade cresceu imenso com a publicação do livro “O Gene Egoísta”, de Richard Dawkins, em 1976. Lemos esse livro há uns longos anos, mas como o seu conteúdo é bastante polémico e, para muito boa gente, chocante, aqui ficam umas notas muito simples que descobrimos recentemente num caderninho.

Tese Fundamental de Dawkins: Toda a evolução tem por base um comportamento egoísta por parte do gene – a unidade básica de seleção natural ou “unidade de hereditariedade”. Assim, o indivíduo (qualquer organismo) deixa de ser a unidade de seleção natural, dado que os organismos nascem, vivem e morrem, e passa a ser o gene essa unidade, uma vez que o gene se perpetua, construindo organismos, que “usa” para passar de geração em geração.

1ª sub-tese: Todos os organismos vivos foram criados pelos genes. São autênticas “máquinas de sobrevivência”. Nesse sentido, nós, seres humanos, não passamos de “robots desajeitados”, se não pré-determinados, pelo menos pré-programados. Só existimos para preservação dos genes.

2ª sub-tese: Como já vimos da tese fundamental, a unidade básica (e prática) de seleção natural é o gene – “um fragmento de cromossoma suficientemente pequeno para durar muito tempo” – isto porque o gene reúne três condições essenciais: longevidade, fecundidade e fidelidade da cópia.

3ª sub-tese: O comportamento humano é comandado remotamente pelos genes. São estes que ditam a forma pela qual são construídas as “máquinas de sobrevivência” e os seus cérebros.

4ª sub-tese: Compartilhamos os nossos genes com os parentes mais próximos. Quanto maior for a proximidade, maior será a partilha. Comportamentos supostamente altruístas mais não são que comportamentos (egoístas) programados para a sobrevivência dos genes dentro de um certo grupo. Chama-se a isto “seleção de parentesco”. A própria dedicação aos filhos está aqui incluída.

5ª sub-tese: Para além da tentativa de perpetuação do gene egoísta, este tenta também diminuir as hipóteses dos genes rivais sobreviverem. Há uma verdadeira competição entre os genes. De acordo com Dawkins, isto pode observar-se abundantemente através do comportamento animal.

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A nossa edição:

Richard Dawkins, O Gene Egoísta, Editora Gradiva, 1ª edição, Lisboa. 1989.

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