A aldeia de Monsanto é uma belíssima reorganização granítica levada a cabo pelo homem na encosta de um monte escarpado com 758 metros de altura (no atual concelho de Idanha-A-Nova no centro de Portugal) que, como a palavra indica, é, foi ou seria “santo” (Mons Sanctus): Monsanto – a Aldeia mais Portuguesa de Portugal.Esse título foi-lhe atribuído em 1938, por ter vencido um concurso organizado pelo Serviço Nacional de Informação, e uma réplica do troféu correspondente – um galo de prata, criado por Abel Pereira da Silva – ornamenta o topo exterior da Torre do Relógio (antiga torre sineira), visível, pelo ângulo fixado nesta foto, por trás da Igreja da Misericórdia (em primeiro plano), esta construída no século XVI.Mas as distinções sucedem-se ao longo do tempo. Em 2016, a Associação das Agências de Viagem do Japão – através da votação de mais de 300 agentes de viagem e profissionais do turismo – incluiu Monsanto no lote restrito das “30 aldeias mais bonitas da Europa”. Não é difícil perceber porquê quando, cercados pelos seus imponentes penedos graníticos, deambulamos por Monsanto.Penedos que comprimem habitações e ameaçam esmagá-las mas que, realmente, são a sua proteção natural. A singularidade deste lugar gira toda em torno do granito, cuja aspereza nos entra pelos olhos e pelos poros. Sem dúvida que estas pedras tiveram uma influência determinante sobre os indivíduos que, desde tempos ancestrais, vêm ocupando este monte, desde o sopé até o cume, primeiro, e do cume para baixo, depois.Indivíduos afáveis os que hoje aqui vivem e que vamos encontrando aqui e além durante a nossa escalada até ao topo deste monte santo. De vez em quando paramos para recuperar o fôlego, aspirando o ar puro, e tomar um gole da excelente água que se pode encontrar em fontes diversas, como a do Penedo ou a de São Pedro, entre outras.Mas vale a pena chegar ao cume, onde encontramos o castelo. O primitivo fora construído no século XII pelos Templários sobre uma anterior fortificação muçulmana. No entanto, o que vemos hoje já nada tem a ver com o castelo dos Templários. Houve várias reconstruções ao longo do tempo, sobretudo a efetuada no início do século XVI, por Duarte de Armas. Em 1815, uma violenta explosão de pólvora no paiol destruiu quase completamente o interior do castelo. A última reforma significativa (não muito feliz) foi realizada no século XX.No exterior do castelo encontramos uma necrópole com sepulturas, de formato antropomórfico, escavadas na pedra. Ao que parece, são anteriores ao reinado de D. Afonso Henriques e há quem diga que são até anteriores ao período medieval (a avaliar pelas dimensões, como se vê na foto, isso parece-nos plausível). Chamaram-lhe necrópole de São Miguel por se encontrar junto a uma capela com o mesmo nome, construída em finais do século XII, provavelmente, assim sugerem alguns achados, sobre um templo anterior .Vale a pena visitar Monsanto, um lugar que inspira. O grande escritor Fernando Namora, que aqui exerceu medicina (de 1944 a 1946), escreveu: ” Cada manhã em Monsanto nasce o mundo. Lá me apercebi que a sombra é azul”. E José Saramago: “De pedras julgava o viajante ter visto tudo. Não o diga quem nunca veio a Monsanto”. (Ilustração de Ricardo Coelho/Portugal: Todas as cores).
Belmonte é uma vila portuguesa cheia de história. No seu castelo nasceu Pedro Álvares Cabral, o comandante da armada que, a caminho da Índia, se desviou (propositada ou acidentalmente – eis a questão) até a costa oriental do Brasil. Belmonte (que recebeu foral de D. Sancho I em 1199) faz parte de um grupo de doze localidades do interior de Portugal, relativamente próximas entre si, reunidas num produto turístico chamado Aldeias Históricas de Portugal.Em Belmonte a bandeira do Brasil tremula ao lado da bandeira de Portugal. A vila é geminada com quatro cidades brasileiras: a sua homónima, Belmonte, e Santa Cruz de Cabrália, na Bahía; São Vicente, em São Paulo; e Ouro Preto, em Minas Gerais. Esta é, pois, uma vila que, sem dúvida, merece a visita dos nossos amigos brasileiros.Em Belmonte podemos visitar quatro museus: o Museu Judaico (atualmente em obras), o Museu do Azeite (num antigo lagar do século XIX), o Ecomuseu do Zêzere e o Museu dos Descobrimentos. Tantos museus num espaço reduzido, como é o desta pequena vila, é algo pouco comum em qualquer parte do mundo, e constitui uma prova da importância cultural deste belíssimo burgo.Mas os locais e as exposições a visitar vão além dos museus. A Casa Etnográfica de Caria, a Igreja de Santiago, o Panteão dos Cabrais e, claro, o Castelo, são locais a visitar. Neste pode apreciar-se, até maio do presente ano, uma excelente exposição sobre a conquista de Ceuta, em 1415 – da qual participou um bisavô de Pedro Álvares Cabral (Luís Álvares Cabral) – que marca o início da expansão portuguesa conhecida por Descobrimentos.Pode (e deve) também dar-se um salto à Serra da Estrela, via Manteigas, mesmo ali ao lado, e visitar, ainda dentro de Belmonte, igrejas, capelas, edificações romanas, e a sinagoga Bet Eliahu – que marca a forte tradição judaica, que remonta ao século XIII. Há alojamento de qualidade disponível e, claro, a gastronomia é excelente. A zona de Belmonte é ideal para servir de base a quem queira visitar também as outras aldeias históricas. E isto é válido em qualquer estação do ano, cada uma com seus encantos específicos.