Comportamento

Robert Sapolsky.

O que nos induz a um determinado comportamento, sobretudo em situações-limite, como a de “matar ou morrer”? Aquilo que fazemos num momento, por exemplo, apertar um gatilho, tem causas complexas que remontam de frações de segundo a milhares de anos. As causas imediatas são as que se relacionam com a anatomia cerebral de cada indivíduo e as mais remotas prendem-se com a forma como evoluímos enquanto espécie. Pelo meio temos as hormonas, o ambiente na infância (sobretudo) e ao longo da vida, a cultura em que estamos inseridos. Tudo depende do contexto. Temos predisposição genética e ambiental para agir de determinado modo, mas é em última análise o contexto (o momento), que inclui todas as varáveis citadas acima e outras, que potencia ou não essa forma de agir.

O livre-arbítrio é algo muito difícil de conceber dado que todos somos condicionados pelo contexto, sempre. De acordo com a perspetiva de Sapolsky, é provável que daqui a quinhentos anos os nossos descendentes achem as condenações que fazemos de certos comportamentos tão estúpidas quanto nós achamos hoje as que se faziam há quinhentos anos; por exemplo, de pessoas com epilepsia que se dizia estarem possuídas pelo demónio. Ou seja, é possível, e até previsível, que no futuro as pessoas não sejam consideradas culpadas por comportamentos que agora consideramos repulsivos, monstruosos ou repugnantes. Esse desafio já se coloca hoje nos sistemas judiciais mais evoluídos.

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A nossa edição:

Robert M. Sapolsky, Comportamento, Temas e Debates, Círculo de Leitores, Lisboa, 1ª edição, 2018.

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Autor da foto: L.A. Cicero, em
https://news.stanford.edu/2017/05/08/biologist-robert-sapolsky-takes-human-behavior-free-will/

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Autor: Jorge Costa

Fez percursos académicos nas áreas das Filosofia, Comunicação Social, Economia, Gestão dos Transportes Marítimos e Gestão Portuária, e estuda outras disciplinas científicas. Interessa-se igualmente por Arte, nas suas diversas manifestações, e também por viagens. Gosta de jogar xadrez. O seu autor preferido, desde que se lembra, é Karl Popper. Viveu em locais diversos, sobretudo em Portugal e no Brasil, pelo que se considera um cidadão do mundo. Atualmente vive em Cabanas, no Sotavento algarvio. Gosta de revisitar, sempre que pode, a bela cidade de Lisboa e, nela, o bairro onde nasceu, Alfama, o mais popular da capital, de traça árabe, debruçado sobre o Tejo — esse rio mítico, imortalizado por Camões e Pessoa, poetas maiores da Língua Portuguesa. Não é, porém, um bairrista, característica que deplora, a par dos clubismo, partidarismo e nacionalismo. Ama a Liberdade.