O menino Toneca

Foto retirada de CNN Portugal.

Desde que começou a Guerra da Ucrânia, em fevereiro de 2022, passámos a conhecer uma série de comentadores e comentadoras, supostamente especialistas em relações internacionais, geopolítica, conflitos bélicos e indústrias de defesa. E se há coisa que esta guerra veio confirmar, é que mesmo os especialistas — talvez até sobretudo estes — não estão imunes aos preconceitos e às crenças em que estão imbuídos.

A CNN é a estação televisiva onde aparecem os mais acérrimos especialistas ideologicamente pró-russos. Dois deles, o major-general Agostinho Costa e o major-general Carlos Branco, são-no inequivocamente: Agostinho Costa antevê o colapso ucraniano em cada comentário e Carlos Branco aponta frequentemente a suposta intervenção americana na Ucrânia como a causa principal da invasão russa.

Mas há um terceiro comentador que não é tão explicitamente pró-russo quanto os acima referidos — embora acene afirmativamente a cabeça quando Agostinho Costa intervem e negativamente quando o comentário é de alguém pró-ocidental. Esse comentador, sobre quem recaiu uma notícia recente e pouco abonatória de um conhecido diário nacional (aqui), é o menino Toneca.

Toneca, que usa um anel proeminente numa das mãos papudas, gosta de puxar dos galões de historiador e professor universitário, não hesitando nos argumentos de autoridade, enquanto pontapeia sem piedade a gramática e a postura dos estadistas europeus, que, em sua opinião, não consideram devidamente a representatividade dos partidos populistas que se opõem ao apoio à Ucrânia.

Quando Zelensky foi atacado na sala oval, o menino Toneca disse que Trump tinha uma personalidade fleumática, não sendo, por isso, conveniente, para Zelensky, irritá-lo. Não surpreende que alguém que diz “deiam” e “intervido” se confunda com o significado de “fleumático”. Bem como não nos deve surpreender o apoio, quando não a admiração, que algumas pessoas nutrem por personagens deste calibre. O mundo está a passar por uma daquelas fases disruptivas onde vale tudo, desde as mentiras descaradas até as posições relativistas típicas dos radicais envergonhados, ou seja, dos sonsos. Entre estes, destaca-se, domesticamente, o menino Toneca.

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Autor: Jorge Costa

Fez percursos académicos nas áreas das Filosofia, Comunicação Social, Economia, Gestão dos Transportes Marítimos e Gestão Portuária, e estuda outras disciplinas científicas. Interessa-se igualmente por Arte, nas suas diversas manifestações, e também por viagens. Gosta de jogar xadrez. O seu autor preferido, desde que se lembra, é Karl Popper. Viveu em locais diversos, sobretudo em Portugal e no Brasil, pelo que se considera um cidadão do mundo. Atualmente vive em Cabanas, no Sotavento algarvio. Gosta de revisitar, sempre que pode, a bela cidade de Lisboa e, nela, o bairro onde nasceu, Alfama, o mais popular da capital, de traça árabe, debruçado sobre o Tejo — esse rio mítico, imortalizado por Camões e Pessoa, poetas maiores da Língua Portuguesa. Não é, porém, um bairrista, característica que deplora, a par dos clubismo, partidarismo e nacionalismo. Ama a Liberdade.