Três Anos de Guerra

Foto do portão de um armazém numa rua de Cabanas, Tavira.

Voltaram a transformar a Rússia no que ela

sempre foi: uma enorme prisão.

Giuliano da Empoli, O Mago do Kremlin.

Completam-se hoje três anos sobre a invasão russa em larga escala da Ucrânia. Não se conhece exatamente o número de vítimas, a não ser que ascendem, pelo menos, às muitas centenas de milhar. Quem conhece minimamente o percurso de Putin sabe que os que perecem sob as suas ações não são apenas vítimas de guerras — seja na Chechénia, na Ingúchia, na Ossétia, na Síria ou na Ucrânia. São também os seletivamente assassinados sob as suas ordens, diretas ou indiretas: oligarcas, opositores políticos, jornalistas, gente comum executada como exemplo ou morta em atentados de falsa bandeira (Satter, 2016) e recrutas sujeitos à disciplina imposta pelos avozinhos — militares mais velhos que torturam e assassinam barbaramente qualquer jovem que ponha em causa a lei das casernas (Politkovskaya, 2004).

O célebre campeão mundial de xadrez, Garry Kasparov, descreve assim os governos de Putin: a hierarquia rígida, a extorsão, a intimidação, uma imagem de duro, uma longa sequência de mortes convenientes entre os principais críticos, eliminação de traidores, o código de sigilo e lealdade, e, acima de tudo, um mandato para manter a entrada de receitas. Por outras palavras, uma máfia (Kasparov, 2015).

A liderança assassina da Rússia pode, portanto, considerar-se a causa próxima da invasão da Ucrânia pelo exército russo. No entanto, há uma causa mais profunda: a convicção de que a Ucrânia pertence e há-de sempre pertencer à Rússia. A tentativa de controlo da Ucrânia pela Rússia (e quando não é possível o controlo, a tentativa de destruição) é muito antiga, tem séculos, vem ocorrendo desde o tempo dos czares, passando pelos sovietes, até hoje. Após o colapso da União Soviética, os ucranianos manifestaram fortemente em referendo (mais de 92% dos votos), o seu desejo de independência, mas, mais de três décadas depois, foram de novo atacados. A propaganda oficial russa, para contentar o povo e justificar a invasão internacionalmente, diz-nos que a Rússia está a responder a uma ameaça da NATO. Mas os ideólogos e pseudo-historiadores em que Putin se inspira consideram a Ucrânia uma pequena Rússia, invocam a origem comum dos dois povos, e olham para qualquer tentativa de emancipação ucraniana como uma traição à Rússia. É esta a razão profunda desta guerra.

Porém, a ideia de que ucranianos e russos são o mesmo povo não corresponde aos factos — é um mito incutido há muito na sociedade russa com o intuito de dominar a Ucrânia. Os historiadores independentes referem que o Rus de Kyiv, que já existia no século X, se dividiu em vários estados semi-independentes. Os mais importantes desses estados eram a Galícia-Volínia, hoje parte de território ucraniano e parte do sul da Bielorrússia; a Grande Novgorod, a noroeste do antigo reino de Kyiv; e o principado de Vladimir — a nordeste do que viria a ser Moscovo — o núcleo da moderna Rússia.

Os russos podem, pois, considerar que que as suas religião, linguagem escrita, literatura e arte tiveram origem no Rus de Kyiv, mas os viajantes de São Petersburgo e de Moscovo deparavam-se na região de Kyiv — ainda antes de esta ser invadida pelos mongóis, no século XIII — com língua, canções e cultura diferentes daquelas que conheciam nas suas terras. Mais tarde, já no último quartel do século XV, Ivan, o Grande, declarou-se herdeiro dos príncipes de Kyiv para reivindicar o direito de governar Novgorod — e assim nascia o mito da origem russa em Kyiv, que nunca mais abandonaria o imaginário russo. Para os russos a Ucrânia não existe porque Kiev e, logo, os ucranianos são russos (Plokhy, 2023).

É por isso que o objetivo primordial de Putin quando invadiu a Ucrânia em grande escala há três anos (como se sabe, as intervenções na Ucrânia já tinham começado muito antes) não era a conquista de território, mas a destruição da identidade ucraniana, visando ocupar Kiev e colocar no poder um presidente pró-russo que implementasse as políticas favoráveis a Moscovo. A narrativa do Kremlin, segundo a qual a invasão da Ucrânia foi uma resposta ao avanço da NATO, não passa, pois, de propaganda que não colhe entre os que conhecem a realidade histórica, mas se replica entre os inimigos das sociedades abertas.

Esta tentativa de destruição da identidade dos povos subjugados pelos russos tem uma longa tradição e é conhecida por russificação. Aconteceu na Estónia, na Letónia e na Lituânia, durante o período soviético, e acontece nos territórios que Putin vem anexando desde 2008, seja na Geórgia, na Crimeia ou no Donbass. O instrumento principal da russificação é obrigar as pessoas a falarem russo, proibindo as línguas locais. Uma língua diferente é considerada língua dos porcos e os que se opõem à russificação são considerados nacionalistas, fascistas ou, simplesmente, nazis. (Oksanen, 2024).

Daí não ser de todo surpreendente que os russos considerem o governo em Kiev como nazi — o que é verdadeiramente surpreendente é o número de pessoas que nas sociedades livres e democráticas replicam a narrativa russa. Claro que há nazis na Ucrânia. Há até ucranianos-nazis celebrados (Stepan Bandera é o exemplo mais citado), não tanto por serem nazis, mas sobretudo por terem lutado pelas independência e identidade do país. Também é verdade que houve elementos da extrema-direita na linha da frente da revolução EuroMaiden, por exemplo, quando os ucranianos obrigaram o presidente pró russo, Yanukovitch, compadre de Putin, a fugir para Moscovo. Mas isso não quer dizer que o governo ucraniano seja nazi, muito pelo contrário. Nem sequer quer dizer que a ideologia nazi tenha grande representação na sociedade ucraniana, uma vez que o partido Liberdade, de extrema-direita, obteve apenas 1,62% dos votos nas ultimas eleições na Ucrânia. (Yekelchyk, 2020).

Se há um governo nacionalista, fascista e nazi no mundo, esse governo é o russo. Os nazis procuraram o extermínio dos judeus; Putin procura exterminar os ucranianos. As evidências de tentativa de genocídio do povo ucraniano são inequívocas, consubstanciadas em atos de terror, como os bombardeamentos deliberados sobre a população civil ou a deportação forçada de mais de meio milhão de crianças, e é por isso que recai sobre Putin um mandado de captura emitido pelo Tribunal Penal Internacional. A agressão russa é apoiada por grande parte do povo, por inúmeros intelectuais e por ideólogos como Alexander Dugin, que considera a Ucrânia uma ficção venenosa, Eduard Limonov, para quem a Ucrânia precisa de ser aniquilada, e Yegor Kholmogorov que advoga, simplesmente, o desmembramento e a destruição da Ucrânia. (Finkel, 2024).

A luta da Ucrânia é, pois, existencial. É uma luta para manter as suas fronteiras, mas sobretudo as suas língua, cultura e capacidade de decidir sobre o próprio destino, enfim, uma luta por uma identidade que remonta ao Rus de Kyiv e ao aparecimento daquele conjunto de aventureiros, homens livres e guerreiros a quem chamaram cossacos. Ameaçada ancestralmente por um país que a considera a Pequena Rússia, a Ucrânia só poderia reagir a esta nova invasão como reage um animal acossado: lutar ou fugir. O líder ucraniano, apoiado pela população, optou pela primeira possibilidade — e o custo dessa ousadia tem sido, como se sabe, muito elevado.

Ao contrário de Putin, a vida humana é valiosa para Zelensky. Tendo sobrevivido a dez atentados desde o início da guerra (Rudenko, 2022), a sua preocupação principal é evitar ao máximo a perda de vidas humanas. É por isso que é tão difícil admitir que tenha de ceder território, depois de tanta gente ter morrido a defendê-lo, enquanto, por outro lado, a continuação da luta implica ainda mais mortes. É este o terrível dilema com que Zelensky se confronta. Inevitavelmente, embora sem poder verbalizá-lo publicamente, Zelensky deplora o apoio a conta-gotas que recebeu de um Joe Biden, sempre temeroso, que apenas em final de mandato permitiu que os ucranianos usassem os mísseis de longo alcance em território russo. As hesitações americanas e europeias ficarão para sempre ligadas ao desfecho deste conflito.

Agora, com o ressurgimento de Trump, Putin tem finalmente uma oportunidade de salvar a face, e Zelensky tem de ultrapassar as suas ambições maximalistas, esquecer a recuperação total de território e agarrar-se ao fundamental: obter garantias de segurança para que a Federação Russa não volte a atacar, depois de alcançado uma acordo de paz, e assim manter a independência e a identidade ucranianas. Não sabemos até que ponto ele pode trocar as terras raras por um acordo que não lhe seja totalmente desfavorável, uma vez que Trump quer essas terras em troca da ajuda que os Estados Unidos já deram à Ucrânia durante estes três anos de guerra, e não em troca de garantias de segurança para o futuro. Trump pode pressionar Zelensky ameaçando-o com o corte de material militar, sendo crítico aquele que é necessário para as baterias que protegem as principais cidades ucranianas e, sobretudo, ameaçando cortar as informações disponibilizadas pelo sistema de telecomunicações Starlink, cruciais para as operações do exército ucraniano. Zelensky poderá mesmo não resistir a uma eventual pressão americana para o afastar do poder.

Seja como for, os líderes ocidentais, sejam europeus ou americanos, deveriam garantir a segurança da Ucrânia, depois do monumental falhanço do Memorando de Budapeste sobre Garantias de Segurança, assinado em 5 de dezembro de 1994. É um dever moral básico, implicitamente reconhecido por Bill Clinton, quando, em 2023, se mostrou arrependido por ter pressionado a Ucrânia a entregar as armas nucleares à Rússia. Os subscritores do memorando não garantiram a segurança da Ucrânia, traindo-a, e, com Trump, os ucranianos são traídos duplamente. Trump — cuja ligação à Rússia remonta ao início dos anos 90, quando oligarcas oriundos do KGB o salvaram da falência (Belton, 2020) — é uma desgraça para o mundo, para a América, e particularmente para a Ucrânia.

O Ocidente nunca entendeu o problema ucraniano. Fechou os olhos às atrocidades internas e externas de Putin, na esperança de uma normalização de relações, não percebendo que estava a lidar com o líder de uma máfia. Quando, finalmente, há três anos, reagiu, fê-lo timidamente. Agora, com Donald Trump, a esperança da Ucrânia — e de outros povos ameaçados pela Federação Russa, como os georgianos, os moldavos e os países bálticos — talvez não resida apenas numa Europa que acordou demasiado tarde. Há que ter em conta países influentes como o Japão, a Coreia do Sul, a Austrália, o Canadá e a Turquia. Não sabemos se conseguirão pressionar o imprevisível Trump para que este garanta à Ucrânia, num volte-face pouco provável, a segurança ou a ajuda de que ela tanto necessita, assim como não sabemos, sequer, se Trump conseguirá acabar com a guerra, como tanto deseja.

Mas sabemos que é sobretudo nestes países que recai a esperança ucraniana. Os europeus, com o apoio de outras democracias, são os únicos que podem ajudar a Ucrânia se a esta não restar outra alternativa a não ser continuar a luta armada. Este apoio será necessário, mesmo contra a vontade de Trump. Muitos consideram que é um erro enfrentar e irritar um egocêntrico como Trump. Nós pensamos o contrário. É necessário enfrentar as personalidades autoritárias logo que possível, pois será mais difícil e custoso fazê-lo mais tarde. Isto revelou-se verdadeiro relativamente a Putin, que subiu a parada face à inércia dos líderes ocidentais, e continua a ser verdadeiro em relação a Trump, que não deixará de fazer o que quiser, se lho permitirem. As reiteradas mentiras, as tentativas de extorsão e a declarada intenção de saquear matérias primas e territórios, provam-no.

Trump, eleito depois de ter tentado destruir a democracia americana — e, só por isso, o pior presidente da História da América —, acusado em casos de falsificação, obstrução à justiça e conspiração, procura chantagear o mundo para tornar a “América grande de novo”. O que não é novo é a predileção que os autoritários como ele têm pelos verdadeiros autocratas. Trump admira homens fortes à custa dos mais desprotegidos, seja na Ucrânia ou em Gaza. E é por isso que é preciso enfrentá-lo. Mas, como? Desde logo, denunciando as mentiras que diga a nosso respeito, rejeitando firmemente as interferências na forma como nos governamos e, sobretudo, não alimentando qualquer ilusão a respeito do seu comportamento. Devemos preparar-nos para o pior e contar apenas com nós próprios. A Europa deve, desde já, investir na criação de condições para se defender sozinha.

Isto é possível, se houver vontade política. E como a defesa da Europa está intimamente ligada à defesa da Ucrânia, teremos inevitavelmente que ajudar os ucranianos, enquanto estes quiserem resistir. Teremos de acreditar que a identidade ucraniana prevalecerá, pois são os próprios ucranianos que nos provam que tal é possível, todos os dias. Uma Ucrânia, mesmo que diminuída em território (veremos até que ponto) mas reforçada em identidade e independência, constituirá uma derrota para os russos, pois sempre foi a identidade e a independência da Ucrânia que eles procuraram destruir. Claro que nunca irão dizê-lo, irão sempre cantar vitória, mas era esse o objetivo, frustrado pelos valorosos ucranianos, que Putin visava com a invasão iniciada em 24 de fevereiro de 2022. Os ucranianos poderão ser felizes, mesmo perdendo 20% do território, desde que saibam que os deixarão viver em paz. Isso só será possível se a Ucrânia obtiver garantias de segurança — e é por elas que Zelensky se baterá até ao limite das suas forças.

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Referências:

  • Anna Politkovskaya, A Rússia de Putin, Elsinore, Lisboa, 2022. (Ed. orig., 2004).
  • Anna Politkovskaya, Um Diário Russo, Temas e Debates, Lisboa, 2022. (Ed. orig., 2007).
  • Catherine Belton, Os Homens de PutinComo o KGB se apoderou da Rússia e depois atacou o Ocidente, Ideias de Ler, Lisboa, 2022. (Ed. orig., 2020).
  • Christopher Miller, The War Came to Us — Life and death in Ukraine, Bloomsbury, Londres, 2023.
  • David Satter, Quanto Menos Soubermos Melhor Dormimos, Zigurate, Lisboa, 2022. (Ed. orig., 2016).
  • Eugene Finkel, Intent to Destroy — Russia’s Two-Hundred-Year Quest to Dominate Ukraine, Basic Book, Londres, 2024.
  • Garry Kasparov, O Inimigo que vem do Frio — A liderança de Putin e a grande ameaça à paz mundial, Clube do Autor, Lisboa, 2022. (Ed. orig., 2015).
  • Giuliano da Empoli, O Mago do Kremlin, Gradiva, Lisboa, 2022.
  • Michel Eltchaninoff, Na Cabeça de Putin, Zigurate, Lisboa, 2022 (Ed. orig., 2015).
  • Sofi Oksanen, A Guerra de Putin contra as Mulheres — uma história antiga de violência e opressão, Objetiva, Lisboa, 2024.
  • Sergii Rudenko, Volodymyr Zelensky — Biografia, Casa das Letras, Alfragide, 2022.
  • Serhii Plokhy, The Russo-Ukrainian War, Allen Lane, Dublin, 2023
  • Serhy Yekelchyk, Ucrânia — O que toda a gente precisa de saber, Edições 70, Lisboa, 2020. (Ed. orig., 2015).

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51ª Volta ao Algarve

Jonas Vingegaard, um dinamarquês tímido e simpático, é o grande vencedor da 51ª Volta ao Algarve.

Terminou hoje a 51ª Volta ao Algarve, que contou com a participação de alguns dos melhores ciclistas mundiais de estrada, com destaque para Jonas Vingegaard, duplo vencedor da Volta à França (2022, 2023), que justificou a sua condição de favorito, arrebatando o primeiro lugar na classificação geral da Algarvia.

As provas de ciclismo dão grande colorido e animação às estradas onde se realizam. O Algarve não é exceção.

A caravana desta edição, tal como as anteriores, percorreu os principais burgos do Algarve, de Barlavento a Sotavento, com três etapas para sprinters, duas para trepadores e uma mista. A primeira etapa foi anulada, depois de um erro crasso da organização. A segunda foi ganha por Jan Christen, no Alto da Fóia. A terceira etapa, discutida ao sprint, terminou em Tavira, uma cidade com uma longa tradição no ciclismo, onde brilhou o belga, vencedor da etapa, Jordi Meeus. A quarta etapa terminou ao sprint, em Faro, e o vencedor foi o inesperado Milan Fretin.

O pequeno Vingegaard, em Loulé.

Mas a decisão da prova estava guardada para o último dia, através de um inédito contrarrelógio de 19,6 quilómetros, concluído no Alto do Malhão. Aqui destacaram-se os melhores corredores do pelotão, que pontuam entre os melhores do mundo: Vingegaard (1º na etapa), Wout van Aert (2º), João Almeida (6º) e Primoz Roglic (12º). Geraint Thomas, o britânico vencedor do Tour em 2018, mostrou estar em baixo de forma e não conseguiu melhor que o nonagésimo primeiro posto.

Primoz Roglic em pleno contrarrelógio.

Feitas as contas, o pódio final da Volta ao Algarve foi partilhado por Jonas Vingegaard, que foi o grande vencedor; João Almeida, segundo, com mais 15 segundos; e Laurens de Plus, terceiro, com mais 24 segundos que o vencedor. Roglic, tetra vencedor da Vuelta, ficou no 8º posto e Geraint Thomas não foi além do 95º lugar. Para o ano há mais.

João Almeida na subida para o Malhão.

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Galopim

Foto retirada de: https://www.ulisboa.pt/evento/vamos-falar-de-geologia

É o pai da geologia em Portugal, uma ciência não muito popular, mas um ramo do saber abrangente, em que os estudiosos mais competentes necessitam de substanciais noções de física, química e biologia entre outras disciplinas. Galopim de Carvalho é um desses geólogos, professor jubilado, que mantém ainda hoje, aos 93 anos, a curiosidade da juventude. E é essa curiosidade e esse gosto pela aprendizagem que procurava transmitir aos seus alunos e agora transmite aos seus leitores — sejam aqueles que leem os seus livros ou os que o seguem no facebook (espaço que usa também para apresentar receitas de pratos típicos do seu Alentejo natal). A curiosidade é o motor do conhecimento, e Galopim é um eterno curioso.

O livro que melhor caracteriza a faceta didática de Galopim de Carvalho talvez seja Como Bola Colorida, cujo título foi adotado de um célebre poema do, igualmente cientista, Rómulo de Carvalho, conhecido pelo pseudónimo de António Gedeão, a quem Galopim dedica o livro. Trata-se de uma obra para um público alargado: para os curiosos, em geral, mas também para os estudantes e professores de biologia, em particular.

Inicialmente publicado em 2007 (houve uma edição posterior, em 2024), o livro contempla resumidamente todas as áreas da geologia, sendo por isso bastante abrangente. O leitor curioso não vai lembrar-se de todos os inúmeros vocábulos que identificam minerais, pedras preciosas e semi-preciosas quando terminar o livro. Mas vai ficar a conhecer quase tudo sobre a Terra: como se formou, de que partes é constituída (como um cereja), porque os continentes se movem e existem montanhas e abismos, como se formam as rochas magmáticas, sedimentares e metamórficas, de que são constituídos os solos, e muito mais.

É tudo uma questão de tempo, muito tempo. Pouco se consegue ver à escala humana, porque o tempo geológico mede-se em milhões, centenas de milhões, milhares de milhões de anos.

António Galopim de Carvalho defende que se deve atribuir uma maior importância à disciplina de Geologia no ensino básico e no secundário. Deveriam ouvi-lo. Ele é um ilustre cidadão do mundo, e o brilho do seu olhar é o mesmo do da criança que brinca dentro dele com uma bola colorida.

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A nossa edição:

A. M. Galopim de Carvalho, Como Bola Colorida, Âncora, Lisboa, 2024.

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