Francisco

Foto retirada de: https://www.bbc.com/portuguese/articles/c4n504ek2jyo

A paz é possível, nunca me

cansarei de o repetir.

Francisco

Não se pode dizer que tenha sido uma notícia inesperada, mas depois de a conhecermos, o impacto não deixa de ser enorme, pois a figura era eminente também. Claro que há papas de todos os estilos, mas o de Francisco era deveras cativante, com o seu apego sincero, notório, visceral mesmo, aos marginalizados e desafortunados deste mundo — vítimas das pobreza, doença, guerra e violência de todos os tipos, incluindo os abusados sexualmente dentro da própria Igreja.

Guerra e violência de que fogem muitos dos migrantes que chegam às praias da Europa e à fronteira entre o México e os Estados Unidos, em busca de uma vida melhor, tantas vezes com risco da própria vida. Francisco, descendente de migrantes italianos que escaparam a um naufrágio, tinha pelos migrantes um carinho muito especial. Foi por isso que se deslocou, logo no início do seu pontificado, à minúscula ilha mediterrânica de Lampedusa, em cujas águas pereceram tantos seres humanos, para “despertar as nossas consciências e apelar às nossas responsabilidades”, tal como escreve na sua autobiografia. Para ele, “emigração e guerra são duas faces da mesma moeda.”

Depois, deslocar-se-ia ainda três vezes à ilha grega de Lesbos, de onde recolheu dezenas de migrantes traumatizados pela violência da guerra, incluindo famílias inteiras que trouxe consigo para Roma.

Francisco foi um defensor intransigente da paz. A sua visão da religião era diversa da de tantos líderes religiosos que ainda hoje advogam a guerra, tal como alguns líderes católicos o fizeram em tempos. Francisco pediu várias vezes perdão pelos pecados da Igreja. Esse reconhecimento foi importante, tal como o foi o seu ecumenismo, pois só com o exemplo da tolerância poderemos aspirar a que outros se tornem também tolerantes.

Alguns filósofos, como Immanuel Kant ou Karl Popper, acreditavam que a razão é a única via possível para alcançar a paz. Eles sabiam que o fervor religioso poderia facilmente transformar o amor universal em ódio aos não crentes. (Uma vez que o nosso deus nos seja revelado, é difícil aceitar que outros não o vejam). Mas Francisco provou, com o seu exemplo, que coração e razão podem coexistir harmoniosamente. A razão leva-nos a pensar, planear e sonhar, mas é o coração que nos impele a agir.

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Referências:

Esperança, Francisco/Carlo Musso, Editora Nascente, Lisboa, 2025.

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Vargas Llosa

Uma boa síntese do pensamento político de Llosa.

Morreu Mário Vargas Llosa, um escritor com uma clara faceta política, à semelhança de alguns colegas de profissão, seus contemporâneos, como García Márquez ou José Saramago. Não lemos muitos livros de Llosa (a lista pode ser consultada aqui), mas os que lemos são suficientes para percebermos que em todos eles, de ficção ou não-ficção, há uma defesa intransigente da liberdade. É isso que o distingue, por exemplo, de José Saramago, escritor que, do ponto de vista político, está nos antípodas de Llosa.

Estivemos há poucos meses na casa-museu José Saramago, em Lanzarote, e foi bastante interessante a visita (relatada aqui), inclusive por termos ficado a saber que, já perto do final da sua existência, Saramago recebeu, naquela bela moradia, Vargas Llosa. Não sabemos sobre o que conversaram. Mas sabemos que ambos os autores, sobretudo após receberem os respetivos prémios Nobel, percorreram o mundo dando entrevistas e conferências. Essas intervenções tinham um forte pendor político, e, sobretudo através delas, ambos se consolidaram como famosos ativistas políticos.

Dado que José Saramago era um típico pensador comunista, há uma tendência, nos seus apoiantes, de empurrar Llosa para a direita (ou mesmo para a extrema-direita), mas a verdade é que Vargas Llosa era um liberal clássico, inspirado em autores como Karl Popper, Isaiah Berlin ou Raymond Aron, amiudamente citados nas suas intervenções (por exemplo, aqui). Como temos dito, a liberdade não é de esquerda nem de direita — é a condição para que existam todas as gradações de direita e esquerda, inclusive aquelas que ameaçam a própria liberdade.

Liberdade nas suas mais variadas facetas: liberdade de expressão, liberdade de comércio, liberdade económica, liberdade de associação, reunião e manifestação, liberdade contratual, liberdade religiosa e, sobretudo, liberdade individual — a liberdade de cada um fazer da sua vida aquilo que lhe aprouver. É isto que é o liberalismo clássico, defendido por Mario Vargas Llosa: a emancipação do indivíduo relativamente a todas as formas de abuso do poder.

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As minhas 30 praias mais belas do mundo

Cada vez mais publicações de viagens se juntam às já muitas que listam, classificam e ordenam todo o tipo de coisas. Praias é uma das mais comuns. Claro que as classificações são sempre muito, mas mesmo muito, subjetivas. Para prová-lo, decidimos também elaborar a nossa lista. Sem ranking, porque todas a praias aqui apresentadas são bonitas, cada uma à sua maneira, não sendo possível, pelo menos para nós, estabelecer uma hierarquia, pelo que a ordenação é arbitrária. Tratam-se apenas de praias que nos marcaram — praias inesquecíveis — e que abrangem pontos distantes das Caraíbas, do Pacífico, do Mediterrâneo, do Índico, dos Atlântico Norte e Atlântico Sul, e até de um mar interior! Quem ama viajar sabe que as viagens se prolongam no tempo através das recordações que guardamos. O nosso cérebro tem ainda a capacidade de juntar pedacinhos dessas recordações e de várias viagens fazer uma viagem nova. As minhas 30 praias mais belas do mundo constitui, portanto, um pretexto para realizarmos, através da memória, o que mais gostamos — viajar.

1- Praia do Sancho, Fernando de Noronha, Brasil

Situada na costa norte da ilha principal do arquipélago Fernando de Noronha, é uma praia de águas claras, límpidas, com uma temperatura do mar extremamente agradável, diferente da “sopa” da maioria das praias do Nordeste brasileiro, mas, ainda assim, muito longe de ser fria. Cercada por altas escarpas, o acesso só é possível por mar ou por uma passagem escavada na rocha, onde cravaram uma escada de ferro que desce, na vertical, até à praia. Este acesso difícil torna-a ainda mais exclusiva. Nós tivemos oportunidade de visitar a praia do Sancho por terra e por mar, descendo e subindo a escada de ferro (só passa uma pessoa de cada vez) e alugando um barco, que fundeou na pequena baía, enquanto fazíamos snorkeling e nos deslumbrávamos com uma multidão de peixes coloridos sob os nossos olhos encantados. Convém acrescentar que o arquipélago Fernando de Noronha é um paraíso, mesmo para os mais exigentes amantes do mergulho.

Sancho.

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2- Ponta Ruiva, Costa Vicentina, Portugal

Portugal tem praias fantásticas, mormente na região onde vivemos, o Algarve. Todas a praias das ilhas-barreira da Ria Formosa, no Sotavento, são belíssimas (Cacela, Ilha de Tavira, Terra Estreita, Barril, Homem Nu, Fuzeta, Ilha Deserta, etc.), bem como tantas outras no Barlavento (Garrão, Olhos d’Água, Marinha, Benagil, Carvalho, Ferragudo, Ponta da Piedade, etc.) ou, mais para norte, as muitas que podemos destacar entre Algarve e Minho, e que poderíamos considerar como “a mais bonita”. De facto, a costa ocidental também abrange o Algarve, e é aí que encontramos as praias algarvias menos frequentadas, diferentes, mas igualmente belas. Uma dessas praias, no concelho de Vila do Bispo, não tem qualquer infraestrutura ou apoio, a não ser uma estrada de terra batida, nem nenhuma indicação em qualquer ponto que nos permita localizá-la. A única forma de lá chegar, sem ser por acaso, é perguntando, conhecendo o caminho ou usando o GPS. No entanto, mesmo sabendo que o carro vai levar um banho de pó, vale a pena. A Ponta Ruiva está rodeada por falésias de xisto negro e estende-se por uns 500 metros de areal. Pouco frequentada, mesmo no pico de Verão (a maioria das poucas pessoas são estrangeiros e surfistas), permite uma ligação mais forte ao ambiente circundante. A água é cristalina e fresca, por vezes deliciosa, e a praia é simplesmente linda.

Ponta Ruiva.

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3- Anse Soleil, Mahé, Seychelles

Nas Seychelles, como não podia deixar de ser, encontram-se algumas das praias mais belas do Oceano Índico e do mundo. Esta fica na ilha principal, Mahé, onde a praia mais badalada é, sem dúvida, Beau Vallon. Mas Anse Soleil é incomparavelmente mais charmosa. A areia finíssima e clara parece pó de talco. O mar tem aquela coloração típica dos trópicos, imaculada por não ter nenhum rio que o corrompa por perto, com uma temperatura perfeita, entre os 23-24 graus. Uma casinha e um pequeno bar de madeira entre a profusa vegetação tornam-na ainda mais acolhedora, apesar de não a tornarem menos natural. Chegámos a esta praia de manhã bem cedo, quando ainda não havia ninguém. Durante duas horas, antes que o sol mordesse, desfrutámos dos encantos da bela Anse Soleil.

Anse Soleil.

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4- Cala Goloritzè, Sardenha, Itália

Quando chegámos à Sardenha ficámos surpreendidos com a beleza da ilha. Enorme, a Sardenha é diversificada, com montanhas, praias e uma rica gastronomia. A praia Cala Goloritzè fica na costa leste, integrada no Parque Nacional Gennargentu, e é banhada pelo Mar Tirreno. Trata-se de uma praia pequenina, de difícil acesso, com águas de um azul-turquesa, quase surreal. Dado que as embarcações de recreio não podem chegar junto à praia, a única maneira de atingi-la é fazendo um percurso de hora e meia, a pé, mais umas duas horas para voltar. Para a praia é quase sempre a descer, mas a volta, quase sempre a subir, demora mais tempo e custa mais. Mas, mais uma vez, vale a pena: em Cala Goloritzè sentimo-nos longe de todos os problemas do mundo.

Cala Goloritzè.

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5- Le Morne, Maurícias

É a melhor praia da Maurícia, situada no extremo sudoeste da ilha, sob o monte Le Morne Brabant. Trata-se de uma praia pública, bastante frequentada pelos locais, mas também por turistas. As suas águas cálidas e calmas, e o ambiente morno, convidam ao langor e ao esquecimento. Podemos perder a noção do tempo e ficar até o sol se pôr e mais além. Foi isso mesmo que nos aconteceu, não apenas a nós mas também a alguns outros que fruíam daquele fim de dia, sem quebra abrupta de temperatura, mesmo quando o último raio de sol caiu no horizonte, absortos pelos cambiantes do fogo refletido pela abóbada celeste. Por ali ficámos, esquecidos… Le Morne, porém, é mais uma praia inesquecível!

Le Morne.

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6- Saline les Bains, Reunião, França

Não longe das Maurícias, a uns 200 quilómetros, e ainda no arquipélago de Mascarenhas, descoberto pelos portugueses, fica a ilha de Reunião, uma região de França. E na ilha de Reunião, bem maior e mais diversificada do que as Maurícias, encontra-se uma praia de sonho chamada Salines les Bains. Situada na costa oeste e protegida por uma barreira de recifes, a praia é calma, com mar tranquilo e muitas árvores que nos protegem nas horas de maior calor. A temperatura do mar é menos quente que nas Maurícias e está dentro daquele padrão excelente, entre os 23-24 graus. A areia é branca, salpicada de folhas e raminhos que caem das árvores. Visualmente a praia é muito bonita, destacando-se os azuis do mar e do céu, os verdes da vegetação e os brancos do areal.

Saline les Bains.

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7- Khao Phing Kan, Phuket, Tailândia

Khao Phing Kan é uma pequena ilha no seio da baía Phang Nga, na província de Phuket, na Tailândia. Desde 1974, é também conhecida por ilha James Bond, depois de terem sido ali filmadas cenas do filme O Homem da Pistola de Ouro. Esta ilha é constituída por duas formações rochosas, entre as quais existe uma pequena porção de areia, com pouco mais de 100 metros de largura, a qual forma uma praia simultaneamente virada a Norte e a Sul. Uma rocha calcária de 20 metros de altura, e com cerca de 4 metros de diâmetro junto à água e 8 metros de diâmetro no topo, confere uma exotismo suplementar a esta praia surpreendente. Este mar interior é sempre calmo e, claro, só se pode aceder a este lugar paradisíaco de barco: numa lancha rápida, desde Phuket ou, se se for aventureiro(a), remando num caiaque alugado. Seja de que maneira for, é certo que vale a pena.

Khao Phing Kan.

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8- Goisier, Guadalupe, Antilhas Francesas

E, por falar em ilhas, esta é uma ilha minúscula a poucos metros da costa, não muito longe da capital de Guadalupe — Pointe-a-Pitre — acessível através de pequenas lanchas que trazem os banhistas de Goisier até esta ilhota com o mesmo nome, em qualquer horário, entre as 8:00 e as 17:00, dependendo do número de passageiros a transportar. Por ter uma parte abrigada dos ventos e correntes, há uma zona da ilha em que a praia é uma autêntica piscina. A água é de uma limpidez, de uma transparência e de uma cor impressionantes. Embora bastante frequentada aos fins de semana e feriados, durante a semana não se encontra muita gente nesta mimosa ilha. Ali se encontra um farol que vale a pena visitar e há ainda a possibilidade de comer e beber no pequeno bar localizado logo à saída do pontão dos barcos. Trata-se de uma ilhota linda, com muitas árvores, proporcionando sombra quando o corpo já reclama do sol. Mais uma praia verdadeiramente inesquecível.

Goisier.

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9- Patacho, Alagoas, Brasil

Entalada entre uma densa mata de coqueiros e o mar, esta praia é das visualmente mais bonitas do Brasil. Ainda por cima é uma praia pouco conhecida e pouco frequentada, pois está um pouco longe da capital de Alagoas, Maceió. As praias deste estado são das melhores do Brasil, sobretudo pela coloração das águas, mais turquesas no Verão, devido às correntes e ventos favoráveis. A melhor altura para visitar o Patacho é ao nascer-do-sol, quando o calor não aperta tanto e o banho de mar é realmente refrescante. Depois, quando o sol sobe, o melhor é procurar uma sombra. Não devemos esquecer-nos de que a água aqui é quente e o sol escaldante. Assim, o melhor é sempre visitar esta praia, situada entre Porto de Pedras e Tatuamunha, quando o sol está baixo, para se poder desfrutar na plenitude de todos os atributos que este local deslumbrante tem para nos oferecer.

Patacho.

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10- Batibou, Dominica

O acesso é complicado e, a menos que se tenha um 4×4, tem sempre de se descer e subir a colina de acesso à praia — de cerca de 1 km — a pé. Além disso, esta praia fica fora dos centros urbanos, nomeadamente da capital Roseau, de onde se tem de percorrer cerca de 80 quilómetros até chegar a esta bela praia, situada no extremo nordeste da não menos bela (a mais verde das Antilhas Orientais) ilha de Dominica. O mais comum para aqui chegar é alugar um carro, mas nós preferimos o transporte coletivo, viajámos nas vans com os habitantes locais, tornando assim esta experiência ainda mais inesquecível. Tudo isto faz com que a praia de Batibou pertença à categoria das praias exclusivas, com muito pouca gente em qualquer altura do ano. Quando aqui estivemos só havia outro casal na praia, além de nós e dois guardas privados, de serviço. Sim, a praia é privada e tem de se pagar 5 dólares para se ter acesso a este pedaço do paraíso. Em contrapartida, temos direito a usar as instalações sanitárias, a ouvir os conselhos e informações dos guardas, a comer e beber algo magnífico no bar de madeira — absolutamente integrado no ambiente — comandado por uma ousada chef, formada em Nova Yorque, mas que, infelizmente, no dia em que aqui estivemos, estava fechado. As vistas do caminho de terra que liga a estrada principal à praia são igualmente fabulosas.

Batibou.

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11- Coqueirinho, Paraíba, Brasil

É, sem qualquer dúvida, a melhor praia da Paraíba e uma das melhores do Brasil. Tivemos a felicidade de morar perto, em Carapibus, pelo que vínhamos com frequência a esta praia, bem como a Tambaba, Praia Bela, Jacumã, entre outras da Costa do Conde. Adorávamos fazê-lo de bicicleta. A praia do Coqueirinho tem uma particularidade: uma pequena baía virada a Norte (protegida das predominantes correntes de sul) e uma zona mais aberta ao mar, com ondas mais fortes (como se vê na foto). Isto torna-a ideal para famílias com crianças, mas também para banhistas mais ousados. Os coqueiros fornecem alguma da sombra indispensável, pois já se sabe como o sol aqui é perigoso, mas também os vários restaurantes e bares por detrás dos coqueiros. Aqui se encontra, talvez, o melhor restaurante do Brasil para se degustar uma taínha grelhada na brasa ou frutos do mar — o Canyon de Coqueirinho.

Coqueirinho (foto de Fla).

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12- Barril, Algarve, Portugal

E por falar em morar perto, tal como no Brasil, também em Portugal moramos junto ao mar e, claro, isso não é por acaso. No Sotavento algarvio encontram-se as melhores praias portuguesas e da Europa. Sob vários aspetos, Cacela Velha, Cabanas, Terra Estreita, Fuseta e a praia do Barril, aqui representada, estão entre as melhores do mundo. São diferentes das praias tropicais, com menos sombra natural — pois aqui chove muito pouco — mas isso pode ser colmatado com um bom chapéu de sol. De resto, as águas são magníficas, o areal fino, e a Ria Formosa (parque natural), paralela às praias, faz com que estas se transformem em ilhas (na verdade, ilhas-barreira), conferindo-lhes uma beleza muito peculiar. A Ria Formosa, com a sua panóplia de aves que aqui nidificam e se alimentam, fornece também as magníficas ostras que se comem em casa ou nos restaurantes locais. É, por isso, natural que, no Verão, aqui cheguem turistas de todo o mundo. Estas praias são encantadoras. E o Barril, com o seu pequeno comboio de acesso à praia, os seus pequenos bares instalados nos antigos e bem restaurados alojamentos do arraial dos pescadores de atum, e o seu cemitério de âncoras, tem um encanto especial.

Barril.

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13- Ffryes, Antigua e Barbuda

As praias de Antigua (não visitámos Barbuda) são excecionais. É, de facto, muito difícil, se não impossível, escolher qual a melhor delas. A Ffryes Beach, na costa ocidental da ilha, virada, portanto, para o Mar das Caraíbas, tem uma beleza particular. Mais pequena que as praias de Hermitage, Pearns ou Jolly, a Ffryes Beach é uma praia extremamente atraente do ponto de vista visual, com o seu mar tipicamente caribenho, as suas palmeiras, o seu areal branquíssimo e os seus banquinhos amarelos — uma pincelada final humana num quadro, no essencial, pintado pela Mãe Natureza. A fruição só se torna completa depois, claro, de um mergulho nas águas magníficas. A temperatura, muito provavelmente — pelo menos às 10 da manhã — deverá estar na casa dos 24º, portanto, dentro do limite considerado por nós ideal (23º/24º). Esta é sem dúvida uma das praias mais bonitas entre as muitas em que já estivemos.

Ffryes.

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14- Grande Anse, Grenada

Ainda nas Antilhas Orientais, mas 300 milhas náuticas para Sul, já muito perto do continente sul-americano, encontra-se a ilha de Granada e é aqui que podemos fruir de outra praia fabulosa — a Grand Anse. Inserida numa larga baía (Grand Anse Bay) a sul da capital, Saint George, é, como o nome indica, extensa, grande. Faz lembrar bastante a Plage des Salines, em Martinica, que, não por acaso, também é conhecida por Grande Anse des Salines (há várias praias “Grande Anse” no mundo). Trata-se de uma praia tipicamente caribenha. A zona nordeste é mais frequentada — com apoios de praia e, inclusive, uma praça, de bares e restaurantes, com wifi gratuito — enquanto a parte sudoeste (na foto) tem menos apoios e é menos frequentada. Aí podemos com relativa facilidade encontrar uma sombra natural debaixo de uma árvore. Ainda um pouco mais para sul, 10 minutos a pé, encontramos uma praia muito mais pequena, mas igualmente belíssima — a Morne Rouge Beach, também conhecida por BBC Beach.

Grande Anse.

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15- Seven Mile, Ilhas Caimão

Bem perto da capital das Ilhas Caimão, George Town, fica uma praia que faz lembrar Miami Beach, mas que é muito mais bonita e acolhedora. De facto, tal como Miami Beach, também esta praia sofre a influência do clima das Caraíbas e também ela tem uma orla de hotéis prontos a receber os turistas, sobretudo americanos, só que numa escala muito menor. Isso torna esta extensa praia de areia macia e branca — de uma alvura imaculada — extremamente agradável. Mais uma vez, a água do mar tem uma temperatura ótima, além de possuir, como não podia deixar de ser, aquela cor tão característica do Caribe. Pelicanos, iguanas, tartarugas, entre outros, convivem na praia com os humanos, habituados à sua presença.

Seven Mile.

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16- Nacpan, Palawan, Filipinas

As Filipinas, compostas por milhares de ilhas, são um paraíso para quem gosta de praias e encontram-se, sem margem para dúvidas, entre o conjunto de países com as mais belas e melhores praias do mundo. De todas essas ilhas com praias magníficas, nós só estivemos numa delas — Palawan. Trata-se de uma ilha bastante grande, com pequenas ilhas-satélites, em torno. Claro que nestas ilhas mais pequenas há praias deslumbrantes, algumas das quais visitámos (em tours turísticos e também em passeios de caiaque). Mas a praia de Nacpan é muito especial para nós porque ali passámos seis dias e seis noites, vimos seis vezes o sol de pôr, jantámos seis vezes na praia, e multiplicámos por seis os mergulhos que demos todos os dias nessa calma e paradisíaca praia filipina, que jamais esqueceremos.

Nacpan.

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17- Thomas Beach, Bali, Indonésia

As praias de Bali não são em geral tão bonitas quanto as das Filipinas (esta comparação é devida a termos viajado de um país para outro), mas há igualmente algumas praias lindíssimas nas ilhas de Bali. A Thomas Beach é uma delas. Relativamente abrigada — não é totalmente calma mas também não é particularmente perigosa — proporciona banhos deliciosos numa água límpida e de temperatura agradável, no seio de uma pequena baía. Tem também a vantagem de não ser muito frequentada, pois está relativamente afastada dos principais pontos turísticos: quando aqui estivemos, num dia de manhã, não estariam na praia mais de dez pessoas. Rodeada de vegetação, esta praia é também muito bonita, uma das mais belas que tivemos o privilégio de conhecer.

Thomas Beach.

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18- Brandons, Barbados

Há tantas praias em Barbados que torna-se quase impossível eleger uma delas como a mais bonita. Quando ali estivemos visitámos belíssimas praias, a maioria delas a sul da capital, Bridgetown, tal como Brownes, Pebbles e Bayshore, inseridas na Carlisle Bay. Tal como acontece em todas as ilhas caribenhas, as praias mais calmas e próprias para banhos ficam na costa oeste — é o caso das praias referidas e também de Brandons, que é, no fundo, a praia mais perto de Bridgetown, mas desta feita a norte da capital. É por isso mais frequentada pelos locais e não tanto por turistas, mais natural e com menos infraestruturas. Tipicamente caribenha, esta praia tem a água turquesa tão característica desta região, e é calma, com uma temperatura dentro dos nossos parâmetros ideais (23º, 24º). Dada a sua tranquilidade pode ser frequentada por todo o tipo de pessoas, incluindo crianças e idosos. A areia é macia, fina, de um branco imaculado.

Brandons.

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19- Praia del Carmen, México

Nem todas as praias incluídas na nossa lista têm a característica da exclusividade. Há algumas praias lindas bastante frequentadas, como é óbvio. Uma delas é a Playa del Carmen, situada na Península de Yucatán, no México, onde turistas de todo o mundo, sobretudo norte-americanos, a procuram durante quase todo o ano. Hotéis, restaurantes, lojas diversas, bares, pululam ao longo da costa, criando as condições necessárias para o turismo de massas. Mas a praia em si não tem culpa, e, afinal, as estruturas que a rodeiam não lhe retiram beleza. A cor turquesa das suas águas parece aqui ainda mais intensa, em contraste com a alvura da areia; e as ondas médias, que normalmente ocorrem, fazem as delícias de quem, como nós, gosta de se divertir no mar.

Playa del Carmen.

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20- Anse Noire, Martinica

Martinica é uma ilha caribenha com praias lindíssimas, mas Anse Noire é uma praia diferente, embora linda também. Inserida numa pequena e bela enseada, rodeada de vegetação, a areia desta praia é negra, de origem vulcânica — daí o seu nome. Para chegar e sair da praia (se não se for de barco) tem de se descer e subir centenas de degraus. Mas vale a pena. A água do mar é uma delícia e a praia tem muita sombra natural. Além disso, foi ali construído um pontão de onde se pode mergulhar diretamente no mar. Quando olhamos de cima, da colina de acesso, combinam-se o azul do mar, o verde da vegetação, o branco da espuma das ondas e o negro da areia ulcânica, num quadro tropical, exótico, de beleza singular.

Anse Noire.

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21- Sugar Beach, Santa Lúcia

Sugar Beach é uma praia magnífica situada na ilha de Santa Lúcia, mais concretamente na costa sudoeste, entre as montanhas gémeas Pitons, símbolos da ilha e, desde 2004, Património Mundial, classificadas pela UNESCO. Entre as Pitons situa-se a baía homónima, onde, precisamente, se encontra Sugar Beach. A ilha é de origem vulcânica e, portanto, a areia desta praia, cujo nome mais antigo é Jalousie Plantation Beach, era negra. Mas desde que para aqui trouxeram areia branca do Gana, alteraram-lhe o nome. No entanto, a coisa mais extraordinária aqui não é a areia, que não se assemelha a um açúcar tão branco assim — é mesmo a água, incrivelmente transparente. Apesar de o acesso à praia só ser possível através do Viceroy Hotel (um alojamento de luxo que não está ao alcance de todas as bolsas), a sua fruição não é exclusiva dos hóspedes e qualquer banhista está protegido pela legislação de Santa Lúcia, que define como livres todas as praias do país.

Sugar Beach.

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22- Long Beach, África do Sul

As praias da zona da Cidade do Cabo, na África do Sul, são de água bem fria, embora na costa oeste seja ainda mais fria — devido à Corrente de Benguela — do que na costa sul, estando esta inserida na Baía Falsa (False Bay). Consequentemente, as praias mais próximas da Península do Cabo, dentro desta baía, estão protegidas das correntes e do vento predominantes, e são por isso mais calmas e seguras, logo, melhores para banhos. Entre elas, encontram-se a célebre Boulders Beach (praia onde existe uma colónia de pinguins, que visitámos) e também Long Beach, mesmo ao lado da cidade portuária de Simon’s Town. A água é límpida e fresca, perfeitamente aceitável quando a temperatura do ar é elevada, como foi o caso quando ali mergulhámos. Visualmente, esta praia, à semelhança da maioria na zona, é bela. Guardamos grandes recordações de Long Beach e de toda a região do Cabo.

Long Beach.

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23- Concha Perla, Isabela, Galápagos

O arquipélago das Galápagos fica mesmo em cima do Equador. Mas o que muita gente não sabe é que, apesar disso, a água que banha estas ilhas é fresquinha — embora não demasiado. Isto deve-se à corrente fria de Humboldt, que sobe desde a Antártida. Quando estivemos nas Galápagos visitámos todas as ihas habitadas, à exceção de Floriana, mas foi em Isabela, a maior de todas, que decidimos banhar-nos. Nesta ilha fica a praia de Concha Perla, a uns meros 200 metros do pequeno porto de passageiros, bastando percorrer um passadiço de madeira para aceder à praia. Esse passadiço tem umas escadas, através das quais se entra diretamente na água e se sai dela. Água límpida e quase parada, com um fundo rochoso perfeitamente visível quando nadamos nesta espécie de lagoa protegida. É normal verem-se lobos marinhos, pinguins e iguanas marítimas, em redor.

Concha Perla.

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24- Ses Illetes, Formentera, Espanha

Esta praia fica situada numa comprida e fina língua de areia, que parece, mais tarde ou mais cedo, vir a ficar submergida pelas águas do Mediterrâneo, que a cercam. Trata-se de uma praia aberta, muito exposta ao vento, como pudemos comprovar quando ali estivemos. A água é deliciosa, com cambientes de azul e turquesa — e incrivelmente transparente. A temperatura é ótima, dentro dos nossos padrões de exigência. Ses Illetes é considerada por muitos a praia mais bela da Europa, e está inserida no Parque Natural de Ses Salines, que alberga áreas terrestres e marinhas entre Ibiza e Formentera. A maior parte do parque (75%) é constituída pela área marinha, onde existe uma planta subaquática — a Posidonia oceanica — que forma vastos prados submersos, e onde se alimentam inúmeros peixes. Esta planta endémica liberta grandes quantidades de oxigénio, e é por isso responsável pela pureza da água, além de que minimiza o efeito da ondulação, contribuindo para a preservação de Ses Illetes e outras praias de Formentera.

Ses Illetes.

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25- Praia Miami, Luanda, Angola

Para chegar a esta praia tem de se percorrer grande parte da ilha do Cabo, mais conhecida por ilha de Luanda, até quase ao fim da avenida Murtala Mohammed, pois no início da ilha as praias ficam muito perto de um musseque e estão poluídas por todo o tipo de detritos. Mas no extremo norte da ilha, que na verdade é uma finíssima península, há boas praias. Uma delas é Miami Beach, cujo acesso por terra só é possível através de um restaurante com denominação homónima, e cujos funcionários não colocaram qualquer obstáculo quando ali estivemos com a intenção de utilizar a praia. A água é de uma textura pouco habitual, sedosa, com uma temperatura perfeita. O mar é calmo. Os banhos, em consequência, são deliciosos.

Praia Miami.

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26- Tarrafal, Santiago, Cabo Verde

O nome Tarrafal remete-nos para uma povoação situada no norte da ilha de Santiago, em Cabo Verde, e ainda para um porto de pesca, bem como para a melhor praia da maior ilha do arquipélago cabo-verdiano. Além disso, remete-nos também para uma prisão de triste memória, hoje transformada em museu. Tudo isto visitámos quando ali estivemos. A praia do Tarrafal é excelente para banhos, embora não tenha os tons turquesa de algumas outras praias que já visitámos. A temperatura da água é excelente e normalmente não possui correntes perigosas, nem ondas fortes, por ser uma praia semi-abrigada. Conviver com os pescadores e as vendedoras de peixe é um prazer extra. Bem como degustar um desses peixes, fresco, grelhado no restaurante Sol e Luna, depois do banho de mar.

Tarrafal.

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27- Doctor’s Cave, Montego Bay, Jamaica

As praias em torno de Montego Bay, a segunda maior cidade da Jamaica, no norte da ilha, são muito tranquilas e o mar praticamente não tem ondas. Surpreendentemente, quando ali estivemos, a água do mar, que apresenta a típica coloração caribenha, estava relativamente fria. Foi-nos dito que tal se devia a um tipo de corrente, pouco habitual, que em alguns períodos do inverno passa por ali. Mas, quando está calor, uma água mais fresquinha até que sabe bem… E foi isso que aconteceu na Doctor’s Cave Beach: tomámos um belo banho e pudemos apreciar o agradável contraste da água fresca e do ar morno, singularidade de uma praia caribenha, que contribuiu para a tornar ainda mais inesquecível.

Doctor’s Cave.

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28- Indian Bay, São Vicente e Granadinas

São Vicente e Granadinas é um país fantástico, com praias fantásticas e gente fantástica. Elegemos Indian Bay como poderíamos ter escolhido, por exemplo, a Young Island, uma ilhota ali perto, onde também estivemos. A eleição de Indian Bay deve-se, sobretudo, ao facto de encontrarmos a praia completamente deserta quando ali chegámos — e é uma sensação incrível, que já experimentámos várias vezes, banharmo-nos numa praia deserta. (Às vezes é preciso irmos a desoras para que tal aconteça). Quanto ao resto, já quase tudo foi dito. As praias das Caraíbas são lindíssimas e esta não foge à regra: águas em tons turquesa, temperatura ótima, natureza em estado puro e, para quem gosta do mar, banhos irresistíveis. Indian Bay está viva na nossa memória, como se de lá tivéssemos voltado ontem.

Indian Bay.

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29- Maho Beach, São Martinho

Trata-se de uma praia perpendicular ao aeroporto de São Martinho, na parte neerlandesa desta pequena ilha, dividida ao meio entre o norte francês e o sul neerlandês. Por estar muito perto do aeroporto, os aviões passam a baixa altitude sobre a praia, proporcionando fotos curiosas, profusamente difundidads na net, tornando esta praia famosa em todo o mundo. O maior perigo acontece quando os aviões descolam, pois a deslocação de ar provocada pelos potentes motores pode projetar as pessoas que, na praia, estão no enfiamento do túnel de vento provocado pelas descolagens. Já aconteceram acidentes fatais por este motivo. À parte disto, a praia é magnífica, com ondulação moderada, ótima para quem gosta de se divertir na água — que aqui tem as características próprias das praias caribenhas, dentro dos padrões mais exigentes.

Maho.

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30- Lago Thun, Suíça

Para a nossa lista ficar completa só faltava uma praia de água doce. Mas não uma praia qualquer. Trata-se, mais propriamente, de uma praia distribuída por vários locais situados num lago de água doce, melhor, num mar interior, localizado no seio do continente europeu, entre as suas montanhas mais altas, em plena Suíça. E não, a água não é fria, nem suja, e muito menos imprópria para banhos — é uma água que até se pode beber! Banharmo-nos no Lago de Thun foi das melhores experiências que já tivemos. E, sinceramente, não imaginávamos, antes da viagem de carro que fizemos até à Suíça, em plena pandemia, que este magnífico país tivesse tanto para oferecer. Em praticamente todas as principais cidades da Suíça se pode ir a banhos. Nós fomos e não nos arrependemos.

Lago de Thun.

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Ibiza e Formentera

Centro histórico da Cidade de Ibiza. Eivissa, na língua catalã.

Visitar as ilhas Pitiusas (Ibiza, Formentera e outras ilhas menores) no início de abril tem algumas vantagens. Os preços das passagens aéreas e dos alojamentos são muito mais baratos porque a procura é menor. E por haver menos gente circula-se melhor nas estradas (o que é importante, para quem, como nós, aluga carro), há mais espaço nas praias, menos filas nos restaurantes, mais desafogo nos locais frequentados pelos turistas. Nas nossas viagens o principal objetivo é conhecermos a realidade local, e como tal só é possível contactando com as pessoas, isso torna-se muito mais fácil quando o fluxo turístico é menos intenso. É por isso que viajar em abril é ótimo.

Claro que o tempo, à partida, não será tão quente e tão descoberto como no verão, mas nós temos bom tempo durante quase todo o ano onde moramos e, por isso, esse factor não é essencial para nós, até porque onde houver boas praias certamente as aproveitaremos, pois estamos habituados, mesmo no inverno, a banharmo-nos nas águas do Algarve. Foi exatamente o que aconteceu nesta viagem: o tempo não esteve famoso (sobretudo por causa do muito vento), mas isso não nos impediu de fruirmos do mar, quer em Ibiza, quer em Formentera.

A nossa estadia nas ilhas Pitiusas durou três dias e meio, iniciou-se no dia 2 e terminou no dia 5 de abril.

Cala Salada, Ibiza. Cala significa “angra”.

Saímos de casa bem cedo, às 5:30, e fomos de Uber até o aeroporto de Faro, por 38€. Apanhámos um primeiro voo para Barcelona e, depois, outro para Ibiza, através da Vueling. Chegámos a Ibiza às 14:50. Levantado o carro na empresa local K-10 (78€ com seguro contra todos), seguimos viagem em direção ao alojamento. Fizemos uma paragem num bar que fica a caminho — Can Jordi Blues Station — onde há música ao vivo às quintas-feiras e sábados. Eu comi um pastel típico, com recheio de peixe, acompanhado de uma cervejinha e a Fla pediu uma empanada de frango e uma garrafa de água. Pagámos 8,30€. O ambiente é descontraído, com muitos estrangeiros e o fumo de maconha sobrevoando a esplanada, fronteira à EI-700, que liga Eivissa (a capital) a Sant Antoni, passando por Sant Josep.

É neste município que se situa o alojamento, onde nos instalámos, num empreendimento turístico (Club Aquarium), muito perto de uma bela praia abrigada, a Cala Vedella. O local é excelente, mas é imprescindível ter carro ou outro meio de transporte. Chegámos sem dificuldade, graças às boas indicações da proprietária do pequeno apartamento. Muito pequeno, de facto, mas também muitíssimo bem equipado, com tudo o que é necessário para cozinhar, o que dá sempre jeito quando o orçamento não é ilimitado. Convém referir, neste ponto, que o alojamento nas Baleares é muito caro, sobretudo na época alta. Foi preciso pesquisar bastante até encontrar este cantinho, através da airbnb, pelo custo de 309,84€, para os três dias.

Benirràs.

Uma vez tudo verificado, e arrumados os nossos pertences (só transportávamos duas pequenas mochilas, pelo que não pagámos bagagem à companhia aérea), saímos à descoberta da ilha. A primeira praia que visitámos foi Cala Salada, uma das mais badaladas de Ibiza, na região de Sant Antoni. Trata-se, de facto, de uma angra que alberga duas praias, separadas por formações rochosas — Cala Salada e Cala Saladeta. A água é límpida e pede-nos para entrarmos, mas deixáramos os fatos de banho no alojamento porque planeáramos dar apenas uma pequena volta… Mas falámos sobre isso, e muito provavelmente teríamos dado uns mergulhos se tivéssemos à mão os fatos de banho…

De Cala Salada fomos até a Cidade de Ibiza, onde comprámos os bilhetes de ferry para Formentera, a ilha gémea de Ibiza (embora muito mais pequena), que visitaríamos dois dias depois. Ambos os bilhetes, de ida e volta, custaram 70€. De seguida, viemos até Sant Josep para fazermos umas compras no supermercado. Comprámos dois meios-frangos, já temperados, três hamburgueres de cordeiro, fruta (laranjas, bananas, morangos e kiwis), ovos, batatas, cenouras, um pacote de esparguete sem glúten, coentros, manteiga, presunto (afinal, estávamos em Espanha…), pão, água e um sumo. Antes de regressarmos ao apartamento, já noite, passámos ainda por Cala Vedella. A Fla cozinhou uma das metades de frango e comêmo-la com o esparguete. De sobremesa, fruta. Estava tudo delicioso.

No restaurante Ca’s Pagès.

No dia seguinte — e já que acabámos de falar em comida — tomámos um belo pequeno almoço: ovos, presunto, pão, fruta e, no final, um belo café. Havia uma pequena máquina de fazer café no apartamento, e a proprietária tinha a despensa fornecida com alguns itens básicos, como chá, café, açúcar e azeite, entre outros. Saímos portanto cheios de energia, e dispostos a conhecer a ilha mais em profundidade. Passámos por Cala Vedella, logo à saída de casa, e seguimos para as praias de Comte. Estava sol, o que tornava as águas ainda mais cristalinas. Continuámos para Benirràs, no norte da ilha, e depois seguimos para Portinatx, ainda mais a norte, à medida que o céu se ia fechando. Mesmo assim deu para perceber que a praia de Benirràs é muito bonita, bastante mais do que a praia de Portinatx.

Entretanto, chegou a hora do almoço. Tínhamos planeado ir ao restaurante El Bigotes, mas era bem possível que estivesse fechado, o que se confirmou quando chegámos à Cala Mastella, onde se situa o restaurante, em cima da linha de água. Estavam a proceder a trabalhos de manutenção e disseram-nos que o El Bigotes abrirá ao público no dia 13 de abril. (As ondas do mar lavavam a lage onde assenta a esplanada do restaurante — deve ser giro comer ali, com os pés na água). Não desanimámos porque tínhamos uma boa alternativa (assim pensámos e depois confirmámos) e dirigimo-nos ao Ca’s Pagè, um restaurante típico especializado em carnes. Quem gosta da boa comida facilmente passa do peixe à carne, ou vice-versa, de modo que nos adaptámos rapidamente.

O percurso de carro no segundo dia em Ibiza.

E valeu a pena. Escolhemos uma especialidade da casa (arroz de matanzas) e secretos de porco, para, como se diz em Espanha, compartir. Mas antes comemos algumas entradas — pão, manteiga de alho, azeitonas e uma empanada de carne muito bem confecionada, que estava deliciosa. Eu bebi um copo de vinho tinto e a Fla bebeu água. As doses são enormes. Para fechar tomámos um típico café caleta — café, rum, conhaque, casca de limão, casca de laranja, canela e açúcar — feito por um jovem português, de Valença do Minho, que vive em Ibiza há 25 anos, de seu nome Feliciano, mais conhecido por Féli. No final, pagámos 80€ e saímos satisfeitos.

Deveríamos ter feito uma longa caminhada para ajudar a digestão, mas fomos de carro até à praia de Las Salinas — talvez a praia da ilha com a mais generosa extensão de areia — mas nem sequer saímos do carro, pois estava muito vento e o mar bastante agitado. Esta não é, seguramente, a praia mais bonita de Ibiza… Entretanto, o sol já estava baixo, mas decidimos voltar a Cala Salada e Cala Saladeta para aproveitarmos a luz, a beleza do local e tirarmos algumas fotografias. Da praia Salada para a Saladeta temos de percorrer um caminho que sobe e desce sobre as rochas. A praia Salada quase não tem areia, mas a Saladeta (que, na verdade, são duas praias pequeninas uma ao lado da outra) tem areia suficiente para se estender a toalha, pelo menos em abril — no verão deve ser extremamente difícil. Ainda fomos ao Can Jordi Blues Station, onde atuava uma banda rock, mas ouvimos só uma música, pois era quase noite, estava vento e nós estávamos de t-shirts e calções. O dia estava feito e voltámos ao alojamento.

Na dalt vila.

No nosso terceiro dia fomos visitar a ilha de Formentera. Os nossos bilhetes davam para viajar em qualquer horário, tanto na ida como na volta. Há dezenas de travessias por dia, praticamente a todas as horas, e nós tínhamos em mente apanhar o ferry das 11:30, mas por termos demorado a estacionar no parque gratuito, disponível junto ao IKEA, que estava cheio, acabámos por só embarcarmos no ferry das 12:45. Mas até que foi bom, porque nesse interim visitámos a parte velha da cidade, muito bonita e interessante. Essa parte antiga, sobranceira ao porto, está classificada como Património Mundial, pela UNESCO, e é localmente conhecida por dalt vila, que significa “cidade alta”, em catalão. De facto, o catalão é a língua local, em Ibiza e Formentera, e a maioria da sinalização tem inscrições em catalão, castelhano e inglês. Por exemplo, Eivissa é a denomização de Ibiza em catalão.

Em torno da dalt vila, na parte baixa da cidade, junto ao porto, encontrámos belas lojas de roupa de marca, restaurantes e cafés charmosos, comércio diversificado, e o teatro Pereira, com o café homónimo à entrada, ambos muito bonitos e bem decorados, com prevalência dos tons rubi, de estofos e cortinas, e o brilho dos lustres cruzando os espaços interiores. A esplanada do café é igualmente charmosa. E subindo para o interior da dalt vila, deparámos com a imponência do castelo e do seu enorme baluarte, a catedral de Santa Maria, a singularidade e a harmonia do emaranhado de pequenas ruas e praças, os edifícios bem conservados, quase todos pintados de branco, e o pequeno comércio de todo o tipo, visando, sobretudo, os incontáveis turistas que por ali circulam todos os dias.

Parque Natural de Ses Salines.

Depois disto, embarcámos para Formentera num ferry que faz a travessia em cerca de 40 minutos. Estava um dia muito ventoso, mas com sol, e a embarcação balançava bastante sobre o mar cavado. Em Formentera topámos com várias lojas onde se podem alugar scooters ou bicicletas, e nós hesitámos bastante sobre uma opção ou outra, mas chegámos à conclusão que, face ao vento, e tendo em conta que, mais uma vez, estávamos apenas de calções e t-shirts, o melhor seria mesmo irmos a pé. E pusemo-nos a caminho. Cinco quilómetros é a distância que separa o porto de La Savina (onde acostam as embarcações) e a praia de Ses Illetes, que era o nosso destino, uma distância relativamente curta para dois caminhantes como nós.

Entrámos no Parque Natural de Ses Salines, antes de chegarmos à fina língua de areia, a meio da qual se encontra a praia de Ses Illetes. A vegetação em torno, baixa e seca, é tipicamente mediterrânica. Observam-se, sobretudo, zimbros, pinheiros (daí o nome de ilhas Pitiusas), e comunidades endémicas de funcho marinho, nos sistemas dunares.

O Parque Natural de Ses Salines situa-se entre as duas Ilhas Pitiusas, abrange a parte sul de Ibiza, o norte de Formentera, e o mar entre ambas. E é precisamente na zona marítima — que preenche 75% do parque — que se encontra uma planta muito especial — a Posidonia oceanica. Esta planta, endémica do Mediterrâneo, absorve grandes quantidades de dióxido de carbono, convertendo-o em matéria vegetal, ao mesmo tempo que liberta oxigénio: diz-se que um metro quadrado de Posidonia oceanica produz tanto oxigénio como um hectare de floresta amazónica. Essa libertação limpa o oceano, conferindo às águas de Formentera o magnífico tom claro e a limpidez que as caracteriza. A Posidonia oceanica protege as praias da erosão das ondas e forma enormes tapetes (chamados prados), no fundo pouco profundo do oceano, fornecendo alimento a uma imensidão de criaturas marinhas.

Um banho excelente, apesar do vento, numa das praias mais bonitas da Europa.

O Parque Natural alberga também cerca de 210 espécies de aves, residentes e migratórias, e, graças a esta biodiversidade, foi classificado pela UNESCO, em 1999, como Património Mundial.

Em Es Cavall d’en Borràs, à entrada da tal fina língua de terreno, avistámos um belo veleiro que parecia ter encalhado há dias nas rochas, mas que, soubemos depois, está ali desde o ano passado, empurrado, tal como outras embarcações, pelo vento. E nós comentámos que o vento forte que nos brindou à chegada não deve ser algo inabitual em Formentera, pois vimos outros veleiros encalhados. Certamente, terá sido ainda vento o principal responsável pelo reduzido número de pessoas que encontrámos na praia de Ses Illetes: alguns praticantes de windsurf no mar, e meia dúzia de turistas bem protegidos com roupa de inverno contra o tempo agreste, em terra.

Nada que nos desanimasse ou intimidasse. Não seria esse sopro teimoso que nos impediria de provar aquele mar cristalino, em tons de azul e turquesa. E, claro, fomos ao banho. A água do mar estava agradabilíssima, e se estava desse modo naquele momento, imagine-se como será no pico do verão, com vento moderado ou fraco e temperatura quente… Depois de nos secarmos e vestirmos, fizemos o caminho de volta. Chegamos a La Savina com fome. Por sorte, topámos com um bar-restaurante — Art Cafè — com comida variada a preços módicos, e almoçámos mesmo ali. Eu comi uma dourada recheada no forno e a Fla comeu um hamburguer. Ambos estavam muito bons. Tomámos ainda cerveja, água, sobremesa (um excelente bolo de chocolate) e café, e pagámos 40€, um preço bem catita, atendendo às circunstâncias.

Cala Bassa.

Quando já íamos a meio caminho entre o bar e o ferry, a Fla notou que faltava o meu calção de banho. Voltei a correr para o sacar das costas da cadeira onde o deixara pendurado e esquecido, a secar. Rimo-nos bastante com a coincidência de aqueles mesmos calções terem já ficado esquecidos num carro, na ilha de La Palma, nas Canárias, quando íamos igualmente apanhar um navio (aqui)… Há coisas do arco de velha!

Finalmente apanhámos o ferry das 17:30 para Ibiza e, aqui chegados, em vez de retornarmos ao alojamento, decidimos ainda visitar duas praias que não tínhamos conhecido. Fomos até Sant Antoni e daí até Cala Bassa, uma praia abrigada e bonita, que, tal, como a maioria das praias mais conhecidas de Ibiza, deve estar super-lotada no verão; e passámos ainda por outra praia, a Cala Tarida, antes de regressarmos pela terceira vez àquela mais perto do nosso alojamento, a Cala Vedella. O sol já se tinha posto e o crepúsculo em breve daria lugar à noite cerrada.

Parámos o carro, a Fla tirou a roupa, vestiu o biquini e… foi ao banho! Nadou, saiu, voltou a entrar na água, deu mais umas braçadas e, quando pegou na toalha para se secar, declarou: “está boa!” Foi esta a forma de nos despedirmos de Ibiza. Já tínhamos atestado o carro, pelo que fomos para o alojamento para só sairmos no dia seguinte rumo ao aeroporto. Jantámos os hamburgueres de cordeiro e rematámos com fruta. Fomos deitar-nos cedo, pois no dia seguinte teríamos de acordar por volta das 5:30, entregar o carro e apanhar um voo, às 9:50, para Barcelona, e depois outro para Faro.

Fla na Cala Vedella.

Assim aconteceu. Chegámos a Faro por volta das 14:40. Tínhamos em mente almoçar no restaurante Os Manos, mas estava fechado, e acabámos por comer num restaurante em frente, A Tapita. Chegara ao fim mais uma viagem. Durante quatro dias estivéramos longe dos males do mundo — sem jornais, televisão e internet (excetuando o nosso melhor companheiro de viagens — o incrível google maps) — para voltarmos agora à triste realidade de um planeta flagelado por líderes populistas, antidemocráticos e autoritários. Não nos parece nada incomum que eles existam. O que nos surpreende é haver cada vez mais gente seduzida por estes loucos.

Temos refletido muito sobre isto — não nos interessa tanto a conjuntura atual, mas sobretudo saber (e as razões serão, certamente, variadas) o que leva algumas pessoas a amarem a liberdade enquanto outras nem por isso, ou, por outras palavras, perceber porque há tanta gente tolerante a políticos autoritários — e num futuro artigo retornaremos, com mais profundidade, a este tema intrigante.

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