Sou um equilibrista. Costumo dizer até — meio a brincar, mas muito a sério — que nada demonstra melhor a importância do equilíbrio do que um bom vinho.
Mas não é apenas no vinho (ou no circo) que o equilíbrio é importante. Um intelecto desequilibrado pode ser a causa de atos desastrosos, sobretudo quando cometidos por pessoas altamente inteligentes, sendo lícito concluir, de acordo com a experiência, que a estupidez não é provocada apenas pela carência de inteligência, mas igualmente pelo seu excesso.
Pode parecer paradoxal, mas acontece demasiadas vezes: as pessoas super-inteligentes são as que cometem os atos mais hediondos e estúpidos.
Senão vejamos.
O atirador da torre do Texas, Charles Whitman, que matou 16 pessoas depois de ter assassinado a mulher e a mãe, tinha um QI na faixa dos 1% mais inteligentes; Ted Kaczynski, um matemático misantropo que se dedicou a colocar bombas em universidades e aviões durante anos a fio, era considerado um super-génio e tinha um QI surreal de 167; mas quem realmente rebentou com a escala foi Rodney Alcala, um assassino em série, que alcançou um QI de 170; Hitler e Estaline eram decerto pessoas inteligentes (e, igualmente, manipuladores — seriam também psicopatas?) e o mesmo poderíamos dizer de personalidades tão distintas quanto Ceausescu, Pinochet, Castro, Meinhof ou Breivik.
Muitos defendem que não há uma correlação positiva entre inteligência e psicopatia, e que a inteligência não é a principal responsável destes comportamentos destrutivos. No entanto, estudos recentes revelam que as pessoas com QI mais elevado têm mais probabilidade de desenvolverem doenças mentais dopaminérgicas (provocadas por excesso de dopamina). Em suma, alguma deficiência numa zona do cérebro, antiga (na amígdala, por exemplo) ou recente (no córtex pré-frontal, por hipótese), entre outros aspetos (hormonais, ambientais, psicológicas, etc) são frequentemente causas interligadas que justificam um desequilíbrio comportamental. Isto prova que a inteligência per si é fria, e é necessário que todas as regiões do cérebro que com ela interagem funcionem equilibradamente para haver um comportamento saudável.
Por fim, acontece também que a inteligência desmedida (aquela que rebenta com a escala e já é menos inteligência e mais loucura) leva alguns indivíduos a convencerem-se de que descobriram “a verdade”. A partir desse momento, o que possa causar horror ao cidadão comum não passa de uma consequência dessa descoberta, que, evidentemente, não afeta o génio iluminado nem, amiúde, os seus seguidores.
Sim, a super- inteligência, tal como o excessivo grau alcoólico de um vinho, embriaga. E todos sabemos como há pessoas com muito mau vinho.
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Reformulando:
Podes estar convencido que és um inteligente acima da média. E, se reparares, à tua volta, em círculos cada vez mais largos, é bem provável que a maioria pense como tu. O cerne da questão, porém, não consiste nessa impossibilidade estatística (de facto, não é possível a maioria estar acima da média) mas na tua convicção: com ela já pisaste, pelo menos com um pé, o terreno lúbrico da estupidez.
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