Olga Tokaczurk

Capas das edições brasileiras de dois excelentes livros de Olga Tocaczurk (Nobel em 2018). É curioso atentar às traduções. “Correntes” (Todavia) foi o título que atribuíram no Brasil a “Flights” — vencedor do Man Booker Prize — que, por sua vez, foi traduzido em Portugal por “Viagens” (Cavalo de Ferro).

Além das boas recordações (praticamente correu tudo bem) trouxemos, desta viagem ao Brasil, 102 livros. Dois deles de Olga Tokaczurk, que não conhecíamos. Embora habitualmente só incluamos ensaios na categoria “livros”, desta feita abrimos uma exceção: é que esta escritora polaca (polonesa, para os amigos brasileiros) está no nível mais alto entre romancistas, ombreando na qualidade literária com autores superlativos, como Fiódor Dostoievsky, Guimarães Rosa ou Thomas Mann, cada qual com seu estilo próprio, evidentemente. Esta afirmação ousada pode ser provocada pelo efeito surpresa, ou talvez não.

Imaginação, ousadia, rasgo, estilo, rigor e conhecimento (inclusive da “alma” humana — Tokaczurk é psicóloga): estes ingredientes fazem parte de um vasto repertório pessoal e literário.

Já vos aconteceu lembrarem-se de sonhos incríveis quando acordam, mas que depois se desvanecem e já não conseguem recordar? Pois Olga Tokarczuk aparentemente consegue. A sua escrita é uma miríade de atalhos entre o caminho do sonho (ou o pesadelo) e o da realidade. Será esta um sonho ou serão os sonhos reais? A única coisa que é possível dizer é que tudo está interligado.

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Ps. Ainda no Brasil, lemos também um excelente livro de Camila Sosa Villada, O Parque das Irmãs Magníficas, que em Portugal recebeu o título As Malditas (Las Malas, em castelhano). Camila não possui todos os recursos literários de Olga, mas sobra-lhe coragem. Na escrita e na vida.

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Autor: Jorge Costa

Fez percursos académicos nas áreas das Filosofia, Comunicação Social, Economia, Gestão dos Transportes Marítimos e Gestão Portuária, e estuda outras disciplinas científicas. Interessa-se igualmente por Arte, nas suas diversas manifestações, e também por viagens. Gosta de jogar xadrez. O seu autor preferido, desde que se lembra, é Karl Popper. Viveu em locais diversos, sobretudo em Portugal e no Brasil, pelo que se considera um cidadão do mundo. Atualmente vive em Cabanas, no Sotavento algarvio. Gosta de revisitar, sempre que pode, a bela cidade de Lisboa e, nela, o bairro onde nasceu, Alfama, o mais popular da capital, de traça árabe, debruçado sobre o Tejo — esse rio mítico, imortalizado por Camões e Pessoa, poetas maiores da Língua Portuguesa. Não é, porém, um bairrista, característica que deplora, a par dos clubismo, partidarismo e nacionalismo. Ama a Liberdade.