
A imigração é um tema atual nas sociedades mais desenvolvidas, sobretudo nos Estados Unidos e na União Europeia. Líderes populistas, como Trump, Le Pen ou Ventura, insurgem-se contra os imigrantes, acusando-os de sobrecarregarem os serviços públicos, receberem subsídios indevidos e contribuirem para o aumento da criminalidade. Tudo falso, como mostra Hein de Haas, através dos dados estatísticos publicados no seu livro Como Funciona Realmente a Migração.
De Haas baseia-se em dados quantitativos para desmontar aquilo a que chama de mitos — que políticos e comunicação social propagam sobre as migrações. Já Douglas Murray analisa o problema de um ponto de vista muito mais qualitativo. A questão que se coloca é a da identidade europeia: manterá a Europa as suas matrizes religiosa, cultural, civilizacional? Ou a presença muçulmana — com as suas misoginia e homofobia, o seu aproveitamento do liberalismo europeu — acabará por prevalecer?
Alarmismo injustificado, dirão alguns. Mas muitos muçulmanos atuais encontram-se, de facto, num mundo semelhante ao dos cristãos de outrora, quando lutar contra os infiéis era a mais importante ocupação de um homem de honra. (Cliff, 2011). E tal como acontecia com o cristianismo medieval, no mundo islâmico da atualidade a independência e a capacidade de iniciativa da sociedade civil podem ser medidas de forma mais adequada, não pela sua relação com o estado, mas pela sua relação com a religião, da qual, na percepção dos muçulmanos, o próprio estado é manifestação e instrumento. (Lewis, 2002).
A análise qualitativa de Murray, mostra-nos que as migrações não são todas iguais. É este o grande contraste com o livro de De Haas. Não faz sentido falar em guerra santa, quando as sociedades liberais em que vivemos desistiram de evangelizar o mundo. Mas o que devemos fazer quando o outro lado não desistiu de lutar e insiste num proselitismo por meios violentos? A resposta a esta importante questão não é unívoca, pelo contrário, é marcadamente ideológica, e é por isso que o livro de Murray é tão polémico. No entanto, ele alerta-nos para um problema que, ao contrário de De Haas, não deveríamos ignorar.
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Referências:
- Cliff, Nigel, Guerra Santa – Como as Viagens de Vasco da Gama Transformaram o Mundo, Globo Livros, São Paulo, 2012 (ed. orig. 2011).
- De Haas, Hein, Como Funciona Realmente a Migração, Temas e Debates, Lisboa, 2024 (ed. orig. 2023).
- Lewis, Bernard, O Médio Oriente e o Ocidente — O que Correu Mal?, Gradiva, Lisboa, 2003 (ed. orig. 2002).
- Murray, Douglas, A Estranha Morte da Europa, Desassossego, Porto Salvo, 2018 (ed. orig. 2017).
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