A maldição da ideologia

Dois livros recentes onde se realça a perigosidade das ideologias.

As ideologias e as religiões são duas faces da mesma moeda. Ambas torcem e distorcem a realidade para que esta caiba nas suas narrativas. E o pior é que o cérebro humano adora narrativas ideológicas e religiosas. Pode parecer estranho, mas as pessoas com espírito científico, que amam a verdade, constituem-se como uma minoria entre os indivíduos predispostos a acolher todo o tipo de profecias, muito mais apelativas para o nosso cérebro tribal habituado a mitos, realidades paralelas e rituais iniciáticos.

Temos uma razão etimológica, desenvolvida em alguns de nós, mas a razão social — aquela que faz com que desejemos ser aceites pelos outros e integrar-nos no grupo — prevalece na esmagadora maioria dos casos. É por isso que é preciso ser resiliente para se apegar à verdade, tantas vezes incómoda. É muito mais fácil acreditar em promessas de prosperidade, fecilidade e, até, imortalidade.

Mas as promessas são levadas pelo vento, e o que resta dos dogmas ideológicos são guerras, miséria e sofrimento. Será impossível acabar com as ideologias, pois o homem é (ainda?) um animal idelógico, mas há uma questão que se impõe: seremos capazes de as controlarmos?

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As nossas edições:

  • Leor Zmigrod, O Cérebro Ideológico, D. Quixote, Lisboa, 2025.
  • Samuel Fitoussi, Porque se Enganam os Intelectuais, Bertrand, Lisboa, 2025.
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Autor: Jorge Costa

Fez percursos académicos nas áreas das Filosofia, Comunicação Social, Economia, Gestão dos Transportes Marítimos e Gestão Portuária, e estuda outras disciplinas científicas. Interessa-se igualmente por Arte, nas suas diversas manifestações, e também por viagens. Gosta de jogar xadrez. O seu autor preferido, desde que se lembra, é Karl Popper. Viveu em locais diversos, sobretudo em Portugal e no Brasil, pelo que se considera um cidadão do mundo. Atualmente vive em Cabanas, no Sotavento algarvio. Gosta de revisitar, sempre que pode, a bela cidade de Lisboa e, nela, o bairro onde nasceu, Alfama, o mais popular da capital, de traça árabe, debruçado sobre o Tejo — esse rio mítico, imortalizado por Camões e Pessoa, poetas maiores da Língua Portuguesa. Não é, porém, um bairrista, característica que deplora, a par dos clubismo, partidarismo e nacionalismo. Ama a Liberdade.