
“Acossado”, pode ser uma das palavras mais adequadas para caracterizar a situação em que se encontra Volodymyr Zelensky desde 24 de fevereiro de 2022. Tendo como principal objetivo do seu mandato, iniciado em maio de 2019, acabar com a guerra no Leste da Ucrânia, viu o seu país ser invadido pelos exércitos de um dos maiores assassinos da Europa pós-Hitler, Vladimir Putin. Como toda a gente sabe, Zelensky teve oportunidade de se pôr a salvo, mas manteve-se no seu posto, sabendo de antemão que procurariam eliminá-lo.
De então para cá, a ação de Zelensky desenrola-se entre dilemas terríveis. Precisa de pedir constantemente ajuda externa, que é sempre pouca, mas não pode exigi-la, sob pena de ser considerado ingrato, arrogante ou irrealista (apesar de os ucranianos estarem a dar a vida não apenas pela integridade e sobrevivência do seu país, mas também pela integridade europeia, pela sobrevivência dos valores de uma Europa livre); tem uma necessidade imperiosa de reconquistar território, mas não pode fazê-lo a todo o custo porque, para ele, — ao contrário do que acontece com o facínora do outro lado — a vida humana é valiosa; sente a dor de cada soldado morto, mas precisa a todo o transe de novos combatentes, sabendo que muitos deles morrerão; tem de manter e melhorar o sistema democrático em funcionamento, combater a corrupção interna, mas não pode desviar a atenção da frente de batalha e da estratégia de guerra; tem que levantar a moral dos combatentes e do povo e não permitir que se instale a descrença e a depressão, o que se torna cada vez mais difícil à medida que a guerra avança e o apoio ocidental tarda, sempre tarda.
Muitos consideram ridículo comparar Zelensky com Churchill; ironizam e desacreditam-no por ser um mero comediante; acusam-no de ser corrupto. Estes são na sua maioria esmagadora extremistas de esquerda ou de direita para quem a Liberdade é relativa. Mas Zelensky tem feito tudo o que é preciso e já provou ser um estadista. A sua luta não é apenas pelos seu povo e seu país; ele bate-se igualmente pela democracia, pela justiça e pela liberdade, valores que são — ou deveriam ser — inegociáveis, também, para cada um de nós.
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