Grandes espetáculos em casa.

Porque os espetáculos de música clássica, sobretudo os que incluem grandes orquestras — como sinfonias e óperas — são, dentro da música ao vivo, os mais belos? Porque a grande música é em si mesma bela, mas também porque as grandes orquestras mundiais são constituídas por músicos extraordinários e dirigidas por maestros fabulosos; e, finalmente, porque os espaços onde estes espetáculos geralmente ocorrem são igualmente muito belos — teatros que são verdadeiras obras de arte, como os icónicos Teatro Alla Scala, em Milão, a Ópera Nacional de Paris, a Ópera Estatal de Viena, a Royal Opera House, em Londres, a Opera House, em Sydney, e tantos, tantos outros, incluindo o Teatro de S. Carlos, em Lisboa, e o Teatro da Paz, em Belém do Pará.

Ao contrário da música eletrificada, que muitas vezes se ouve melhor em casa do que ao vivo, a música sinfónica e operática, dada a vastíssima amplitude instrumental e sonora, ouve-se muito melhor ao vivo, sendo difícil de reproduzir, na plenitude, mesmo no mais avançado equipamento de som viabilizado pela moderna tecnologia.

Já assistimos a muitos espetáculos de música sinfónica (mais) e óperas (menos) ao vivo. Mas os auditórios e teatros onde se realizam estes espetáculos são pequenos para albergarem tantos amantes deste tipo de música. Por isso, é normal ouvir-se música clássica em casa. E há também algumas vantagens nas gravações que podem ser reproduzidas nas nossas habitações, em disco ou em vídeo. Neste último caso, há a vantagem de observarmos pormenores que não seria possível vislumbrar in loco: grandes planos do maestro, de elementos da orquestra e certos detalhes das salas revelam-nos particularidades fascinantes que não conseguiríamos descortinar nas salas de espetáculo.

Há realizações verdadeiramente fabulosas sobre obras da grande música, algumas levadas a cabo por mestres do cinema que se especializaram neste género de realização, como é o caso paradigmático de Franco Zeffirelli, um conceituado cineasta italiano, que adaptou, para o grande ecrã, óperas, peças de teatro e romances literários.1

Lembrámo-nos disto porque assistimos hoje, no canal Mezzo, à Sinfonia nº 6 de Tchaikovsky, conhecida por Patética, interpretada pela Filarmónica della Scala, em Granada, há dois anos. O maestro é o carismático italiano Riccardo Chailly, que já tivemos a felicidade de ver ao vivo. Tal como dissemos atrás, as filmagens destes espetáculos permitem-nos observar pormenores deliciosos, impossíveis de detetar ao vivo. Chailly é um dos grandes maestros da história da música e a sua expressão corporal e, sobretudo, facial, as suas vitalidade, exuberância e envolvência com a música e a orquestra, são atributos irressistíveis para muitos melómanos, comparáveis na atualidade, apenas, talvez, aos patenteados por Gustavo Dudamel — atributos que só os grandes planos de câmeras estrategicamente colocadas podem sobrelevar.

Quanto a esta obra de Tchaikovsky, é consensual que se trata de uma das mais importantes sinfonias jamais escritas, estreada em 28 de outubro de 1893, poucos dias antes da morte do compositor, que ocorreria em 6 de novembro desse mesmo ano. O termo patétique, foi sugerido pelo irmão de Tchaikovsky, Modest, sendo que o vocábulo que este usou em russo se aproxima mais de paixão e não tanto de patética.

Há quem veja nesta obra uma mensagem de despedida, especialmente pelo seu Finale: Adagio lamentoso, que constitui o quarto e último andamento. Isso sente-se indubitavelmente ao escutar a composição que realmente não termina em apoteose, como costuma acontecer nas demais sinfonias, mas antes decai, definha, extingue-se, como acontece com a própria morte. A Patética — a cuja interpretação já assistimos uma vez ao vivo — é, sem dúvida, uma obra extraordinária, simultaneamente, triste e bela.

Deixamos um excerto desse concerto de Granada, realizado em junho de 2023, no Palácio Carlos V, com Riccardo Chailly dirigindo a Orquestra do Teatro alla Scala.

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Notas:

1 Alguns dos filmes mais conhecidos de Zeffirelli são Romeu e Julieta (1968), Jesus de Nazaré (1977), O Campeão (1979) e Chá com Mussolini (1999).

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A ressurreição, por Gustav Mahler

Mahler trabalhou na sua Segunda Sinfonia entre 1888 e 1894, e reviu-a em 1903.

Em dia de Páscoa deixamos um apontamento dessa magnífica obra mahleriana, a sinfonia nº 2, “Ressurreição” (em que, tal como nas sinfonias 3 e 4 – as chamadas Sinfonias Wunderhorn – intervem a voz humana), registado em Leipzig, Alemanha, no ano de 2011. O maestro é o carismático italiano Riccardo Chailly, que tivemos a felicidade de ver ao vivo noutras ocasiões. Páscoa Feliz!

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