Marx e os Anarquistas

A teoria do definhamento do Estado é profundamente irrealista, e penso que poderá ter sido adotada por Marx e Engels essencialmente para obterem vantagem em relação aos seus rivais. Os rivais a que me refiro são Bakunin e os anarquistas; Marx não gostava que o radicalismo de quem quer que fosse ultrapassasse o seu próprio. Como Marx, também eles aspiravam à derrocada da ordem social existente mas dirigiam os seus ataques contra o sistema político-legal, em lugar do sistema económico. Para eles, o Estado era o inimigo que se tornava imperioso destruir. Não fossem os seus concorrentes anarquistas, e Marx, partindo das suas próprias premissas, teria chegado facilmente ao reconhecimento da possibilidade de que a instituição do Estado, sob o socialismo, desempenhasse funções novas e indispensáveis, como seja as de salvaguardar a justiça e a liberdade que lhe foram conferidas pelos grandes teóricos da democracia.

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Karl Popper, A Sociedade Aberta e Seus Inimigos, vol. II, Editorial Fragmentos, Lisboa, 1993, p. 317-18 (nota 8 ao cap. 17).

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Autor: Jorge Costa

Fez percursos académicos nas áreas das Filosofia, Comunicação Social, Economia, Gestão dos Transportes Marítimos e Gestão Portuária, e estuda outras disciplinas científicas. Interessa-se igualmente por Arte, nas suas diversas manifestações, e também por viagens. Gosta de jogar xadrez. O seu autor preferido, desde que se lembra, é Karl Popper. Viveu em locais diversos, sobretudo em Portugal e no Brasil, pelo que se considera um cidadão do mundo. Atualmente vive em Cabanas, no Sotavento algarvio. Gosta de revisitar, sempre que pode, a bela cidade de Lisboa e, nela, o bairro onde nasceu, Alfama, o mais popular da capital, de traça árabe, debruçado sobre o Tejo — esse rio mítico, imortalizado por Camões e Pessoa, poetas maiores da Língua Portuguesa. Não é, porém, um bairrista, característica que deplora, a par dos clubismo, partidarismo e nacionalismo. Ama a Liberdade.