Francisco

Foto retirada de: https://www.bbc.com/portuguese/articles/c4n504ek2jyo

A paz é possível, nunca me

cansarei de o repetir.

Francisco

Não se pode dizer que tenha sido uma notícia inesperada, mas depois de a conhecermos, o impacto não deixa de ser enorme, pois a figura era eminente também. Claro que há papas de todos os estilos, mas o de Francisco era deveras cativante, com o seu apego sincero, notório, visceral mesmo, aos marginalizados e desafortunados deste mundo — vítimas das pobreza, doença, guerra e violência de todos os tipos, incluindo os abusados sexualmente dentro da própria Igreja.

Guerra e violência de que fogem muitos dos migrantes que chegam às praias da Europa e à fronteira entre o México e os Estados Unidos, em busca de uma vida melhor, tantas vezes com risco da própria vida. Francisco, descendente de migrantes italianos que escaparam a um naufrágio, tinha pelos migrantes um carinho muito especial. Foi por isso que se deslocou, logo no início do seu pontificado, à minúscula ilha mediterrânica de Lampedusa, em cujas águas pereceram tantos seres humanos, para “despertar as nossas consciências e apelar às nossas responsabilidades”, tal como escreve na sua autobiografia. Para ele, “emigração e guerra são duas faces da mesma moeda.”

Depois, deslocar-se-ia ainda três vezes à ilha grega de Lesbos, de onde recolheu dezenas de migrantes traumatizados pela violência da guerra, incluindo famílias inteiras que trouxe consigo para Roma.

Francisco foi um defensor intransigente da paz. A sua visão da religião era diversa da de tantos líderes religiosos que ainda hoje advogam a guerra, tal como alguns líderes católicos o fizeram em tempos. Francisco pediu várias vezes perdão pelos pecados da Igreja. Esse reconhecimento foi importante, tal como o foi o seu ecumenismo, pois só com o exemplo da tolerância poderemos aspirar a que outros se tornem também tolerantes.

Alguns filósofos, como Immanuel Kant ou Karl Popper, acreditavam que a razão é a única via possível para alcançar a paz. Eles sabiam que o fervor religioso poderia facilmente transformar o amor universal em ódio aos não crentes. (Uma vez que o nosso deus nos seja revelado, é difícil aceitar que outros não o vejam). Mas Francisco provou, com o seu exemplo, que coração e razão podem coexistir harmoniosamente. A razão leva-nos a pensar, planear e sonhar, mas é o coração que nos impele a agir.

******************************

Referências:

Esperança, Francisco/Carlo Musso, Editora Nascente, Lisboa, 2025.

******************************

Desconhecida's avatar

Autor: Jorge Costa

Fez percursos académicos nas áreas das Filosofia, Comunicação Social, Economia, Gestão dos Transportes Marítimos e Gestão Portuária, e estuda outras disciplinas científicas. Interessa-se igualmente por Arte, nas suas diversas manifestações, e também por viagens. Gosta de jogar xadrez. O seu autor preferido, desde que se lembra, é Karl Popper. Viveu em locais diversos, sobretudo em Portugal e no Brasil, pelo que se considera um cidadão do mundo. Atualmente vive em Cabanas, no Sotavento algarvio. Gosta de revisitar, sempre que pode, a bela cidade de Lisboa e, nela, o bairro onde nasceu, Alfama, o mais popular da capital, de traça árabe, debruçado sobre o Tejo — esse rio mítico, imortalizado por Camões e Pessoa, poetas maiores da Língua Portuguesa. Não é, porém, um bairrista, característica que deplora, a par dos clubismo, partidarismo e nacionalismo. Ama a Liberdade.