Vargas Llosa

Uma boa síntese do pensamento político de Llosa.

Morreu Mário Vargas Llosa, um escritor com uma clara faceta política, à semelhança de alguns colegas de profissão, seus contemporâneos, como García Márquez ou José Saramago. Não lemos muitos livros de Llosa (a lista pode ser consultada aqui), mas os que lemos são suficientes para percebermos que em todos eles, de ficção ou não-ficção, há uma defesa intransigente da liberdade. É isso que o distingue, por exemplo, de José Saramago, escritor que, do ponto de vista político, está nos antípodas de Llosa.

Estivemos há poucos meses na casa-museu José Saramago, em Lanzarote, e foi bastante interessante a visita (relatada aqui), inclusive por termos ficado a saber que, já perto do final da sua existência, Saramago recebeu, naquela bela moradia, Vargas Llosa. Não sabemos sobre o que conversaram. Mas sabemos que ambos os autores, sobretudo após receberem os respetivos prémios Nobel, percorreram o mundo dando entrevistas e conferências. Essas intervenções tinham um forte pendor político, e, sobretudo através delas, ambos se consolidaram como famosos ativistas políticos.

Dado que José Saramago era um típico pensador comunista, há uma tendência, nos seus apoiantes, de empurrar Llosa para a direita (ou mesmo para a extrema-direita), mas a verdade é que Vargas Llosa era um liberal clássico, inspirado em autores como Karl Popper, Isaiah Berlin ou Raymond Aron, amiudamente citados nas suas intervenções (por exemplo, aqui). Como temos dito, a liberdade não é de esquerda nem de direita — é a condição para que existam todas as gradações de direita e esquerda, inclusive aquelas que ameaçam a própria liberdade.

Liberdade nas suas mais variadas facetas: liberdade de expressão, liberdade de comércio, liberdade económica, liberdade de associação, reunião e manifestação, liberdade contratual, liberdade religiosa e, sobretudo, liberdade individual — a liberdade de cada um fazer da sua vida aquilo que lhe aprouver. É isto que é o liberalismo clássico, defendido por Mario Vargas Llosa: a emancipação do indivíduo relativamente a todas as formas de abuso do poder.

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Autor: Jorge Costa

Fez percursos académicos nas áreas das Filosofia, Comunicação Social, Economia, Gestão dos Transportes Marítimos e Gestão Portuária, e estuda outras disciplinas científicas. Interessa-se igualmente por Arte, nas suas diversas manifestações, e também por viagens. Gosta de jogar xadrez. O seu autor preferido, desde que se lembra, é Karl Popper. Viveu em locais diversos, sobretudo em Portugal e no Brasil, pelo que se considera um cidadão do mundo. Atualmente vive em Cabanas, no Sotavento algarvio. Gosta de revisitar, sempre que pode, a bela cidade de Lisboa e, nela, o bairro onde nasceu, Alfama, o mais popular da capital, de traça árabe, debruçado sobre o Tejo — esse rio mítico, imortalizado por Camões e Pessoa, poetas maiores da Língua Portuguesa. Não é, porém, um bairrista, característica que deplora, a par dos clubismo, partidarismo e nacionalismo. Ama a Liberdade.